Capitulo 1 - PARTE 2

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Os meus olhos também não estavam acreditando, eu estava completamente paralisado. Não conseguia mexer um músculo se quer, tanto que minha mandíbula ficou arqueada por um tempo. Parecia coisa de filme ou jogo de videogame, eu acho que essa partida de futebol ficará para história.

A câmera se aproxima mais uma vez e deu para ver as pessoas atacando umas às outras. Várias delas com feridas abertas pelo corpo, com o sangue escuro saindo de seu corpo. Os disparos ficaram cada vez mais intensos, agora com disparos de fuzil, altos e em bom som, até que a televisão saiu do ar totalmente, deixando nos três olhando para estática que aparecia na tela.

— Meu Deus! — Disse minha mãe, que estava atrás de mim. A quanto tempo ela estava lá?

Eu não conseguia entender nada, tentava parar de olhar para a tela estatística da TV, mas meus olhos preocupados buscavam respostas sobre meu tio.

— Vamos para lá no estádio! — Gritou meu pai. Parecia que toda a calma se tornou em pânico, já que sua irmã estava naquele estádio. Ele tinha um carinho enorme por ela, sua irmã mais velha, cuidou dele quando minha avó não podia.

Minha tia Sônia, sempre foi muito doce com todos, tinha um jeitinho peculiar que todos gostavam. Ela amava mais que tudo crianças, desde pequena quando cuidava do meu pai. Porém o destino não foi nem um pouco majestoso com ela, ela não podia ter filhos. Então, desde que nasci, ela vem cuidando muito bem de mim, meu tio e ela, tiveram um carinho enorme por mim e eu por eles.

— Mas... Pai, você não está vendo a confusão?

— Se vocês não forem, eu irei sozinho!

Tentei imaginar como estava seu coração, palpitando, rápido e com medo, um aperto quase insuportável, como a adrenalina a mil. Porque admito, eu também me sinto assim. Enquanto corríamos para o carro, um Siena preto, pelo qual ele tinha muito zelo, eu vi várias pessoas se trancando dentro de suas casas, o medo havia tomado conta da vizinhança por completo dessa vez.

Foi a primeira vez que vi meu pai em total pânico, ele dirigia sem dar conta de tudo que estava acontecendo pelos lados, minha mãe tentava ligar para meus tios, com uma expressão de negatividade no rosto, mostrando que não havia resposta deles. Parecia que eu era o único a olhar para as casas ao lado das ruas, em pouco tempo e sem falar mais nada, o carro já ia na casa dos cem quilômetros por hora. Comecei a me assustar por conta da velocidade, e por causa das ruas estarem praticamente vazias em plena quarta-feira. Parecia que o mundo todo estava fugindo, com medo do que estava acontecendo a poucos metros daqui, menos nós.

— Pai... vai mais devagar!

Meu pedido foi em vão, ele olhava para estrada vidrado, não prestava a atenção em mais nada. Com o pé no acelerador, podia-se ver a multidão correndo e o estádio na linha do horizonte.

Por pouco, meu pai teria atropelado a multidão que estava correndo para se proteger, com o freio que aconteceu, pode ver o rosto da maioria africanos.

— Pai...

— Silêncio! — Ele pisava no acelerador sem se importar com as pessoas que estavam em nossa frente.

Quando chegamos bem à frente do estádio, ele finalmente diminuiu a velocidade. Só dava para ver a confusão, pessoas correndo para fora do estádio, gritando de forma histérica. As sirenes das ambulâncias e os carros da polícia faziam um coro de terror aumentar, os bombeiros haviam acabado de chegar pelas ruas laterais.

— Tem algum médio? — Gritou um policial com um megafone em mãos, que havia subido em uma das viaturas. — Precisamos de ajuda aqui!

— Amor... — Disse meu Pai, em direção a minha mãe. — Vamos?

— Está bom... — respondeu ela.

— Ei! — Gritou meu pai, com a cabeça para o lado de fora da janela recém aberta. — Dr. Augusto Gomes!

Todos nós saímos do carro, sem se importar em trancar as portas, só eu percebi a besteira que estavam cometendo.

— Pai... A porta.

Minha voz não pode ser ouvida em meio à confusão das sirenes e gritos que não deixavam ouvir meus próprios pensamentos.

Em meio à confusão enquanto chegavam perto da viatura.

— Pai...

Não havia mudado muito coisa, ainda era invisível como na vida normal.

O policial que lá estava desceu da viatura, e disse em meio às pessoas correndo:

— Venha comigo, por favor! ****

Nos três foram para dentro do estádio, com vários polícias escoltando. Eles usavam fuzis de guerra, mas eu ainda não entendia o porquê de armamento tão pesado.

Admito que o medo estava começando a me dominar, a cena era de total massacre, corpos ensanguentados pelo chão, havia ainda muitas pessoas correndo em direção ao outro portão, e até agora nenhum sinal da minha tia em meio à confusão. Minha mãe tentava ligar para ela pelo celular, mas era em vão, o celular dela dava desligado.

Ele e o policial chegaram perto de um corpo com ferimento de bala na cabeça, a boca aberta e torta, os olhos arregalados totalmente brancos, com veias e artérias aparentes e minando um líquido preto junto às feridas. Cheiro de podre dominava o lugar.

— Que porra é essa?! — Disse o policial. — Um desses me atacou a pouco tempo.

— Não faço ideia... — ele chega perto do corpo.

Dava para ver que o cheiro lhe incomodava as narinas, e as minhas também, mesmo estando longe.

Havia mais um corpo, impregnado, do lado daquele. Não tinha furo de bala, mas tinha grandes ferimentos na região do pescoço. Parecia estar morto, mas com pequenos movimentos de espasmo no braço esquerdo, mostrando vida. Cada vez seus espasmos ficavam mais violento, e se espalharam para outras partes do corpo. Pequenos gemidos saiam de sua boca, chamando atenção do meu pai e dos policiais que nos acompanhavam. Mesmo com os ferimentos tão graves pelo corpo, será que era possível ele ainda possuir vida? Em um piscar de olhos meu pai estava com os dentes do ferido em seu ombro.

— aaaah!! — ele gritava, enquanto eu estava paralisado de medo. Queria correr, mas minhas pernas trêmulas não permitiam tal fato.

Meu pai tentava puxar seu ombro, de qualquer maneira, e o homem com todas as feridas acabaram levando um pedaço de seu ombro. Mas sua fome não estava saciada, avançou mais uma vez contra meu pai. Mas antes que meus olhos pudessem acompanhar, o som do tiro ecoou em meus ouvidos, e o som da criatura, que cai no chão totalmente inconsciente logo em seguida.

— Amor... — minha mãe se abaixa, dava pra ver o pânico em seus olhos que deixava algumas lágrimas escorrer em suas bochechas.

Eu também estava em pânico, mas que eu podia entender. Queria saber o que estava acontecendo, e o que acabou de morder meu pai, que agora estava perdendo muito sangue pelo ombro. Era horrível vê-lo daquela forma, dava para ver um sua ossada de seu ombro. Toda aquela cena estava me dando ânsia de vômito. Em pouco tempo, começou a se contorcer nos braços de minha mãe, que agora, pasma, tentava entender o que acontecia com o corpo dele, que com vários espasmos musculares repetitivos, de seus braços e cabeça, seu corpo ganhava vida de novamente.

— Meu amor, calma! — Continuou ela, já estava com o corpo ensanguentado, com o sangue do meu pai. — Chamem a ambulância logo para cá!

Os olhos do meu pai se arregalaram, mostrando os olhos brancos e sem vida que agora estavam, e as veias começaram a ficar aparentes, escuras e grossas, cobrindo grande de seu corpo e principalmente de seu rosto. Vê-lo daquela forma, era estranho. Não sabia se ficava feliz por ele ainda estar vivo, ou preocupado pelo mesmo motivo.

Com veracidade, pula no rosto dela, e a morde com frieza. O que é aquilo? Sei que não era mais meu pai.

— ahhh!!! — Escutava os gritos dela ecoando em meus ouvidos, e depois se renderam aos sons de tiro. 

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⏰ Last updated: Apr 06, 2019 ⏰

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