Capítulo 1 - PARTE 1

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DEPOIS DE MAIS UM DIA NORMAL DE ESCOLA, eu estava pensando como as coisas deveriam estar em casa. Eu estava olhando pela janela do ônibus escolar, vendo o mundo e as pessoas indo de mal a pior, porém meu mundo estava concentrado em voltar para casa e descansar, saber das ultimas noticias sobre o surto e dormir até essa confusão passar.

O ônibus escolar chegou à minha casa. Ele parou bem perto da grama que havia no jardim de minha casa, modesta e simples. Porém tinha um ótimo jardim, grande e florido, amava cuidar dessas plantas e flores, era meu passatempo favorito.

Quando abri a porta de casa, o que eu vi me chocou de uma forma inexplicável, meu pai, estava no sofá estirado assistindo TV, com pés descalços e calça, com a camisa abarrotada, chegará de um plantão?

— Bom dia, pai. — Falei tentando levar aquela cena como rotineira, porque não importa quantas vezes eu veja essa cena, nunca me acostumei.

— Bom dia, vai tomar banho rápido que está passando o jogo do Brasil contra a África do Sul. Já está no segundo tempo.

O jogo que estava passando, não era da copa do mundo, era um simples jogo de classificação. Eu nunca fui um grande fã de futebol, mas assistir futebol com meu pai era uma boa forma de interação, já que ele trabalha quase o dia todo, sendo clínico geral em um centro de emergências, e buscando o sonho de abrir uma clínica própria, seu trabalho nos distanciava, mas nesses seus dias de folga, ele arrumava uma forma de passarmos o dia juntos, hoje foi o jogo.

— Então vou ver logo. — Sentei no sofá ao lado do lado do meu pai. — É aquele jogo que está sendo feito no campo aqui perto, que minha tia foi ver?

— É sim...

— Epa! — Gritou minha mãe da cozinha — Vá tirar essa roupa pelo menos. Para não manchar ela.

Eu só quero fingir que me importo com o jogo!

Não sei como ela descobriu que eu não tinha tirado a farda da escola ainda, ela tinha um olho bom quando era para brigar. Mas ela não se importou tanto, ela sabia que eu queria passar mais tempo com meu pai. Se fosse num dia normal, teria que tomar banho, se não ia almoçar.

— Está bem mãe. — Respondi. — Quanto está o placar?

— Um a zero, para a África. — Respondeu meu pai, com um peso ao dizer essas palavras.

Eu fui para meu quarto, que não ficava muito longe da sala — na verdade, nada ficava longe de nada, minha casa era muito pequena e só tinha seis cômodos e dois andares, os andares de cima ficavam os quartos.

Tirei minha roupa suada e vesti uma limpa, bem leve, uma camiseta e uma bermuda, porque estava fazendo muito calor — Muito mesmo. Era quase meio dia e o calor já era insuportável.

Do meu quarto, dava para ouvir o narrador, com palavras rápidas e confusas para mim, narrando a partida de futebol, parece que o Brasil estava atacando, o narrador demonstra isso com tom eufórico em sua voz, e a torcida vibrava e depois ouve, um grito de gol, parecia que o Brasil finalmente havia empatado a partida. Meu pai, gritava o mais alto que podia, sua voz deveria ter alcançado a vizinhança inteira, mas ninguém veio reclamar naquele dia. Era normal ver fogos ou vizinhos também gritando, porém, hoje nem um raio de movimento até agora.

Quando voltava do quarto, olhando pelas janelas, as portas e janelas trancadas de todas as casas por aqui. Do grito de alegria de meu pai, tomou-se agora de um silêncio quase assustador, das escadas percebi que algo estava acontecendo, o som das multidões comemorando se tornou em gritos de horror e uma correria nas arquibancadas. Parecia uma briga em meio aos torcedores, mas a arquibancadas dos africanos, não era normal estrangeiros fazerem coisas do tipo, essa é mais a cara do brasileiro. Até que disparos me assustaram mais ainda, a polícia lançou gás lacrimogêneo para diminuir a confusão, nada adiantava. Disparos de balas de borracha vieram logo em seguida, várias câmeras perto das arquibancadas sendo desativadas, e atingidas por tiros, ou até sendo caindo no chão.

— A confusão começou no lado dos africanos, o mais estranho era que é muito comum ver confusão entre brasileiros, mas entre os estrangeiros? — Falou o narrador.

Algo não fazia sentido. Do lado dos brasileiros, só conseguia pensar na minha tia ali ao meio da confusão.

— Pai... — Gritei, chegando na sala — O que está acontecendo?

— E-eu não sei. — Respondeu ele, gaguejando — Deve ser alguns brasileiros que entraram no lado dos africanos.

— Meu Deus! — Dizia o narrador que estava surpreso com tudo aquilo — Vamos aproximar as câmeras da confusão.

As câmeras mostravam pessoas se contorcendo no chão, ensanguentadas, com fortes espasmos, que fazia seu corpo inteiro mexer esteticamente, perdendo o controle de seu próprio corpo e se levantando, com uma súbito aumentando na força dos membros, minando um líquido preto da boca e das feridas misturando-se com o sangue, começando atacando outras pessoas tentando mordê-las.

— O que é aquilo?! — Gritou meu pai, sem acreditar no que seus olhos estavam vendo.

Caixa de PandoraWhere stories live. Discover now