Último Ano-Capítulo 8

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     Pov Eloísa

    Eu era uma mulher mais alegre, mais descolada e flexível, não me lembro quando me tornei uma chata, ou melhor, a professora mais linha dura e sem paciência da escola e uma mãe muito cautelosa e exigente.

    Talvez a dupla jornada entre trabalho e quatro filhos um marido meio complicado, não, eu não pari quatro filhos,não  são todos meus,(risos) na verdade, quando me casei com Abraão ganhei um pacote adicional, um marido e dois filhos.(risos)

    Não é nada fácil ser mãe, imagina de quatro, eu professora, ele contador, duas profissões não tanto valorizadas como deveria. Mas dar de sobreviver, vivemos bem, e graças a Deus não passamos mais necessidades, tem gente bem pior, ou já estivemos bem pior. Tá legal, confesso, estou sendo um pouco dramática, a realidade é que nosso padrão se encaixa na classe média a três degraus a baixo da alta, se não fosse tantos filhos ou o fato de alguns anos atrás Abraão quase fazer a gente perder nossa casa em jogos de azar, estaríamos na classe média alta, mas isso não vem ao caso, o que tenho a falar é sobre esse novo ano que começou, eu e Abraão nos últimos anos não estamos tão bem chegamos a quase nos divorciar, mas agora a gente vem tentando ficar bem, desde quando ela jurou pela vida dele e a de nossos filhos que nunca mais beberia nenhuma gota de álcool, ou jogasse algum jogo de azar qualquer e eu dei esse voto de confiança a ele, um único voto, uma única chance.

   Então ainda em janeiro em um passeio ao sítio do irmão dele, resolvemos tentar, resolvemos tentar resgatar o que fez cada um se encantar pelo outro, está dando certo, tentamos sempre o diálogo ou quando um se exalta com o outro lembramos que estamos tentando fazer dar certo e a quatro anos ele não bebe, frequenta psicólogo  e não joga mais, aos poucos estamos reconstruindo nossas vidas.

     O ano letivo começou, antes o entusiasmo que eu tinha de preparar tudo, já não fazia mais parte de mim, agora eu só torço para que tudo ocorra bem e eu não tenha grandes dificuldades em lecionar minha matéria.
      Mas desde o primeiro dia de aula, uma garota vem me chamando atenção, Alicia, dou aulas para ela a três anos, acredito eu, é tantas coisas na minha vida, que as vezes me falta a memória. Ela sempre foi uma boa aluna, uma boa menina, até achava seu jeito meio "esquisitinho" demais, calada demais, envergonhada demais, mas sem sombras de dúvidas, a mais inteligente da escola, isso a fazia se destacar entre os professores e coordenadores, sempre ganhava medalhas como aluna número um, e com isso a "coitadinha" sempre acabava sofrendo bullying, nunca vou entender a lógica dos alunos em desmerecer os melhores e exaltar os piores, quando crescerem irão perceber o quão ridículo isso é.

    Mas o que tem me deixado mesmo com uma pulga atrás da orelha é o comportamento dessa garota, desde o primeiro dia é como se ela tivesse se transformado em outra garota, e o pior, a gente ver que é algo forçado, que não vem da personalidade dela, antes ela sentava na frente, agora está no fundão, antes ela não abria a boca para nada, agora vez ou outra eu a mando fazer silêncio, antes ela nunca olhava em meus olhos, e agora não os tira mais de mim, e isso tem me incomodado um pouco, não sou boba e tampouco ingênua para não saber o que aquele olhar dela significa, mas eu só cheguei a certeza do que estava achando que seria, quando ela passou a me entregar uma história lésbica, um romance entre professora e aluna, e quando tomei seu celular e vi que ela estava estava assistindo pornografia do mesmo tema da história, aquilo foi a certeza que eu tive sobre ela está apaixonada por mim, me senti lisonjeada, não vou ser hipócrita, afinal é sempre bom saber que despertamos algo no outro, nosso ego agradece, até que a história dela é boa, eu nunca me interessei ou senti atração por mulher, mas a parte do sexo entre as personagens me fizeram sentir coisas entre minhas pernas não tão desconhecidas, (risos).

     Para mim é fácil lidar com esses tipos de coisas quando vem da parte de aluno, no verbo masculino mesmo, nunca me deparei até então com uma aluna, e sinto que esse novo comportamento da Alice é apenas para tentar chamar minha atenção, e cá entre nós, que forma ridícula de chamar atenção não concordam?

    Eu com meus trinta e cinco anos tão cheia de problemas pessoais, financeiros, não tenho mais paciência para esse tipo de coisas, na verdade nunca tive, sempre gostei de tudo as claras, mas dessa vez me encontro perdida em relação a Alice, por mais que eu não demonstre, eu tenho um certo apreço por ela, dou aula para ela à muito tempo, não tem como não criar algum vínculo, mesmo que a gente não converse ou se conheça tão bem.

     Na sexta depois que sai da escola fiquei de passar no shopping para comprar algumas bobagens para os filhos na Americanas, enquanto estava pegando as coisas e colocando na minha cesta, vi aquela turminha da "pesada" da escola, involuntariamente revirei os olhos, até no shopping aquelas pestes me perseguem, eu odeio alunos preguiçosos, que só vão para escola encher o saco, e eles eram daquele preço, e para completar ainda estava tentando levar Alice, minha melhor aluna para aquele caminho da vagabundagem, então para mim era simples, só fingir que não os conheciam, a surpresa não foi tanta em ver que ali perdida no meio daqueles "cavalões" estava Alice ainda do lado de fora da loja, aparentemente nervosa, logo em seguida eles foram entrando para um lado e Alice para o outro, eu me afastei para o fundo e fiquei observando Alice, minha decepção foi enorme quando vi ela colocando algumas coisas dentro de sua bolsa, era nítido para quem conhece ela, que jamais ela faria isso por conta própria, a não ser por influencia daqueles futuros marginais.

     Poderia deixar isso para lá, fazer minha compra e ir para casa, afinal, tenho muita coisa a fazer, mas já estava na hora de ter uma conversa séria com Alice, estava na hora de dar um sacode nela.

     A garota quase cai dura na minha frente quando eu falei com ela, e quando eu me ofereci para pagar suas coisas, incluso as que estavam na bolsa, senti que se tivesse um buraco alí, ela se enfiava dentro de tanta vergonha que estava de mim, eu não a discriminei e tampouco a julguei, eu sabia que aquilo era a mando dos rapaz, mas cá entre nós, quem nunca pegou algum doce nas Americanas e saiu sem pagar não é mesmo?

 

Último Ano [Professora e aluna]Onde histórias criam vida. Descubra agora