O homem de preto

Despedida de Joseph

— Desces aqui comigo? Ele pediu e me ofereceu sua mão.

— Não sei, não vejo nada.
Disse a ele e prossegui:

— Se realmente tenho também esse dom, talvez ainda não chegue a tanto...

—Não tem problema.
Ele ia me explicando tudo, sempre com muita calma:

— Você aprende a sentir. Usará sua mente.
Eu sinto, mentalizo e vejo os sinais, como uma vibração...

— Está bem, moço-espírito. Falei isso e desci.
A essa altura já estava envolvida até o pescoço nisso.

— Nossa! Eu disse a ele. Sinto cheiro de flores...

— Isso. Feche os olhos e não abra por um tempo. Ele me orientou.

Eu sentia! Um aroma de flores... com um toque de lavanda e a terra estava fofinha e macia.
Recostei-me me num local e ali fiquei.

— Ele ajoelhou-se e chorou... disse que a via ali.. o corpo... mas ela já havia subido há anos para o céu... ele apenas queria saber onde estava o corpo...e conseguiu!

— Qual seu nome? Indaguei.

— Joseph. Éramos Ingleses e viemos para aqui, na Itália, procurar uns parentes.. mas uns homens maus nos confundiram com uma gangue de uns bandidos.

Eles eram umas famílias que andavam aqui naquela época; e os homens saqueavam os locais e fugiam.. tentamos em vão explicar que não éramos parte desse grupo, que montamos acampamento, em busca dos parentes italianos que moravam nessas fazendas dessa região.

Mas, voltaram dali uns dias, já armados e ameaçando-nos.

Pegaram primeiro as mulheres... e as crianças.. eu e Emily não tínhamos filhos ainda.

—Nossa... que triste tragédia... estou arrepiada Joseph. Eu realmente estava já com meu coração contrito...

Ele continuou a contar a triste história:

— Então Ane, logo atiraram nos homens e foi assim.
Não deu nem para nos despedirmos de esposas ou filhos.
Horrível de contar-lhe isso, perdoe-me...

— Imagina... agora te entendo enfim. Estava realmente muito chateada por tudo que ele passou.  E continuei:

— Desculpas eu também lhe peço por ter me assustado no começo.
Agora pode contar comigo!
Para o que precisar.

—Você já me ajudou bastante moça, você sim, nunca vai imaginar o quanto me ajudou. Ele não parava de me agradecer.

— Puxa... eu já atordoada com tudo isso fiquei zonza novamente... e desmaiei.

Depois soube que ele me carregou para fora do buraco que fizemos.

Tapou tudo e deixou uma flor em cima...
Enquanto eu descansava, ele pegou uma das rosas nossas e deixou ali...em cima do local.

Acordei lentamente e disse:

— Desculpa.. desmaiei né?... eu ando tendo isso....

— Eu sei.... é dor de amor, não é? Que você padece.

Ele me pareceu aquilo que chamam de vidente.

E continuou:

— Desculpa da rosa.. a Emily amava rosas...

— Imagina... nossa... eu também amo rosas! Fica em paz com isso amigo Joseph.
Sim, padeço de dor de amor.. meu ex-noivo... é também horrível o que estou passando, claro que nada comparado ao seu sofrimento.

E prossegui:
— Mas me fez tão bem ajudar você, que creio que isso fará eu melhorar...

—  Vai sim Ane... enquanto você estava desmaiada, mentalizei ao seu lado e tive uma visão. Ele vai voltar, o seu amado... tenha paciência.. ele também está a sofrer muito lá onde ele ele se encontra.
Eu tenho esse dom desde encarnado, já era meio vidente..

—  Eu bem que desconfiei que tinha isso que chamam de vidência..
Joseph, você foi um presente de Deus para mim... nunca esquecerei de você... nunca!

Sabe, estava aqui pensando que nossos amores são um tanto parecidos.

Justifica-se qualquer loucura em nome do Amor. Eu ficar esperando meu amado sem ter qualquer garantia que virá.
Nem sequer comunica-se comigo.

E você, não desistiu até conseguir o que antes eu achava loucura, ficar esperando eu crescer para conseguir despedir-se adequadamente de sua esposa, a fim de obter sua paz em prosseguir na sua jornada na eternidade.

E ainda fez-me agora crer em tudo isso.

— Agora deite-se novamente e feche os olhos, por favor e não abra tá?
Ele com pressa, ia me orientando.

— Não abrirei. Fechei meus olhos e fiquei bem quieta. Já sabia que ele iria chamar a tal luz.
E a luz veio! posso sentir! — pensava comigo mesma. Umas pessoas muito boas vieram junto buscá-lo.

— Adeus Ane. Gratidão eterna.
Vá desenvolver e estudar seu dom.
Agora sem medos, promete?

Agora vou procurar minha esposa lá no plano espiritual, mas não conte a ninguém! disse meio rindo.

— Sim Joseph! Da minha boca nunca vão saber nada. Pode ficar em paz. Desejo sorte na busca da Emily.

Ah, venha me contar?
Pode ser em sonho.
Mas me conte tá?

— Contarei sim, Ane.
Mas levará anos. Para vocês aqui a contagem é diferente, talvez você já esteja desencarnada. Ou veremos, talvez idosa, mas dou a minha palavra que virei!

- Está bem, vai logo, estão acenando para você! Mesmo de olhos cerrados eu meio que "via" tudo.

— Ele enfim se foi.
Acenou um adeus para mim e senti ele mentalizando: "seu amado logo vai te procurar. Não desista."

— Meu Deus! estou exausta. Dizia a mim mesma.
Pareceu um sonho, mas foi real eu sei!
A rosa e as pás estão aqui ainda!

De repente, o Senhor Jonas surgiu:

— Seu Jonas! que susto! Você estava aí? viu tudo?

— Sim Ane. Mas não podia interferir nem chegar perto. Mas acompanhei a tudo bem de longe e escondido.

E continuou:

— Ele vinha aqui desde que você era ainda menina.
Esperou você chegar nos 18, 19 anos para te procurar.

—  Que triste fora tudo que ele passou.
Mas pude sentir que ele ficou tão aliviado, que agora eu me sinto feliz por ele!

— Sim. Disse Seu Jonas.

Seu Jonas entendia tudo melhor que eu, obviamente.

— Ele está— ele continuou a me explicar:

— Eu também pude sentir.  Uma forte vibração que seu noivo virá te ver!
Mas, espere com paciência.

— Está bem. Vou dormir mais um pouco e tomar café e absorver tudo isso Seu Jonas.
Será nosso segredo agora.

— Claro. E que segredo né menina Ane.
E fomos abraçados caminhando rumo à casa da Fazenda.