Senhor Jonas

100 9 5
                                    

Levantei-me meio zonza, ainda ali, caída ao chão.
—Aquele homem, parece que eu o conhecia, pensei em silêncio

A Fazenda de meus avós era muito grande, na Toscana e dava para eu andar bastante a pé.

Chamo-me Ana Eliza.

—Aneliza, venha tomar seu café! Gritava minha avó.

—Daqui um pouco vou aí, vovó. Respondi.

Eu tinha 19 anos nessa época.

Estava sem fome, e queria ver se achava o tal homem de preto.

Era um rapaz jovem, alto, cabelos bem escuros.

Decerto havia entrado por alguma fresta, não sei ao certo..

Voltei ao bosque, era época dos Ipês amarelos e bem floridos, tinha um pomar e era uma fazenda vinícola.

Fabricávamos vinho há várias gerações.

Tinha a embalagem, rotulação e exportação até, inclusive.

Fui lá com os empregados, pisar nas uvas.

Num local bem grande e fundo, onde brincávamos e matávamos a saudade da dança de pisar nas uvas, para extrair grandes quantidades de caldo.

Me diverti, me limpei e continuei a caminhada.

Eu havia sofrido uma baita desilusão amorosa.

Tinha perdido uma pessoa amada.

Estávamos noivos, mas ele tinha que fazer um curso em Londres e eu ainda a terminar a minha Faculdade.

Decidimos então, romper o relacionamento.
Mas nem uma carta, um e-mail, uma mensagem, nada ele mandava.

Meu coração estava em farrapos, dilacerado.
Pois a saudade batia. É meio que inevitável.

Vivia com uma dor no corpo que não passava..

Acabou por gerar uma espécie de tontura-zonzeira-, às vezes manifestava.

Esbarrei de repente no Sr Jonas, nosso melhor empregado, de muita confiança; já estava com meus avós de criança, desde seus avós, trabalharam todos aqui.

—Mas o que foi garota Aneliza ? ( chamavam-me assim, abreviavam meu nome). Inquiriu o Seu Jonas.

—Está pálida e branca, parece que viu um fantasma. Ele continuou.

—Ah, Seu Jonas, eu caí no bosque, bati a cabeça numa pedra grande.
Estava extremamente zonza; mas lembro direitinho da imagem do homem jovem, de terno preto, fitando-me atrás das árvores,
sempre meio que escondido.

—Hum. Venha cá, minha filha,
sente-se um pouco, disse Sr Jonas

—Vai me contar histórias? ( adorava ouví-lo desde criança)
Qual vai ser dessa vez?

- Filha, talvez, digo talvez, você tenha também mediunidade forte. Não tem como ninguém entrar aqui; tem vigias 24h por dia, desde cedinho, já tem uns pelo bosque.
Inclusive eu, já vi também pessoas e vultos por lá. Mas nunca comentei com ninguém,
porque logo não as via mais.
Preferi nem relatar aos seus avós; embora com saúde, já estão muito idosos.
Não quis fazer alarde sem provas.

Meu Deus, estaria ele certo? Refleti.
Eu vi nitidamente, mesmo atordoada por bater na pedra, a imagem permanecia intacta em minha mente

O homem de pretoWhere stories live. Discover now