Capítulo 23

109 26 212
                                    

Trina

O que está acontecendo?

Nunca pensei que meu próprio irmão me trataria tão mal. Quando eramos pequenos sempre fomos unidos, sentíamos os sentimentos um do outro.

Tínhamos uma ligação que só nós entendíamos, era nós dois contra o mundo.

O mundo onde os sonhos ruins não passavam. Imaginamos tantas coisas, vivemos grandes aventuras, mas tudo muda, sempre dizem que é para melhor. No nosso caso, foi para pior.

A adolescência mudou completamente a gente, o Christopher se afastou e eu tentei me aproximar várias vezes. Mas acabei gostando do Blaine e quando o Chris descobriu fez ele escolher entre mim e ele.

Para mim já era óbvio, Blaine escolheu o Chris, não o culpo, teria feito o mesmo se estivesse em seu lugar. No meu ponto de vista ninguém manda no coração, exitem pessoas que conseguem não se entregar de vez a tal sentimento. Mas quando os primeiros sinais clichês de amor aparecem qualquer coração de gelo é derretido por uma paixão ardente que é impossível de se controlar.

Depois disso meu irmão se sentiu traído, e para piorar minha situação armaram uma grande armadilha para mim.

E eu caí, como uma criança que acredita nas mentiras que os adultos contam. Foi a pior coisa que me aconteceu, fui tão ingênua para alguém da minha idade e as decepções só aumentaram.

O Christopher brigou com o Blaine alegando que foi toda a culpa dele. A briga foi tão séria que além de socos e ponta pés, Blaine foi expulso do time principal de futebol e o Chris por sua vez perdeu o lugar de titular.

Nos corredores muitos tiravam sarros dos dois, o Shun sempre se manteve perto, ele é fantástico. Mas como tudo tem que acabar, descobri as culpadas.

Crystal a garota que sempre pensei que fosse minha melhor amiga.
E a Lay minha segunda melhor amiga, pelo menos era o que achava e ex-namorada do Chris.

Quando as confrontei negaram de primeira, o Chris não ficou do meu lado e o Blaine desconfiado.

A situação já estava ficando horrível, então assumi a culpa, não foi fácil. Todos se afastaram e não tinha como evitar.

No dia que me preparei para contar tudo aos garotos. Crystal e Lay me trancaram no banheiro já quebrado e me bateram. Perdi a consciência e acordei em casa, me defendi das acusações e disse a verdade.

Ninguém nunca acreditou a Lay, terminou com o Christopher e isso só aumentou a raiva que sente por mim. Sempre achei que com esses dois anos ele tinha me perdoado, mas não. Ele só fingiu porque precisava da minha ajuda com a droga do jogo.

Minha vida depois desses dois anos foi um saco, não só por causa do ocorrido no colégio ou de não ter muitos amigos. Mas pelo simples fato de conviver com os meus pais nunca acreditando em mim, é totalmente nítido que assim como nossos familiares todos preferem o Christopher. Fui julgada por ele ter quase saído do time do colégio, afirmaram que não iriam demorar muito para eu acabar com uma futura careira de jogador do meu irmão. Me senti uma verdadeira inútil a ovelha negra de toda a família como dizem.

Então fiz tudo o que podia, me joguei de cara nos estudos, fazendo programação e tudo ligado a computação foi aí que o Christopher começou a falar novamente comigo de um jeito ríspido, mas para tudo o que havia acontecido já era o primeiro passo.

Com o Blaine foi diferente não brigamos, mas no momento fiquei chateada porque estava me odiando completamente pelo ocorrido, por mas que ele disse que a culpa não foi minha. Então, ele se afastou porquê precisávamos de um tempo para o Christopher e todos esquecerem o ocorrido, mas nada foi tão fácil assim.

Por alguma razão que todos inclusive o Chris desconhece veio uma discussão entre o próprio Blaine e o Shun, e foi aí que ele nos deixou e se afastou completamente de mim assim como Diego e várias outras pessoas.

Já eram duas e quinze da manhã e não consegui parar de chorar. Um choro silencioso que deixava um tremendo vazio, um vazio que já não sabia como preencher, que me sufoca e só me faz sofrer.

Mas quem se importa com uma "mentirosa"?

Fui ao banheiro para lavar o rosto e aproveitei para ir na cozinha beber um pouco de água. Andei com passos leves para não acorda ninguém, assim que cheguei na sala vi a porta entreaberta, me aproximei e fiquei escondida.

— Por que implicar tanto com a Trina? As coisas aconteceram há dois anos atrás, ela já deixou tudo aquilo para trás e você insiste em remexer nesse passado. — A voz é do Shun.

— Eu tento não implicar, mas é difícil, às vezes penso que tudo seria bem melhor sem ela. A Trina precisou de doação de sangue e por ser seu gêmeo tive que doar, mas eu fiquei pensando, e se eu me recusasse a doar, ela teria ido para uma lista de espera que poderia nunca ser atendida e assim, o mundo, meus pais e eu ficaríamos livres dela, porque estaria morta. — Christopher diz friamente.

— Não fala assim, sua irmã é importante para você, para nós. Essa raiva é por causa da Lay?

— Também Shun, nunca superei, tava tudo indo tão bem, quando descobri a Trina com o Blaine perdi a cabeça.

— Sobre isso, como descobriu?

— A Crystal me contou, ela disse que a viu com um cara, eu queria saber quem era, aí dei de cara com os dois.

— Você disse que a Trina quebrou o trato de vocês, mas na verdade foi você que o quebrou quando começou a namorar a Lay.

— Não quebrei nada, nunca disse que a promessa estava valendo para mim. Nada do que você fale vai mudar a raiva que sinto por ela, que só aumentou quando ela começou com o papo de orgulho e se juntou a nós. Foi a pior coisa que podia acontecer, como queria voltar ao passado e deixá-la morrer.

Tampei a boca horrorizada, sem acreditar nas palavras que o Christopher, meu próprio irmão, sangue do meu sangue. Acabou de dizer, as lágrimas começam a cair.

Começei a andar pela casa, sem rumo, sem me importar com o que poderia bater no meio daquele terrível breu.

Entrei em um lugar escuro, acendi a luz e notei que estava no porão, tranquei a porta por dentro pois estava com a chave. Me sentei em um sofá, sem conseguir para de chorar.

O porão é bem rústico e arrumado, as paredes tem quadros antigos da Alda nova e de sua família, as caixas contém roupas de bebês e grandes quantidades de brinquedos. Um grande armário marrom um pouco empoeirado com vários livros bem arrumados de diversos tamanhos. Também tem uma mesa de centro e dois sofás ao redor da mesa.

Em cima da mesa do centro tem um frasco preto de vidro. O peguei por pura curiosidade, as letras estavam em uma liguagen que não sabia decifrar.
A única coisa que entendi era uma curta frase.

Dulce somnium aeternam.

Que significa doce sono eterno.

Minha cabeça não parava de doer, mal sabia o que pensar e muito menos o que fazer. Então bebi tudo o que continha dentro do recipiente, só preciso dormir. Para acordar bem melhor e esquecer tudo o que Christopher Young disse.

Decidi fazer algumas coisas e algumas horas depois o sono apareceu me deitei no sofá e fechei meus olhos.

O Outro MundoWhere stories live. Discover now