Capítulo 4

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Me despedi do Chris e fui direto para casa. Entro no meu quarto e fecho a porta, faço minhas higienes e vou para a cozinha. Ao me aproximar da geladeira noto um bilhete da minha mãe.

Queria poder ter lhe dito tchau meu amor, mas foi uma correria, acho que você lembra da minha viagem, né? Eu tentei mudar o dia mas não deu.

Shun em quanto eu tiver fora toma conta de tudo para mim. Fiz uma torta de maçã e um empadão para você, meu amor. Daqui a uma semana estarei de volta, deixei dinheiro no seu quarto caso precise.

Te amo e se cuida, Shun.

Assinado: mamãe.

Eu tinha esquecido dessa viagem, minha mãe sempre falou dela, mas eu achei que ainda tínhamos mais tempo. Joguei a carta no lixo e esquentei o meu almoço.

A tarde, como a torta com um copo de suco de maracujá e fico jogando videogame por duas horas. Alguém bate na porta e eu pauso o jogo para poder abri-la.

— Oi. — Digo encarando o Blaine.

— Olá. — Ele sorri.

O Blaine mudou muito em três anos, o seu cabelo ainda está loiro escuro e seus fios lisos escondem seus olhos azuis-turquesas, ele continua usando roupas pretas e aparenta estar mais branco que o normal. Carrega consigo uma mochila preta nas costas e uma mala verde na mão.

— Você mudou muito. — Digo quebrando o silêncio entre nós.

— Só fisicamente, ainda sou o mesmo, não mudei muito, Shun. E você não me parece com o mesmo garoto de três anos atrás.

— É porque muitas coisas aconteceram. — Digo firme.

— Eu sei meu irmão, é por isso que voltei. Consegui fazer o nosso pai me deixar morar com vocês. Eu queria fazer uma surpresa, mas acho que a mamãe não está aqui.

— Ela volta daqui a uma semana, bem entra Blaine. Você deve tá cansado. — Rio.

— Como você adivinhou. — Ele me entrega a mala verde e bagunça meu cabelo.

Antes dele cruzar a sala eu o abraço, na última vez que eu vi o Blaine foi na despedida que nossa mãe havia feito, depois disso só por webcam e acabamos brigando. Ficamos muito tempo sem nos falar mas, tirando tudo o que rolou, ele e o Chris são meus melhores amigos.

Eu mostro o quarto do Blaine e o mesmo o explora e arruma as coisas, ficamos conversando sobre o que aconteceu e o que mudou nos últimos três anos, afinal, assim como o Christopher e a Trina, Blaine e eu somos gêmeos, só que idênticos.

Quer dizer, não tão idênticos assim, o Blaine é mais velho e o rebelde, eu sou bem mais calmo e paciente.

E quem fala que gêmeos são totalmente iguais tão por fora da situação. Quando crianças, nós três vivíamos brigando, e a Trina doce e meiga como sempre, vivia nos juntando e impedido de brigarmos mas, quando ela mais precisou de nós, estávamos tão ocupados brigando que nem reparamos quando as suas melhores amigas brigaram com ela por nossa causa.

A Trina nos defendeu e perdeu suas amigas. Até onde sabemos, mas a mesma se recusa a tocar nesse assunto. Agora ela prefere ficar longe de todos e, quando se aproxima de mim e do Christopher ele sempre a maltrata, fazendo-a se manter distante de nós.

Deitado desenhando no sofá com meus pensamentos bem longe. Tomo um susto ao notar a presença do Blaine me encarando.

— Que foi? — Pergunto intrigado.

— Você ainda desenha? Que bom.

— Sim e você?

— Os meus talentos não são para desenhos como os seus. — Ele ri.

— Ainda toca violão? — Pergunto curioso.

— Sempre, até o trouxe comigo.

— Ainda é o verde?

— Não, um preto com detalhes brancos, bem bonito. O pai me deu de presente.

— Que dá hora, depois eu quero ver. Ainda tá namorando?

— Não. — Ele ri. — Faz tempo que terminamos, não deu certo brigávamos muito. E você? Até onde me lembro você era afim de alguém.

— Ah, paixonite de criança pô. Passou depois de dois meses. — Começo a rir.

— Você é muito insensível, mano que negócio é esse, nunca se apaixonou?

— Tudo vai acontecer quando for a hora certa.

— Sua paciência me deu até fome. — Ele ri.

— Tem suco e torta. — Me levanto.

Vamos até a cozinha nos servirmos. Eu nunca achei que essa conexão com o Blaine fosse voltar. Sempre achei que isso tinha desaparecido quando ele cruzou a porta e brigamos, mas me enganei.

O meu irmão mais velho, meu gêmeo continua igual, tirando a aparecia física. Ele continua sendo o playboy por quem as garotas sempre suspiram.

Não será fácil, mas só de tê-lo de volta aqui. Sei que vamos conseguir enfrentar o passado e voltarmos a ser o mesmo trio que sempre fomos quando pequenos. É só questão de tempo.

Shun: "Ei mãe... O Blaine tá aqui sério, sem brincadeira, ele realmente está aqui e vai ficar conosco esse ano. Ele quis fazer uma surpresa então veio sem avisar. Mas a senhora já não estava em casa. Daqui a uma semana a senhora vai poder mimar muito ele, mas não demais viu, mãe." 16:37

"Se passou só algumas horas e já estou com saudade, é dona Nina, a senhora e sua comida fazem falta nessa casa. E falando em comida, o Blaine sabe fazer Kkkkk, isso é tão estranho." 16:37.

"Bem... Mãe amamos muito a senhora, volta logo. Te amo mais que videogame kkk." 16:37 PM.

Mãe: "Que notícia maravilhosa, meu amor! Pena que não estou aí para mimar vocês, haha. Se comportem, tomem conta da casa, não façam nenhuma loucura, por favor! Pretendo encontrar a casa intacta quando voltar. Até breve queridos amo vocês." 16:45 PM.

Após mandar uma mensagem para minha mãe, Blaine e eu fizemos uma maratona do filme Anjos da Noite.

Ele já está matriculado no colégio e também tem os matérias. Isso me faz pensar que essa viagem já havia sido planejada há muito tempo.

Ou tem alguma coisa por trás da vinda do Blaine para cá.
Espero que só seja coisa da minha cabeça. Seria muita coincidência vizinhas novas, a briga do Chris e da Trina, a viagem da mamãe e a chegada do Blaine.

Pura coincidência, nada de mais. Shun.

Digo para mim mesmo em quanto assistíamos séries.

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