06 | Samsara

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20 de Agosto, 2009

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20 de Agosto, 2009

Eu caminhava pela Ocean Front Walk contando as lixeiras e conferindo o relógio. Estava com tempo, mas é fácil perdê-lo quando se tem um belo pôr do sol na sua frente. Eu respirava lentamente, apreciando cada segundo. Gostava do cheiro da praia, daquela mistura única e pegajosa de maresia, suor, protetor solar e comida gordurosa; dos sons, das ondas quebrando, rodinhas dos skates passando sobre fina camada de areia, músicas,  conversas, dos gritos que vinham da montanha-russa do Belmont Park às minhas costas.

Apesar do sorriso nos lábios, continuava de cabeça baixa e com todos os músculos tensionados. Dividido entre me deixar seduzir pelo verão californiano e esquecer o que tinha me levado até ali ou ceder totalmente ao pânico. Comecei a suar frio. A linha entre as duas opções era um risco na areia.

Não passam carros em frente a Mission Beach. É uma praia pequena, nem tão badalada quanto sua vizinha Pacific Beach, mas é um bom clichê da Califórnia que os filmes hollywoodianos vendem mundo à fora. E talvez por isso ela fosse perfeita para esse tipo de encontro.

Perfeita para ele, me corrigi. Se dependesse de mim, esse encontro nunca aconteceria.

Parei ao lado da sexta lata de lixo e me sentei na mureta de concreto que separava o calçadão da faixa de areia. A casa atrás de mim estava cheia, mulheres conversavam despreocupadas nas espreguiçadeiras, enquanto os homens se reuniam em torno de uma churrasqueira elétrica. O horizonte já cortava o sol ao meio e a temperatura caía vertiginosamente. Os banhistas pareciam não perceber ou não se importar, as crianças ainda corriam alegres com seus sorvetes havaianos como se eles nunca fossem derreter. Tirei a mochila das costas e cruzei os braços. Sete e meia da noite. Ele já deveria estar aqui.

— Garoto... achei que tivesse desistido.

Olhei para cima. Um homem de cabelos escuros sorriu para mim, empolgado, revelando gengivas grandes e duas fileiras de dentes minúsculos. Lacaio. Intimamente, era assim que eu o chamava. Ele deu dois tapinhas no meu ombro e se sentou na mureta ao meu lado, segurava uma pasta de couro, digna de um advogado de renome, que em nada combinava com seus chinelos de borracha e com sua camiseta Tie-Dye amarela e rosa.

Joias e NavalhasWhere stories live. Discover now