— Falou com os seus pais?
— Falei.
— E aí? O que eles disseram?
— Deram razão para o filho da puta do meu primo, disseram que estou colhendo o fruto da minha ganância e que, se eu quero ficar aqui, tenho que entender o lado dele, — (suspiro) — mas eu não consigo entender. Eu juro que pensei nisso o dia inteiro, mas não consigo entender por que o Vinícius fez isso com a gente.
— Por que ele não quer que fiquemos na casa dele?
— Mas ele sempre odiou aquela casa, então por que esse apego agora? Não consigo pensar em nenhuma explicação, a não ser que seja algo pessoal contra a gente. E isso não é justo.
— A vida não é justa.
— Max, ele precisa de dinheiro, tem aquela casa que ele odeia e ele está se recusando a vender pra mim? E ainda joga a gente aqui como forma de vingança? Eu não admito isso, eu não admito ser feita de otária desse jeito...
— Nat, você precisa se acalmar.
— Me acalmar? Como eu vou me acalmar quando eu acordei numa mansão e serei obrigada dormir nesse buraco nojento e com essa fedelha de brinde! Max, você tem noção disso? Nós não temos condições e muito menos a obrigação de sermos responsáveis por uma adolescente de dezessete anos. Onde você estava com a cabeça quando se meteu naquela discussão?
— Você não acha tudo isso muito estranho?
— O que você chama de "tudo isso", Max? "Tudo isso" é essa casa? O golpe que deram na gente? O dia de hoje? O fato dos meus pais acharem que o Vinícius tem razão? Eu acabei de ter o pior dia da minha vida. Estou exausta, então facilita as coisas, por favor.
— Você não acha estranho Elora preferir morar com a gente do que com o pai dela?
— Acho péssimo pra mim, pra gente, pro nosso relacionamento. Não podem jogar essa responsabilidade nas nossas costas desse jeito.
— Não foi bem isso que eu quis dizer...
— Para Elora, foda-se se vai morar com a gente ou com um bando de delinquentes. Na idade dela, qualquer coisa é melhor do que morar com os pais. E pro meu primo é muito confortável morar sozinho e bem longe dos problemas da filha... Pra que essa preocupação toda com Elora?
(silêncio)
— E se ela estiver passando por problemas muito sérios?
— Max, coloque uma coisa na sua cabeça de uma vez por todas: os problemas da Elora são problemas do Vinícius, não nossos. Ele que deixe de ser um playboy de meia-idade e comece a encarar os problemas de frente. Não me interessa se ele achou que minha tia fosse eterna, já passou da hora de assumir a filha que ele arrumou.
— Elora não quer morar com ele de jeito nenhum. Você viu o pânico nos olhos dela quando pai mandou que voltasse para o carro? Seja sincera, Nat, isso não te assusta nem um pouco?
— Elora nunca morou com ele. Foi minha tia quem a criou desde bebê. E, como todo mundo sabe, minha tia, além de ser piroca das ideias, teve tempo o suficiente para contaminar a cabecinha da Elora com as paranoias dela, fazendo-a se virar contra Vinícius, uma vez que ele nunca se deu bem com a própria mãe. Elora só está reproduzindo os discursos e as atitudes da avó.
— Isso não faz sentido.
— Eu cansei de te falar que minha família não fazia sentido...
— Você nunca fala sobre a sua família, Natalie, nunca.
— Porque não é importante!
(silêncio)
— Tá bom, Nat, não é importante. Boa noite.
YOU ARE READING
Joias e Navalhas
Mystery / ThrillerNo final dos anos 2000, a jovem Elora Vélez vive sozinha com a avó em uma mansão na zona sul do Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, Elora está prestes a ver sua vida desmoronar: é publicada uma matéria acusando a casa da família Vélez de ser o palco...