XLV/Para onde Lilive foi?

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Caspian estava tocando piano, na verdade ele nem prestava atenção nas notas, estava a meditar o que aconteceu algumas horas antes, estava naquela sala de música bastante tempo desde que Lilive se foi chorando. Ele nem conseguia distinguir o que se passava em sua cabeça nesse momento, mas ouviu sua melodia ser cortada pela voz de Charlotte. Ele se virou para olhar melhor a raposa.
- O que houve Charlotte?
- Já está sabendo alteza?
- Ora... do quê?
- Lilive...
- Nem continue essa conversa Charlotte, não estou com cabeça para isso, não faz idéia do ninho de serpente que se forma dentro de mim tamanha é minha confusão! O que posso fazer para reverter tamanho embaraço?
- Pois mais embaraçoso ainda vais ficar Caspian; Lilive se foi.
- Como assim? Perguntou ele ainda confuso.
- Ela foi embora do reino alteza.
Caspian arregalou os olhos, sua expressão mudou e sua face parecia transparecer o sentimento de culpa. Charlotte teve muita dó dele.
- Mas... Não! Ela também não! Como isso aconteceu?
- Ela se sente muito mal por tudo que nutriu esse tempo todo por você meu rei, ela já não suportava mais e agora disse estar muito envergonhada e decidiu ir embora para o seu bem e o bem dela.
- Charlotte pelos céus! Lilive não sobreviverá um dia longe de Eprain!
- Eu sei! tentei convencê-la disso mas ela não me ouviu e foi embora para sempre. Faça algo Caspian! Estou tão aflita! Mas se eu for em busca dela Lilive não retornará; só você pode reverter isso tudo.
Antes que Charlotte continuasse ou dissesse algo mais Caspian já havia partido e correndo foi preparar seu cavalo e pegando sua espada desapareceu rapidamente em busca da fada. Charlotte sentia-se mais tranquila ainda que preocupada, se Lilive fosse muito longe ou alguém a capturasse para vender aos piratas Charlotte não ia suportar perder ela também. E enquanto via o rei desaparecer de sua vista deu ordens aos soldados que fossem atrás do rei, ele ainda estava fraco e se recuperando de uma luta, não estava totalmente curado e ela temia o pior.

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Caspian já havia cavalgado um bom pedaço, parando em vilarejos e perguntando por Lilive todos que reconheciam o rei ficavam tão admirados que nem davam muita atenção no que ele falava e assim durou um dia suas buscas pela fada que parecia ter sumido, algumas fadinhas conseguiram alcançar Caspian e lhes contaram afobadas onde estava Lilive ou pelo menos tentaram dizer.
- Calma, respirem e cada uma por vez fala está bem? As fadinhas concordaram e um delas disse ao rei que a fada Lilive tinha ido em direção ao reino dos gigantes.
- Mas o que ela está tentando fazer, se matar? As fadinhas se entre olharam e deram de ombros, todas estavam agora chorosas. Caspian espraguejou e saiu a galope na direção oposta à qual as fadinhas haviam dito, se algo acontecesse a Lilive ele nunca iria se perdoar. Mas antes ele gritou e ordenou que as fadinhas voltassem para o castelo e de lá não saíssem.
Caspian percebeu que a noite estava próxima e notou que ainda estava em suas terras, ao longe avistou um vilarejo e ao chegar lá para pedir abrigo foi hospedado em uma das pousadas do vilarejo chamado Lailai. Estava em uma espécie de varanda ornamentada com madeiras e palhas, ele observava a lua enquanto o céu estrelado o fazia lembrar de tudo que já vivera. Se perguntou o que poderia ter cometido para merecer castigos tão grandes; mas então ele notou um vulto passar ao longe entre as pessoas no centro do vilarejo, usava uma capa escura e pelo seu caminhar Caspian não teve dúvidas de que era ela. O rei correu apressadamente a medida que se aproximava a multidão de pessoas que dançavam ao redor de uma fogueira posta no centro impedia que ele a alcançasse com sucesso. Caspian então gritou o nome dela, mas ela não ouviu, ele correu e trombou em uma mulher que dançava.
- Calma aí rapaz bonito! Podemos dançar...
- Me dê licença moça... disse ele se libertando das mãos da mulher maluca. Mas Lilive já não estava mais lá. Caspian olhou para todos os lados e ela desaparecera outra vez, passaram-se alguns minutos e ele ficou zangado, já estava prestes a desistir quando a viu novamente já nos portões da vila. Caspian correu e conseguiu se aproximar.
- Onde pensa que vai Lilive? Caspian notou que a pessoa não se virou, mas ao ouvir esse nome se deixou assustar, logo tratou de pedir que abrissem logo os portões, os guardas que já haviam recebido sinal do rei naquele mesmo momento não abriram e ela não teve alternativa a não ser encará-lo de frente. Lilive se virou lentamente, Caspian ficou feliz em vê-la bem, mas não conseguia ver seu rosto que estava baixado e coberto pelo capuz da capa que usava, ele a puxou pelo braço e a levou para um lugar mais calmo onde pudessem conversar sem serem interrompidos por algum bêbado ou alguma pessoa esquisita.
Definitivamente Caspian prometeu a ele mesmo nunca mais se hospedar ali, definitivamente precisaria lembrar disso. Já estavam em um lugar mais tranquilo, sem muito movimento só o som dos homens gritando e bebendo ao longe, era degradante. Lilive estava de frente para Caspian ainda não havia dito uma única palavra, mas ele sentia o quanto ela estava magoada com ele.
- Por que você decidiu partir? Para onde pensava em ir? Será que não percebeu que poderia ter acontecido alguma coisa com você?
Lilive nada disse, permaneceu muda; Caspian já frustrado se aproximou dela e retirou seu capuz, Lilive chorava silenciosamente, ele notou que seu rosto estava machucado, e seus lábios sangravam. Caspian assustado abraçou a fada que agora soluçava e parecia em pânico.
- Mas o que fizeram com você? Pelos céus! Diga-me doce Lilive que irei matar estes ou este covarde agora mesmo!
- Não foi ninguém daqui, foram ladrões vindos do oriente, alguns deles, não os contei pois tive tanto medo de morrer que lhes entreguei minhas roupas e jóias e consegui me livrar de seus açoites com vida, eles perceberam que eu era uma fada e procuraram levar-me para ser vendida aos piratas, oh Caspian eu tive tanto medo! Não sei como tive forças para escapar e chegar até aqui com vida. Acho até que machuquei seriamente um deles.
- Como?
- Não sei, lancei poder contra eles e o pobre caiu sem reação. Eu... eu nunca matei alguém nestas condições.
- Ele era mau Lilive, tão mau quanto os odiosos Ósseas, por todos os grinfos, você quase me matou também Lilive, de culpa se te acontecesse algo pior.
- Me perdoa Caspian! Eu prometo não fugir mais de Eprain, eu prometo.
Caspian abraçou ainda mais forte a fada que estava muito assustada, mas aos poucos foi se acalmando, Caspian temia mesmo isso. Ele a conduziu até a casa onde estava, mas Lilive insistia em querer sair dali imediatamente. Caspian concordou e pegando seus pertences e seu cavalo montou Lilive em alazão e ele também e saíram os dois cortando caminho por um vale que daria direto em Eprain, apesar de ser bastante perigoso Caspian não temia o pior, ele estava mesmo preocupado com sua fada, ela estava muito quieta e parecia exausta. Caspian sentia um forte aperto no peito, sabia que todo mal cometido a ela era sua culpa, Lilive sempre foi capaz de dar a vida por Caspian e por muito pouco ele não a perdeu.
Quando se aproximaram do palácio o dia já estava raiando, mas alguns momentos e chegaram, Lilive cochilou um pouco no caminho, mas ao ver Charlotte e suas fadinhas se animou um pouco mais. Todos ficaram preocupados quando a viram ferida.
- Levem ela para ser tratada.
- O que aconteceu Caspian? Perguntou aflita a raposa.
- Lilive foi atacada por ladrões vindos do oriente. Precisamos acabar com estes vermes, não podemos deixar que eles invadam nossas terras dessa forma! Lilive quase foi vendida por estes infelizes.
- Vou pedir que caçem eles alteza e todos os outros que ousarem adentrar em Eprain.
Caspian concordou e também se retirou para descansar, a viagem o havia preocupado por demais.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora