XIX- Fragmentos de Amor no Ar

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O sol já havia desaparecido, o dia pareceu longo e cansativo para a menina, ela nunca havia testado tanto sua paciência como naquele dia nem mesmo com seus irmãos fora tão difícil e apesar de tudo, de todas as brigas preferia estar com todos eles agora longe de tudo isso, de toda aquela confusão. Sem saber quando poderia voltar para casa ou se voltaria um dia. Ela temia por sua vida, mas pensando em seu pai na sua ausência seu desaparecimento para onde quer que ela fosse seria rejeitada, então não faria diferença o que fariam com ela ou não; ela só mentiu para todos ali por Charlotte, Sol viu que além de colocar sua vida em perigo poderia pôr a da raposa também ela poderia ser considerada traidora e Sol não queria isso. Já basta de perder as pessoas que ama, Charlotte podia ser diferente mas para Sol era uma amiga, ela esteve chateada com Charlotte, mas sentia-se grata por fazer as pazes com ela. A menina respirou fundo deixando que o ar puro e refrescante entrassem em seu pulmão.
Nesse momento tudo que Sol queria era estar em sua casinha modesta e simples no campo colhendo cenouras de dia e a noite ouvindo seu pai tocar flauta no luar. Ela sentia sua falta, como isso doía em seu peito! E ela chorava de saudades dele como uma criança chora por medo. Tudo isso enquanto segurava na mão a fruta brilhante que colhera da árvore na passagem para este mundo.
ㅡ Peço que me perdoe pela forma como a trataram hoje mais cedo no interrogatório... ㅡ Disse Caspian e Sol tão surpresa quanto ele, por vê-la chorar se virou para encarar o rapaz, mas tratou de esconder a fruta com as mãos para trás, temia que o príncipe reconhecesse que aquilo pertencia a passagem para Eprain e descobrisse seu segredo.
ㅡ Não devo reclamar de nada estou feliz por estar contando com minha vida. Aliás... obrigada alteza... disse ela humildemente enquanto se curvava perante ele.
Ele a segurou pelos braços.
ㅡ Não quero que faça isso, és uma convidada especial, és uma amiga, não há porque temer Sol! Disse ele suavemente.
ㅡ Mas...
ㅡ Todos são realmente hipócritas, você disse uma grande verdade, muitas vezes tenho vontade de dizer isso, mas nunca tive sua coragem.
Sol percebeu o olhar encantador que ele tinha, olhos negros e misteriosos, mas não fora só isso, ela pôde pela primeira vez notar sua beleza. Lábios rosados, o nariz mais bonito que já havia visto, uma observação engraçada, cabelos castanhos caídos sobre a testa, pele alva porém assentuada, ombros largos e postura firme. Era um belo príncipe, não que ela já tenha visto algum além dele. Sua voz era mansa como águas de um rio quando dorme.
ㅡ Eles são pessoas difíceis de lidar. Já parei para pensar o quanto me espera quando ganhar minha coroa, estarei tão encrencado quanto um rato numa emboscada de gatos. Caspian sorriu com seu pensamento e Sol não pôde deixar de sentir-se mais tranquila.
ㅡ Você é engraçado alteza...
ㅡ Caspian, me chame de Caspian... disse ele tranquilamente.
ㅡ Desculpe.
ㅡ Tenho uma grande novidade!
ㅡ E qual seria? perguntou Sol transbordando curiosidade diante do sorriso do príncipe.
ㅡ Não sei se já sabes... mas serei coroado em breve, daqui há três dias. Estão preparando um grande baile de coroação, você estará lá não é mesmo?
ㅡ Um baile?
ㅡ Sim. Lilive está organizando alguns detalhes, mas logo todos do reino ficarão sabendo quando anunciarem a todos. Você é minha primeira convidada.
ㅡ Eu? perguntou Sol surpresa com o convite.
ㅡ Você não parece animada... disse Caspian soando desapontado.
ㅡ Ah, me desculpe altez... Caspian! mas é que nunca fui em um baile antes e não saberei como me portar diante de todos do reino, e se recomeçarem as ameaças? não quero estragar sua festa...
Caspian se aproximou de Sol e segurando sua mão tratou de acalmá-la.
ㅡ Um baile real sem minha convidada especial não teria o mesmo encanto. Disse ele encarando Sol profundamente, o que a deixou corada e extremamente tímida.
ㅡ Perdão alte... Caspian... mas realmente não posso ir.
ㅡ Você sabe dançar?
ㅡ O quê?
ㅡ Perguntei se sabes dançar?
ㅡ Não. Na verdade é um dos muitos motivos que tenho para não ir, não quero que pensem que sou um bobo da corte.
ㅡ Ah... você não deve dançar tão mau assim! estais exagerando!
ㅡ Não estou não!
ㅡ De todo modo quero que esteja presente em meu baile, não é mais um convite, é uma ordem, então... irá desobedecer o futuro rei de Eprain?
Diante de tanta insistência do príncipe e relutância da parte de Sol para não ir, ela decidiu concordar, era melhor ter o rei ao seu lado do que contra ela.
ㅡ Tudo bem. Eu irei... disse Sol meio cabisbaixa o que deixou Caspian feliz por ouvir tais palavras.
ㅡ Não te preocupes Sol... eu prometo ser paciente e o mais compreensível possível quando estivermos dançando.
ㅡ Mas alteza não posso...
ㅡ Vou lhe contar um segredo, quando tinha sua idade não sabia dar mais que dois passos de cada lado, Lilive me ensinou e hoje sou um dos melhores dançarinos do reino. Eu serei paciente e farei de tudo para lhe ajudar.
Eles se olharam, seus olhos cruzaram a mesma linha tênue entre o desconhecido, Sol nunca soube o que era o amor até aquele momento, pois sentiu seu coração disparar como tambores de festa e suas mãos suarem como cachoeiras. Ele não ousou desviar os olhos, ela também não, até que Lilive chegou.
ㅡ Vejo que tudo está bem... disse a fada, parecendo ofuscada de raiva, mas soube controlar bem, pois Caspian ainda não havia percebido e Sol também não.
ㅡ Estava aqui tentando animar nossa primeira convidada para o baile. Depois de ouvir tantos insultos ela merece um pouco de alegria, eles foram muito maus com ela Lilive!
ㅡ Eu creio que só queriam o proteger e proteger nosso reino alteza...
ㅡ Ah, vamos Lilive admita que você também não os suporta!
Ela olhou para Sol que a olhou de volta assustada.
ㅡ Há tanta coisa que não suporto aqui alteza, mas tenho que admitir. Eles foram precipitados.
ㅡ Realmente. Bem, vou me recolher, o dia foi longo e já estou cansado. Obrigado por compreender Lilive, você é mesmo a melhor de todas as fadas, ouça Sol, essa aqui é minha guardiã, a melhor criatura desse reino. Quero que sejam grandes amigas certo? Sol encarou a fada com receio, mas nada disse, a não ser um singelo e discreto sorriso em direção ao príncipe que se retirou deixando as duas a sós.
ㅡ Com sua licença...
Sol ia se retirar quando Lilive a parou.
ㅡ Não duvido que seremos boas amigas, não a odeio Sol, só estava com medo de que você fosse alguma intrusa...
ㅡ Agora já sabes que não sou, vim aqui em paz, só lhe peço que por favor não me trate como se eu fosse um monstro.
ㅡ De forma nenhuma! jamais faria isso! ainda mais com alguém tão boazinha como você. Sobre o baile... Se precisar de ajuda pode contar comigo.
Sol sentiu que aquelas palavras eram indiferentes, ela não acreditava muito em uma reconciliação com a fada, de todas as criaturas daquele reino, Sol sentia que Lilive nutria grande ódio por ela, Sol só não sabia ainda o por que.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Where stories live. Discover now