Capítulo 27 - O flagrante

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— Tudo nos conformes para meu ingresso na política, papai? — Perguntou Eustácio, meio tonto pela bebida e por causa do balanço do carro.

O coronel colocou um cigarro em sua boca e o acendeu, deu uma tragada e assistiu a fumaça azulada sair de sua boca. Sabia que seu filho deveria casar-se com Aurora, somente assim Álvaro daria a bênção para o garoto entrar no partido e conseguir o devido apoio para iniciar sua carreira.

— Acontece que, meu filho, Álvaro ainda está com o pé atrás apesar de seu pedido de namoro. — Ele falava sem ao menos olhar para seu filho, continuou prestando atenção na fumaça do cigarro. Eustácio ouvia atento o que o pai lhe dizia, como um fiel atento a tudo que o padre falava na missa. — Acredito que apenas depois do casamento com Aurora sua entrada na política será possível, essa é a condição de Álvaro. Todos os lados ganham com isso. Ele casa sua filha mais velha com um rapaz de família de nome e você, bem... você consegue facilmente um cargo como vereador ou deputado estadual. Mas, acredito que você amando Aurora do jeito que sei que ama, isso tudo não vai ser nenhum sacrifício algum...

Neste momento, Betinho olhou para Eustácio, pôde ver a pele de seu irmão ficar branca, tão branca que era quase possível ver as veias de seu corpo. Percebeu também o irmão mais velho começar a suar, suar e suar e por fim, viu o olhar de Tacinho se perder, ficar negro ao olhar para o nada. O carro parou no semáforo, sem ouvir mais o que seu pai lhe dizia, num movimento rápido e assustador, Tacinho botou sua cabeça para fora do carro e vomitou. Urrou enquanto fazia aquilo, sentia os movimento drástico de seu estômago se contorcendo em suas entranhas, a garganta ardendo, queimando e botando todo aquele álcool para fora.

— Ora! Estás bem Eustácio, meu filho? — Perguntou o pai.

O garoto sentou-se novamente no assento do automóvel, tirou um paninho que carregava consigo dentro do terno e limpou a boca. Ainda estava pálido, tão pálido como se estivesse morto, Betinho ainda notava aquilo. Respirou fundo e respondeu ao pai.

— Estou ótimo papai. Apenas bebi demais durante o jantar... — Eustácio falou ainda limpando sua boca, mas logo foi interrompido.

— Durante e antes o jantar, meu filho. A bebida é um veneno de gosto amargo, mas prazeroso. — O coronel sabia do que estava falando. Ele já foi jovem um dia, já bebeu demais e já sentiu os efeitos negativos dela. — Mas enfim, como eu ia dizendo. Namore por mais alguns meses, em seguida, peça a garota em casamento e vamos casá-los o mais rápido possível!

Betinho continuou observando seu irmão. Mesmo depois de vomitar, continuava pálido, parecia que mais alguma coisa além da bebida estava lhe fazendo mal.

Mas o quê?

— Certamente papai, mas podemos falar sobre isso amanhã? Minha cabeça está doendo.

O coronel não disse nada, mas concordou com o filho. Não gostou nada de ter de ficar calado, estava ansioso, queria botar essa etapa do plano em prática o quanto antes. Ficou calado com os braços cruzados o resto do trajeto, não demorou muito para que chegassem ao palacete. Entraram, Eustácio jogou-se no sofá afrouxando a gravata, Betinho queria que todos fossem logo dormir para poder se encontrar com Laurinha e ter um tempinho a sós com a garota. Mas seu pai também estava muito contente pelo desempenho de seu caçula com Lídia, tinha de falar isso aos quatro cantos do mundo.

— E você rapaz? Você se saiu muito bem conversando com Lídia, aquela pequena revolucionária. — Neste momento, Laura surge vindo da cozinha, por de trás do coronel — Devo concordar com Dona Teresa, vocês dois formam um belo casal. Quero ver vocês namorando o quanto antes, meu filho!

Laura veio até eles, sua presença surpreendeu o coronel. A garota tentava conter a raiva que sentia após ouvir o que o coronel havia dito. Seu Betinho estava criando caso com outra garota? Realmente, o conto de fadas era destinado a acontecer apenas nas páginas dos livros.

Café com LeiteWhere stories live. Discover now