Capítulo 26 - Namorados, enfim.

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Betinho ficou em seu quarto o resto do dia.

Dormiu a maior parte do tempo, por isso o castigo não pareceu tão tortuoso, mas de tarde as coisas mudaram. Acordou e olhou para o relógio, sabia, logo seu pai chegaria em casa. Mas o coronel havia se adiantado... Eis que o garoto ouve a marcha bruta, os passos fortes de seu pai batendo os pés no corredor e vindo até seu quarto, Betinho estremeceu. Sabia que era a chegada a hora: receberia o verdadeiro castigo. Os passos foram ficando cada vez mais perto, foi ouvindo eles e tentou buscar proteção no travesseiro que havia em sua cama. A porta se abriu num movimento rápido e revelou a silhueta de seu pai contra a luz que vinha no corredor.

O cigarro que o coronel fumava, brilhou quando tragou a fumaça para seus pulmões. O pai caminhou até a cama de seu filho e parou diante dela.

— Alberto Andrada! — O coronel chamou o menino, este demorou alguns segundos para sair por de trás do travesseiro. Betinho revelou sua face, olhou para o pai com tristeza, mostrando estar arrependido com o que acontecera. — Mas que diabos! O que aconteceu?!

— Eu perdi a cabeça, papai. Agi sem pensar... Me arrependo do que fiz...

— Perdeu a cabeça? Agiu sem pensar? Ora essa, Wanda é como uma mãe para você! Perderia a cabeça deste modo se fosse sua mãe? — O coronel olhou raivoso, mas sabia o que fazia. Betinho pensou, ficou em silêncio e concluiu, realmente, talvez se fosse sua mãe, não teria feito aquilo. Olhou para baixo, mostrando desapontamento. — Wanda é uma pessoa muito importante, confio nela para cuidar de você, Alberto. Você deve respeitá-la! Quando eu não estou presente, ela que deve ter a palavra final! Entendes?

— Entendi, papai. Me perdoe.

O coronel olhou sorrindo para o filho, mas tirou o cinto de sua calça e o empunhou como se este fosse uma arma.

— Deite-se na cama, Alberto.

— Mas papai, eu pedi desculpas e...

— Pouco me importa suas desculpas, se você agiu como uma criança, então vai ser punido como tal. Deite na cama, de bruços, já! — Ele disse e preparou o cinto para as palmadas que viriam a seguir. Betinho obedeceu o pai. Por Deus! O garoto estava arrependido, arrependia-se do que havia feito, o garoto não havia pensado bem, mas agora receberia o punimento.

O coronel ergueu o cinto e desferiu cinco golpes com do cinto sobre as nádegas de Betinho, os desferiu com força, com vontade. Enquanto o coronel erguia o cinto e batia em seu filho ele pensava na "vergonha" que havia sofrido ao ser interrompido por Wanda enquanto estava em reunião com o advogado. Um golpe, depois golpes, três goles e assim se seguiu até chegar ao quinto, Betinho não chorou no momento, aguentou a dor que sentia, no final, sentou no pé da cama com os olhos cheios de lágrimas.

— Espero que isso sirva como lição. — Falou o coronel, prendendo o cinto na calça, antes de partir do quarto do filho, parou um momento e lembrou do modo que seu pai, o falecido general Andrada punia seus escravos. Ele erguia o chicote de couro de boi e lançava-o com força sobre os pobres coitados com força, mas diferente do que eu e você sentimos ao lembrar, ao imaginar essa imagem, o coronel imaginava com saudade da figura do pai naqueles momentos. O velho falecido general Andrada, era um herói para ele.

Respirou fundo, olhou para o filho e disse:

— Arrume-se. Tome um banho e vista uma roupa, vamos jantar com os pais de Aurora hoje. Espero que você se comporte de agora em diante, Alberto. Vai se comportar?

— Sim, papai. Vou.

O coronel caminhou lentamente, parou diante da porta e olhou novamente mais uma vez para seu filho. Saiu dali, fechou a porta lentamente e foi para seu quarto, tomar um banho e se preparar para o jantar.

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