Ursel assentiu, talvez deixassem alguma brecha e era verdade, mas tudo aparentava estar milimetricamente calculado.

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Não muito longe das percepções de Al Sisi, a população que progressivamente já demonstrava seu apoio silenciosa a Karila, vibrando a cada novidade que tinham da mesma em um mundo tão limitado de informações, se rebelava de maneira veemente as ações políticas teatrais do chefe de estado obsessivamente autoritário.

Na última entrega de água do mês, com o descontentamento mediante a pouca quantidade que o homem tinha a coragem de oferecer, cada dia sendo mais gradativo a ceder suas obrigações ao povo, um jovem de aproximadamente 16 anos derrubou o galão de plástico pesado no chão, sentindo toda a água derrubar em seus pés e joelhos no meio da terra batida, daquele caminhão pequeno e sujo que o governo oferecia as garrafas ele bradou alto batendo sua palma contra a madeira velha.

São estúpidos e tentam ganhar o povo com nada! Estúpidos imorais que tentam comprar nossa sede com o lixo de suas muralhas! – Gritou sentindo o tapa raivoso de um dos agentes da polícia religiosa que o jogou ao chão, despertando a fúria de mais outros jovens que ao avistar toda a cena, se aproximaram vociferando verdades que faziam os homens engatilhar as armas e ameaçar que atirariam.

— Atirem como covardes, alá não temerá levá-los para as profundezas mais obscuras que existem! – Uma das velhas senhoras que usava da água para lavar roupas, gritou enquanto tentava ajudar o jovem cambaleante a se erguer do chão. Os homens se entreolhavam à medida que o grupo grande da população miserável se aproximava cada segundo mais raivosa, tomando coragem nos ofegos alheios para gritarem por si mesmos.

Um dos agentes da polícia religiosa subiu na parte traseira do velho caminhão, e com uma maldade sem fim, começou a derrubar todos os galões de água no chão, quebrando cada um deles e molhando seja quem for que tentasse em desespero evitar o que faziam, os que tentavam se aproximar levavam coronhadas em suas testas, e a luta física não era durável quando mais dos agentes armados ajudavam o homem a cometer tais atrocidades.

Foram 25 segundos de uma pancadaria sem fim contra quem ousasse evitar que jogassem sua água para beber diretamente no chão, como um castigo por questionar a soberania de seu presidente.

— Alguns homens esquecem de tudo, menos de serem ingratos. Que apodreçam. – Um deles recitou um pequeno pedaço do alcorão, se blindando mediante a sua máscara religiosa quando indiferente avistaram mulheres chorando em desespero no meio de toda confusão.

Karila será a nossa voz! Alá irá nos recompensar! – Um daqueles jovens gritou, sentindo o apoio de seus companheiros quando em afirmações altíssimas eles mantinham seu apoio a princesa do Egito. Os homens de Al Sisi se entreolharam e se moveram para sair em seus carros e caminhões, ignorando toda a dor das famílias que não teriam o que beber e usar naqueles dias.

A situação se tornava irremediável.

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O diretor do conselho de antiguidades egípcio contatou a equipe Belga-Americana para que fizessem a catalogação de tudo aquilo que encontraram em sua expedição, acompanharam de perto, como líder da expedição, Ursel convidou Gold para acompanha-la na viagem ao Cairo, iriam antes de todos os historiadores e encontrariam Karila para que a finalização e autorizações internacionais pudessem ser repassadas, estariam ligados a aquelas descobertas para o resto de suas vidas, fotografias e até mesmo permissões para exposição no Museu de Bruxelas necessitavam acontecer, eram bastante burocráticos.

Karila seria gravada historicamente como uma das historiadoras responsáveis pela expedição ao lado de Ursel e Gold. Era uma descoberta efusiva, todos estavam delirantes e orgulhosos, assim como Lauren que não conseguia esconder sua animação por um segundo sequer ao pensar que haviam conseguido.

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