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Jota

- Não falamos necessariamente um com o outro, mas vou sabendo dele pelo meu pai. Os nossos pai já se conheciam antes mesmo de termos nascido e meio que foi por influência deles que começámos a namorar - explica - Podes tirar uns quantos guardanapos para nós, por favor? - pede, apontando para uma das gavetas do balcão e assim o faço - Obrigada - agradece, colocando-os num dos tabuleiros já preenchido - Pronto, como podes imaginar também não foi fácil explicar a praticamente toda a família que tínhamos acabado depois de termos começado a namorar com apenas 12 anos - volta a falar e fico surpreendido, mais uma vez, com o que acaba de me revelar - E nós nem explicámos toda a verdade, porque não queríamos que eles se afastassem por problemas que são nossos e não deles, percebes? O que dissemos foi que simplesmente a nossa relação se tornou muito rotineira e que nos fomos afastando com o tempo o que, não é, de todo, mentira. Aliás, acho que foi mesmo esse o nosso problema. Falta de comunicação - encosta-se ao balcão, junto a mim, depois de termos tudo preparado - Não estou a desculpá-lo, porque nada justifica uma traição, mas a nossa relação já estava estragada antes disso se ter sucedido. E, como disse, fiquei mais chateada pelo facto de eles terem deixado o meu irmão naquele estado, do que propriamente de ter perdido um namorado. Claro que também fiquei chateada com ele porque era um dos meus melhores amigos e a minha confiança nas pessoas ficou um pouco tremida - suspira.

- Acreditas no amor? - pergunto de repente e ela mostra-se confusa - Se continuas a acreditar no amor, mesmo depois daquilo que aconteceu?

- Claro que sim - sorri genuinamente o que me leva também a sorrir - Ao contrário do que dizem, não acredito que "os homens sejam todos iguais". É verdade que eles traem, mas as mulheres também o fazem - encolhe os ombros - E eu sempre tive a relação dos meus pais como maior exemplo e quero ter algo como aquilo que eles tiveram. Sem a parte do casamento e tudo mais, porque o casamento é a maior causa dos divórcios - fala meio que repugnada quando profere a palavra "casamento".

- O casamento não é a maior causa do divórcio. As pessoas são-no - deixo clara a minha opinião.

- Podes ter razão, mas também não é um pedaço de papel que irá medir aquilo que sinto pela pessoa que amo, certo? Aliás, não é um papel, nem é nada. É feio sequer pensar que o amor por alguém pode ser medido, não achas? - interroga-me e apenas encolho os ombros, sem saber o que responder - Nunca estiveste apaixonado? - volta a interrogar e sinto o seu olhar a observar-me, tentando perceber a resposta pela forma como o meu corpo reage àquela pergunta.

- Creio que não - digo, sem saber se é a real resposta.

- Se tivesses estado, saberias - fala com convicção.

- E tu? Já estiveste apaixonada? - não poderia ser o único a ficar exposto daquela maneira.

- Quando penso nisso, não sei o que responder. Portanto, como to disse, a resposta é não - responde, utilizando a lógica que utilizou anteriormente - É muito mau da minha parte?

- O quê? - não percebo ao que se refere.

- Assumir que nunca estive apaixonada? Quer dizer, eu estive numa relação durante quase 5 anos - explica.

- Acho que não - respondo verdadeiramente - Como disseste, vocês começaram a namorar muito cedo, sabiam lá o que era o amor - dou de ombros.

- Acho que tens razão - acena com a cabeça - De qualquer das formas, amei-o de outras formas e respeitei-o sempre, em tudo, ao contrário daquilo que ele fez comigo.

- Ora aí tens. E ainda bem que conseguiste sair por cima de toda esta situação - falo genuinamente - Há muita gente que não o consegue.

- É, isso é mesmo muito triste. Não nos conseguirmos soltar de alguém porque o amamos demasiado para o perder. Mas, sinceramente, sempre tive amor próprio que chega e sobra - o sorriso volta à sua cara - E depois de quase 5 anos presa a uma relação posso admitir que a vida de solteira é a melhor - fala e eu rio-me com a sua afirmação - Estou-te a falar a sério. Acredita, estás muito bem assim, não te arruínes - volto a rir e a Clara acaba por se juntar a mim.

- Olhem lá, mas vocês vão demorar muito? Estou esfomeado - ouvimos uma voz vinda do exterior, o que identificamos ser o irmão da rapariga e acabamos a rir ainda mais. 

- É melhor irmos. O Ricardo não é o Ricardo quando está com fome - brinca, utilizando o famoso slogan da Snickers, e pegamos cada um num tabuleiro, dirigindo-nos, de novo, para junto dos nossos amigos.

- Foda-se, estava a ver que não! O namoro estava assim tão bom? - o Ricardo pega logo numa metade de sandes e leva-a à boca, o que me deixa embaraçado, mas a Clara tem a sua resposta na ponta da língua.

- Olha a educação, Ricardo! Primeiro, cuidadinho com essa linguagem, olha que temos ali piri-piri. Segundo, não se fala de boca cheia, seu neandertal. E terceiro, o namoro estava ótimo, obrigada por perguntares - responde prontamente, o que me faz ficar com as bochechas a queimar de tal embaraço, mesmo sabendo que a rapariga estava apenas a brincar, respondendo às provocações do irmão. O mesmo é notado pelo Tomás, que olha para mim a rir e faz sinal para o Gonçalo, que se junta à risota, fazendo com que revire os olhos às parvoíces dele e comece a comer também.


Como ainda estávamos no verão, apesar do sol já se começar a pôr mais cedo do que nos dias quentes de julho e agosto, ficámos na piscina até tarde. A Clara e o Ricardo ainda insistiram para que ficássemos para jantar, garantindo que eles próprios tratariam de tudo, mas todos concordámos que já teríamos dado trabalho suficiente aos dois irmãos. Por isso mesmo, voltámos para as nossas respetivas casas, eu à boleia do pai do Gonçalo, juntamente com o Tomás, enquanto as meninas foram juntas, à boleia do irmão mais velho da Inês.

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A Clara é bastante filosófica, não acham? 😂
Mais um bocadinho da boa amizade criada por este grupo maravilhoso, eheh.

Falando noutra coisa: comecei as aulas há duas semanas e agora será mais complicado atualizar todas as semanas, que era o que tinha andado a fazer desde que comecei e, além do mais, todos os capítulos que publiquei já os tinhas escrito antes de decidir publicar a sério a história portanto, a partir daqui, não sei o que poderá sair, ou não. Mesmo assim, vou tentar fazer o melhor que posso. Obrigada por tudo e não se esqueçam de que gosto sempre de ler as vossas opiniões 😚

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⏰ Last updated: Mar 19, 2019 ⏰

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