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Sexta-feira. A primeira semana de aulas tinha chegado ao fim e, ao contrário daquilo que pensei, as coisas não podiam estar a correr melhor. Já tinha feito amigos e podia dizer que me dava bem com todos os meus colegas. Ou quase todos.

- Pai, estou em casa! - grito assim que ultrapasso a porta da entrada.

- Olá, maninha - é o meu irmão que chega ao pé de mim e me cumprimenta - O pai acabou mesmo agora de sair, foi chamado de urgência - explica, enquanto o sigo até à cozinha.

- Olá, Belinha - cumprimento a governanta da casa, que se encontra à volta do fogão e que se assusta quando a abraço por trás - Que cheirinho! - falo dos seus cozinhados.

- Ai, menina! Quer matar-me do coração? - diz, levando a mão ao peito e eu apenas digo que não com a cabeça - O almoço está feito. Querem que seja servido já? - olha para mim e para o Ricardo.

- Sim, por favor. Estou esfomeada - respondo, esfregando a barriga - Mas podemos comer na cozinha, assim fazes-nos companhia - proponho.

- Não acho muito boa ideia, menina.

- Vá lá, Belinha - o meu irmão dirige-se a ela - Vá lá, vá lá, vá lá - abraça a mais velha - Depois desse trabalho todo, mereces ser igualmente prendada com os teus cozinhados - diz, roubando-lhe um beijo na bochecha - Sim?

- Eu aceito - acabo por se render - Mas tenho que comer rapidamente porque o seu quarto está um caos, menino Ricardo.

- Porque é que isso não me espanta? - gozo e o meu irmão gémeo lança-me a língua de fora - Vou só pôr a mala no quarto e lavar as mãos - e assim o faço, até me voltar a dirigir à cozinha - Quando é que vais aprender a organizar-te sozinho, Ricardo? - falo seriamente com o meu irmão, já com o prato à minha frente.

- Cala-te e come! - fala.

- É o que estou a fazer, duh. Está delicioso Isabelinha, como sempre - elogio a comida confeccionada pela mulher mais velha.

- Muito obrigada - sorri genuinamente - Mas conte-nos, como correu a sua primeira semana de aulas? - pergunto e sinto os olhares das duas pessoas presentes ali apontados para mim.

- Normal - respondo e levo outra garfada à boca.

- Só normal? - o Ricardo insiste.

- Sim. O que queres que diga mais? Fiz algumas amizades, os professores são decentes, pelo menos foi o que mostraram durante esta semana, e toda a gente foi simpática.

- Deixa-me muito feliz ouvir isso - a Belinha confessa, o que me faz sorrir.

- Mas mudando de assunto... Disseste que o pai tinha sido chamado de urgência. Sabemos o que é que aconteceu? - pergunto curiosa.

- Descobriram uma prova qualquer que pode ilibar o cliente dele e como a audiência é amanhã, precisaram de tratar de toda a documentação necessária para que seja apresentada como a lei indica - explica enquanto vou acenando com a cabeça.

- E as tuas aulas? Como correram? - desta vez é a minha vez de fazer o interrogatório.

- Uma seca. Como sempre. Mas o Zé perguntou por ti, disse que estava com saudades.

- Que parolo - reviro os olhos, não dando importância ao assunto.

- Não sejas assim, ele curte mesmo de ti.

- Ele é um chato, meu! Ainda bem que já me livrei de o aturar todos os dias.

- Ainda vais ter saudades - goza.

- Só por cima do meu caixão.


Depois do almoço subo novamente até ao quarto para preparar a mala para o ensaio. Sento-me um bocado à secretária, enquanto faço tempo para serem horas de ir embora, quando reparo no sinal de notificação do meu telemóvel.

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Desconhecido
Olá! A Inês deu-me o teu número, não te zangues. Amanhã de manhã tenho jogo no Seixal e queria saber se gostavas de ir ver. O pessoal vai todo lá estar e depois é suposto irmos a qualquer lado comer.
Jota

Halo! Sim, só preciso de falar com o meu pai, mas em princípio é na boa 😋
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Jota
Fixe. Se quiseres trazer mais alguém, podes trazer. Acho que é o pai do Gonçalo que vai levar os outros, na carrinha de 7 lugares, portanto podes combinar ir com eles, se quiseres. Até amanhã

Até amanhã. Obrigada pelo convite
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Ouço bater à minha porta e dou autorização de entrada.

- Estás pronta? - vejo a cabeça do meu irmão surgiu pela porta entreaberta, começando a rir-me.

- Sim, podemos descer - respondo e pego na mala, saindo do quarto acompanhada por ele - Ricardo - olho para ele com uma expressão conhecida já por ele.

- O que é que vem daí? - pergunta já desconfiado, revirando os olhos.

- Por acaso não estás interessado em ir ver um jogo do Benfica amanhã? - pergunto com medo da resposta, enquanto nos dirigimos para o carro.

- Estás a gozar com a minha cara? - quase que grita depois de entrar no lugar do pendura.

- Não - digo, porque para mim era bastante óbvio que não estava - Um colega meu joga num escalão mais abaixo e perguntou-me se eu queria ir ver o jogo. Vai mais pessoal. O pessoal com quem me dou - explico.

- E porque é que precisas da minha companhia? - olha para o banco de trás quando já estamos a fazer a viagem para o clube.

- Custa-te alguma coisa? - pergunto aborrecida - Ao menos sempre levantavas o rabo da cama para fazer alguma coisa de interessante - refilo.

- Sim, porque ver o Benfica é interessantíssimo - fala ironicamente.

- Anda lá, mano - peço - Assim conheces os meus amigos - continuo, mas depressa sou interrompida.

- E as amigas? Vão amigas? - de repente a conversa começou a interessar-lhe.

- Pelo que percebi, sim, vão - respondo - Vens?

- Vou pensar no teu caso - pisca-me o olho e volta a virar-se para a frente, fazendo conversa com a Isabelinha.

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Ando a atualizar todas as semanas. Orgulhosas? 😜

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