Capítulo 16

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William estava em sua sala em meio a papéis, pegando pistas antigas, as novas que apareciam, vendo o que era importante, o que não era... E pensando na possível volta de Crowley à cidade. Só de lembrar que havia visto o cara na noite anterior, sentia seu coração acelerar, não que ele estivesse com medo daquele marginal, jamais. Mas... Ele não podia voltar assim de repente. William sabia que Crowley faria de tudo para transformar sua vida num verdadeiro inferno. E o pior de tudo: talvez até conseguisse. Crowley conhecia as fraquezas de William. E muito bem.
Já devia ser oito e meia da manhã, ou quase isso, e ele não tinha sequer fechado os olhos para descansar. Estava completamente acabado. Mas não podia sair dali até que Fátima aparecesse para ele lhe entregar o endereço do ex-marido — namorado, amigo, ou seja lá o que Zachary O'Donnel fora — da Mangor.
— Desculpe a demora. — Fátima disse, entrando na sala, e William deu um leve pulo na cadeira, não esperava que ela aparecesse assim de repente. — E desculpe pelo susto também. — ela deu uma risada fraca e se aproximou.
— Tudo bem. Aqui o endereço. — ele esticou um pedaço de papel para a mulher e ela o encarou.
— Está aqui desde ontem à noite? — ela perguntou como se nada tivesse acontecido, além da morte da garota, no dia anterior e ele deu uma risada cansada.
— Estou.
— Vai descansar, William. Já viram tudo o que tinham para ver e...
— Não. Eu disse a Charlie que cuidaria das coisas enquanto ele estivesse fora e disse que ficaria aqui até você chegar. — ele a interrompeu, dando de ombros.
— Pois bem, estou aqui. Pode ir para casa descansar. Quando eu voltar da casa do ex-marido da Mangor, eu deixo tudo com a Emma e peço para ela te entregar. — ela disse calmamente.
— Ei, eu tô legal. — ele revirou os olhos. — E vou esperar você voltar de lá. Eu tenho que terminar de arrumar isso tudo aqui.
— Como preferir. — ela murmurou. — Não vou demorar.
— Demore o quanto for necessário, desde que traga informações importantes. — ele disse a encarando e ela sorriu.
— Pode deixar. — Ela respondeu antes de sair da sala.
William continuou focado em seus papéis. Sentia sua cabeça latejar e seus olhos pesarem, mas não podia sair dali agora. Teria que esperar Fátima voltar e se assegurar de que ela ficaria ocupada o resto do dia. O motivo disso tudo? Carta do James. Ela não precisava nem sequer desconfiar do que ele tinha em mente.
Uns minutos depois, a porta se abriu novamente e ele bufou.
— Trouxe um café pra você. — Emma disse sorrindo e colocou o copo em cima da mesa do rapaz.
— Obrigado. — ele murmurou, dando um gole no café.
— Não está mais tão quente... Estava só esperando Fátima sair daqui. — ela deu de ombros.
— Obrigado, de qualquer forma, querida Emma. — ele sorriu.
— Quer me contar o que está acontecendo? — ela perguntou mordendo o lábio e William levantou os olhos para ela lentamente.
— Não está acontecendo nada, Emma. — ele respondeu calmamente. Emma não precisava saber ainda que ele tinha transado com Fátima, certo? Ok, talvez ela devesse sim saber de tudo e aconselhar o amigo. Mas o orgulho de Bonner não o deixava contar a verdade à amiga.
— Você anda estranho, William. Até quando você acha que vai aguentar esconder, seja lá o que isso for, de mim? — ela o encarou nos olhos.
— Foi para isso que me trouxe o café, Emma? Para tentar arrancar uma coisa que não está acontecendo de mim? — ele perguntou, largando de vez os papéis e encarando a loira.
— É isso o que acha que eu vim fazer? — ela o respondeu com outra pergunta e o rapaz engoliu seco.
— Não, Emma. Eu...
— Você é só um orgulhoso retardado, William. Eu estou aqui querendo ajudar e você sabe disso. Você simplesmente não aguenta segurar as coisas por muito tempo. — ela o interrompeu e revirou os olhos. — Você sabe que isso tá te sufocando.
— Porra, Emma. Tá. — ele puxou a carta do bolso e colocou em cima da mesa. — James deixou isso antes de sumir. Para o pai e para mim, e aí ele fala do meu pai. E ainda diz que se o pai dele confiar em mim, me procurar, ele estará seguro. Mas não diz o porquê. — William passou as mãos no rosto e bagunçou os cabelos logo em seguida. — Ele deixou um endereço.
— E você não está pensando em ir até esse endereço, né? — Emma perguntou, sentindo-se um tanto quanto arrependida de pressionar o amigo a contar-lhe tais coisas, sabia o quanto era ruim para ele. Mas... Fora tudo com as melhores de suas intenções.
— Eu não vou até o lugar, ok? — ele segurou uma das mãos de Emma. — Tenho que cuidar das coisas da sua casa, tenho que botar uma galera pra investigar a morte da namorada do David e... A Fátima — ele tossiu levemente ao pronunciar o nome da mulher. — já me convenceu a não ir até esse lugar.
— Ah, claro... — Emma mordeu o lábio para segurar um sorriso. — Vocês estão se dando melhor agora, né? — ela perguntou com um sorriso alegre nos lábios e brincando com uma caneta qualquer.
William revirou os olhos e pegou a carta em cima da mesa, guardando-a no bolso novamente. Sabia que citar o nome de Fátima perto de Emma a faria virar o assunto de toda a conversa.
— Estamos... Indo bem. — ele respondeu mordendo o lábio inferior para segurar a vontade de contar a Emma o que acontecera naquela mesma sala na tarde anterior.
— Isso é bom. — Emma sorriu. — Fátima é uma boa garota.
Eu sei, William pensou e mordeu o lábio inferior para não falar demais. Seus pensamentos sobre Fátima estavam... Soltos demais depois do tal acontecimento em sua sala e isso o deixava completamente frustrado. Ele sabia o quanto Fátima era atraente, mas nunca pensara que cairia tão rápido na dela e tentaria algo, e muito menos sequer imaginara que ela se renderia a ele tão rápido também depois de todas aquelas brigas idiotas e de todas as coisas rudes que ele dissera a ela.
— É... — ele deu um sorriso amarelo. — Me ajuda a organizar essas coisas? — ele pediu com o intuito de mudar de assunto e Emma soltou uma risada fraca.
— Ajudo, seu chato. — ela respondeu sorrindo e puxou a cadeira para o lado de William para começar a analisar os papéis. William sorriu de volta e fingiu analisar também. Ele estava cansado, sua cabeça latejava, seus olhos pesavam, Fátima pairava toda hora em sua cabeça e ele queria sair logo dali e ir até o maldito lugar, que ele tanto conhecia, que estava na maldita carta que James deixara. Por mais que ele tenha achado uma ótima maneira de mudar de assunto com Fátima quando falara sobre isso e acabara de dizer a Emma que não iria até o local, ele iria. Não se importava. Ele conhecia o dono daquela maldita casa, naquele maldito endereço. Até porque aquela casa era dele. Mas por que diabos James deixaria justo aquele endereço numa carta para o pai e para ele? William tinha mais certeza do que nunca agora: James estava morto. Provavelmente descobrira coisas demais... Coisas que deveriam ficar enterradas até a hora que William quisesse.

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