Capítulo 3

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— Eu não aguento mais trabalhar — William murmurou deixando a cabeça cair sobre a grande mesa.
— Ninguém aguenta, meu caro — Emma suspirou e sentou-se ao lado do rapaz.
— Quando isso vai acabar? — ele fechou os olhos com força.
— Eles limparam tudo, tiraram o corpo... E agora os peritos estão lá. Somos chefes, William — ela suspirou novamente. — Devemos ficar.
— Eu sei — ele respondeu e encarou a porta do local, assustado. — Mas que diabos ela está fazendo aqui?
— Quem, o... — Emma interrompeu a própria frase e olhou para a porta. — Fátima! — Emma se levantou rapidamente e caminhou até a mulher abatida.
— Oi, Emma — ela deu um sorriso fraco. — Só voltei para pegar os telefones dos familiares de Paul. E, bem, "cobrir" — ela fez aspas com as mãos — o caso. Ainda tenho que trabalhar. Ele é só mais uma morte de várias que virão, do jeito que tudo está correndo.
— Você não precisa...
— Preciso sim, Emma — Fátima interrompeu a mulher. — Estou bem, relaxe. Já chorei, já gritei, já xinguei. Nada disso o fez voltar. Parar a minha vida por ele, que sabotou minha matéria sobre vocês — ela olhou de relance para William, que apenas escutava a conversa de longe e voltou a falar: — e queria mais é que eu me ferrasse, não vale a pena. Já estou fazendo um grande favor à ele de avisar seus famliares.
— Tudo bem, querida... — Emma suspirou. — Só não podemos liberar nenhum tipo de objeto da casa. Não até acabarmos aqui. Se importa de esperar?
— Não, tudo bem — Fátima tentou sorrir. — Se não for incomodar... Guarde tudo o que encontrarem que tenha telefones e tudo o mais? — ela mordeu o lábio inferior e encarou Emma.
— Ok, te entrego tudo amanhã. Agora vá para casa e descanse — a mulher sorriu para a outra, que apenas piscou um dos olhos. Fátima estava cansada demais para falar ou tentar sorrir. E os olhares de William em cima de si estavam incomodando.
Emma caminhou na direção oposta de Fátima e voltou para o sofá, onde William encarava o nada.
— Guarde tudo o que encontrar com telefones e entregue a Fátima amanhã — Emma disse deixou seu corpo afundar no sofá.
— Você disse que o faria. Você o fará — rebateu o rapaz, mexendo nos cabelos.
— Estou lhe pedindo um favor — ela o encarou.
— E eu estou recusando — ele rebateu, novamente, com um sorriso no canto dos lábios.
— Sei que quer vê-la novamente, William. Vamos lá — ela sorriu abertamente para o rapaz, que lhe lançou um olhar mortal.
— Nunca mais repita isso, querida Emma. E eu já disse: você disse que o faria. Você o fará. — Ele se levantou e, com seu maço de cigarro e um isqueiro nas mãos, saiu.

Já passava das duas da manhã e William continuava lá. Naquela maldita casa. Com aqueles malditos peritos, que, por mais que ele não gostasse, eram seus colegas de trabalho. Não sabia exatamente o porquê de estar ali. Não precisariam mais dele. Mas ele era a porra do chefe daquela madita equipe. E teria que ficar ali até acabarem, o que parecia que não aconteceria tão cedo.
Como não tinha nada para fazer — a não ser analisar toda a equipe e fazer relatórios idiotas que não serviriam para nada —, William decidiu deixar seus pensamentos voarem. E, em questão de segundos, seus pensamentos voaram exatamente onde ele sempre quis: quem estava fazendo aquilo tudo? A parte mais enigmática de seu trabalho. A parte que ele mais amava. A parte que ele mais se dedicava. William era um ótimo policial — era um ótimo em tudo, para falar a verdade, menos no quesito humano —, sabia muito bem juntar as peças e montar todo o quebra-cabeça. Sabia a hora de invadir os lugares, sabia a hora de sair, sabia a hora de entrar de fininho e ficar espionando, sabia onde colocar seus homens — e mulheres, claro, sem machismo! —, sabia como fazê-los raciocinar de verdade. Ele, de fato, era como o Dr. House, porém no Direito ao invés da Medicina.
Soltou um suspiro cansado e vasculhou sua mente em busca de alguma informação importante. A quem esse útlimo morto, o Paul, perturbava? Fátima Bernardes, talvez. A quem a querida Owen Mangor tanto perturbava? Ninguém. Não fazia sentido colocar Fátima como suspeita, a mulher quase morreu ao ver seu revisor perturbador morto. Irônico, não? Pois é. Tudo naquela maldita vida era irônico. Tudo naquela maldita delegacia era irônico. Tudo naqueles malditos assassinatos era irônico. Que tal resumirmos isso? A vida, toda, de fato, é irônica. E William era só mais um a querer e se oferecer a tentar desvendar esses malditos mistérios da vida e fazer das irônias realidades ou não. E inteligência para fazer isso era o que não lhe faltava. Isso é um grande fato.
William jogou seu cigarro, já pequeno, no chão e pisou em cima para apagá-lo completamente.
Suspirou pesadamente e girou o corpo em direção a casa ainda cercada de policiais. Caminhou calmamente e entrou, logo de longe avistou a linda Emma encolhida no sofá dormindo. Ele deu um sorriso de canto e caminhou até a mulher, ele sentia um carinho muito grande por Emma apesar de querer sempre "pegá-la". Ela era como uma irmã mais velha para ele... Não, irmã é algo muito formal e sem maldade. Digamos que ela era a sua mais nova amiga colorida.
— Ei, querida Emma — William sussurrou próximo ao ouvido da mulher, que apenas se mexeu. Ele adorava chamá-la de "querida Emma", não soava irônico como nas outras pessoas soava.
— Deixe-me dormir, querido William — ela murmurou dando um sorriso de canto, fazendo-o soltar uma risada fraca pela primeira fez no dia.
— Vem, eu te levo pra casa — ele disse e ela arqueeou uma das sobrancelhas. — Sem segundas intenções, juro. Estou tão cansado quanto você — ele revirou os olhos sem tirar o sorriso dos lábios e estendeu a mão para a mulher, que riu alto e a pegou.
— Vai encerrar tudo agora? — ela perguntou enquanto catava suas coisas e as de William, vendo-o ir para a cozinha.
— Vou — ele respondeu alto o suficiente. — Ei, vocês, estão dispensados — William disse e algumas pessoas ficaram o olhando. — Não tem mais nada aí para procurarmos. E já passa das duas da manhã.
William esperou todos se ajeitarem e, depois, fechou tudo — já que as chaves ficaram por sua conta e de Emma — e saiu acompanhado da mulher.
Caminharam em silêncio até o carro de William, onde ele abriu o carro para Emma — sim, apesar de tudo, ele sabia ser cavalheiro — e esperou-a entrar para fechar. Ela deu um sorriso em agradecimento e ele dera a volta, entrando no carro.
— Você está bem, William? — Emma perguntou do nada, fazendo-o assustar um pouco.
— Estou — ele arqueeou uma das sobrancelhas. — Por quê?
— Deixa pra lá — ela suspirou e mordeu o lábio. — Foi só preocupação.
— Estou cansado e com ressaca. Só isso — ele deu um sorriso de canto para acalmá-la.
Depois de mais uns minutos William chegou a casa de Emma.
— Obrigada, querido William — ela abriu um grande sorriso e lhe deu um beijo estalado no rosto. — Por nada, querida Emma — ele retribuiu o sorriso e ela desceu do carro.
Como um bom amigo preocupado e cavalheiro, William esperou Emma entrar para dar partida com o carro e seguir até seu apartamento.
Demoraria pouco mais de dez minutos para chegar até seu apartamento, mas William sentia como se fosse demorar mais. Sentia um mal-estar. Sentia-se um tanto quanto sufocado. Talvez fosse o cansaço.
Suspirou e pisou mais fundo no acelerador. Talvez assim tudo aquilo passava. Mas, ao notar algo estranho atrás de seu carro, diminuiu a velocidade cautelosamente.
Tinha algo errado.
E ele notara, como sempre.
Engoliu a seco. Não era um carro.
Eram dois.
E não eram dois carros comuns. Eram dois carros totalmente pretos com vidros extremamente escuros.
— Droga — William murmurou e tentou respirar fundo. Ele sabia que aqueles caras, seja lá quem fossem, estavam atrás dele. Queriam ele. E isso ficou mais óbvio ainda quando cada um passou para um lado de seu carro.
William sentiu sua respiração falhar e fechou todas as janelas do carro e acelerou mais, fazendo uma curva e indo para o lado oposto de sua casa. Não seria idiota de levá-los onde ele morava.
Suas mãos tremiam levemente. Ele já ouvira falar de perseguições à policiais. Mas nunca vivera uma.
Estreitou os olhos e tentou se concentrar na rua. Mas não tinha como se concentrar totalmente quando tinham dois carros atrás de você.
William tateou todos os lugares de seu carro a procura de seu celular, e, ao encontrá-lo, sem desacelerar o carro, apertou o botão para ligar para qualquer número. Alguém teria que ir ajudá-lo!
— O que é, William? — ele ouviu a voz cansada de Emma e quase sorriu por alívio.
— Estão atrás de mim, Emma — ele disse sem parar de correr com o carro e olhar para onde os dois carros ainda o seguiam.
— O que? — Ela perguntou confusa.
— ESTÃO ATRÁS DE MIM! EU SOU O PRÓXIMO, PORRA! — ele gritou desesperado ao sentir um dos carros bater em sua traseira. — PEDE AJUDA! ELES ESTÃO BATENDO NO MEU CARRO! — Ele gritou novamente, sentindo o maldito impulso que o carro de trás causava.
— Meu Deus, William! — A mulher do outro lado exclamou. — Onde você está? Não desligue esse telefone! Deixe-o perto de você e...
— TÁ, EMMA. EU VOU TENTAR — ele gritou desesperado. Sentia sua garganta seca. Sentia o medo invadir seu corpo. Sentia suas pernas tremerem e seus dedos começarem a escorregar do volante devido ao suor.
— Diz onde está, William! — ela pediu com a voz aflita.
— Uma rua antes de entrar na rua do meu apartamento. E CARALHO, EU ESQUECI O NOME DESSA MERDA DE RUA. — Ele falou desesperado.
— Mantenha o controle, por favor — ela pediu com a voz mais fina que o normal. — Certo, vamos lá. Uma rua antes da rua do seu apartamento. Eu já mando alguém atrás de você e vou junto, tudo bem? Só mantenha o controle. Vou desligar agora. Deixe esse maldito celular por perto. Por favor.
— Tá, mas não demora — ele pediu engolindo seco. — Eles estão mais próximos agora. Não consigo dar uma boa distância. Eles têm carros bons, Emma.
William pisou no acelerador com toda sua força, para criar mais distância. Não estava mais se importando com nada. Só queria salvar sua vida.
Desviou os olhos, por uns segundos, para o lado de fora e pôde ver um homem todo vestido de preto e com uma máscara de bandido cobrindo-lhe o rosto e totalmente debruçado na janela do carona, com uma arma apontada em sua direção. Não era uma arma qualquer.
Era uma metralhadora. Era simples, porém muito potente. Ela brilhava de tão limpa. Havia sido preparada exatamente para ele. Para aquele momento. Ele sentia isso.
William arregalou os olhos e acelerou mais.
— Merda, merda, merda — ele murmurava ao ver que o carro não corria do jeito que ele queria. — Anda, filho da puta! — ele gritou e acelerou mais.
Não era culpa do carro. Era culpa de seu nervosismo. O carro parecia não andar, e, os de trás, pareciam que corriam, quem sabe, na velocidade da luz.
William se desesperava mais a cada segundo que passava.
E, então, ouviu-se um disparo.
E outro.
E outro.
E quando notou, o vidro de trás de seu carro estava totalmente quebrado. Estraçalhado. Acabado. Assim como ele ficaria se não corresse mais ou não conseguisse ajuda logo.
Seu celular tocou e ele esticou o braço para apertar onde deveria para atender e tentou, sem apertar nada errado, deixar no viva-voz e, por fim, conseguiu.
— Onde está agora, William? — perguntou Charlie do outro lado.
— Eu não sei, eu não consigo ler as placas, eu nem sequer estou prestando atenção no meu caminho — ele respondeu num tom desesperado. — Eles destruíram meu carro, droga!
— Certo, vamos tentar te encontrar. Você consegue fazê-los te seguir até o retorno? Pra, pelo menos, nos encontrarmos no meio do caminho — Charlie pediu, cuidadoso.
— Posso tentar — William murmurou e acelerou mais, fazendo uma curva inexistente e girando com o carro, como em cenas de filmes.
— William, seu retardado! — Charlie gritou do outro lado da linha ao ouvir o barulho insuportável causado pelo movimento brusco do carro.
— Você pediu pra eu fazer isso! — ele rebateu, acelerando e passando entre os dois carros, que, sem demorarem muito, fizeram o mesmo. — Tanto faz — murmurou Charlie e desligou o celular na cara de William, que não se importou muito.
William tinha os olhos focados na rua, estava na contra-mão, obviamente tinha que prestar atenção em dobro. Sua sorte maior era que estava tarde e ninguém saía àquela hora.
O celular de William, agora, estava no chão por culpa de outro movimento brusco que fizera para uma curva e, obviamente, desviar dos malditos tiros que distribuiam em sua direção.
William sentiu algo formigar em seu ombro e uma leve dor atingí-lo. Não deu muita ideia... Até aquilo começar a queimar e queimar mais... E mais... E, então, encarou seu ombro e, depois, o vidro da frente. Um tiro lhe atingira de raspão e atravessara para o vidro.
Mordeu o lábio inferior e ignorou a dor. Continuou seu caminho até, por fim, ver de longe os carros de Charlie e Emma e, logo atrás, alguns outros policiais.
Prendeu a respiração por uns segundos, os segundos necessários para atravessar para o lugar seguro. Junto aos seus amigos e policiais.
Soltou todo o ar que estava preso em seus pulmões ao ouvir as freadas bruscas dos carros negros. Não se deu o trabalho de virar-se e encarar os homens que haviam tentado matá-lo. Apenas queria respirar tranquilamente por ainda estar vivo.
William parou o carro e fechou as mãos com força no volante, tentando relaxar. Apesar de uma, quase intensa, troca de tiros atrás de si, queria relaxar. Queria ter a certeza de que estava vivo.
Os tiros pararam. E, então, tomou coragem para descer do carro e encarar o que acontecera.
Suas pernas tremiam e seu ombro ainda sangrava. Mas ele não se importava. Só queria saber quem eram aqueles caras.
— Oh, meu Deus, William! — Emma foi a primeira a correr em sua direção e tentar olhar seu ombro.
— Espera — ele respirou fundo. — Eu só quero saber quem são.
— Estão mortos. — Ela disse e William encarou seus lindos olhos extremamente azuis e um tanto quanto arregalados, deixando-os ainda mais intensos.
— Mas... — William tentou falar. — Eu quero ver os corpos. Quero saber quem tentou me matar.
— Dois ainda estão vivos. Eram quatro — ela colocou-se em seu lado e pediu permissão para abrir os botões de seu casaco de couro. William não negou, apenas deixou-a fazer o que precisava.
Emma arrancou o casaco de William e ele sentiu o maldito frio tomar conta de seu corpo. Tremeu um bocado e Emma suspirou, entregando-lhe o casaco novamente.
— Eu dou um jeito no seu ombro quando sairmos daqui. Não tem condições de você ficar sem casaco a essa hora — murmurou e William apenas balançou a cabeça.
William passou a mão pela testa tirando o suor que estava ali e caminhou até os homens.
— Espera — Charlie o parou pelo peito. — Cuide de seu ombro, amanhã eu deixo você fazer o que quiser com os dois que sobraram.
— Charlie... — William murmurou entre os dentes. Sentia raiva dos homens que o fizeram passar por toda aquela loucura. Queria socá-los até eles pedirem perdão pelo que fizeram e implorassem para ele parar de bater neles.
— Vai descansar — Charlie disse e o empurrou para trás. — Mandarei alguém ficar de olho na sua casa. Ficará seguro, eu prometo.
— Certo — ele murmurou. Seria impossível contrariar Charlie naquele momento. E William jamais o faria, já que Charlie era quase seu pai, tio... Enfim, Charlie era quase um parente para ele.
Se virou encarando seu carro. Seu lindo e amado Impala azul. Um carro raro, bonito, que nunca perdeu o valor e nem nunca perderá, totalmente distruído. Acabado.
Suspirou.
— Quer que eu vá com você, querido William? — ele ouviu a voz doce de Emma perguntar.
— Quero — ele murmurou feito uma criança.
— Vai ficar tudo bem. Vamos dar um pulo no hospital para ver esse seu ombro e depois eu vou para o seu apartamento, tudo bem? — ela passou a mão pelo rosto de William, que sorriu agradecido e concordou com a cabeça.
Emma estava sendo uma ótima amiga.
— Onde o Ernesto se meteu? — William perguntou enquanto Emma digiria em direção ao hospital.
— Não conseguimos achá-lo — ela soltou um suspiro. — Ernesto anda estranho.
— Ele sempre foi — William riu fraco. Seu ombro latejava. — Ligarei pra ele quando chegarmos, ou então, falarei com ele na delegacia mesmo.
— Faça isso — ela sorriu.
Logo chegaram no hospital, Emma explicou o que havia acontecido e logo ele fora atendido.
Nada grave. Apenas precisou enfaixar para não inflamar e era só passar alguns remédios. Nem sequer precisou de tantos pontos, já que não fora nada tão grave. Apenas um tiro de raspão. Nada demais, comparado ao que podia acontecer.

— Vai tomar um banho e dormir, querido William — Emma disse autoritária quando fechou a porta do apartamento do rapaz.
— Vem comigo então — ele fez uma cara safada e ela deu uma gargalhada. Nem mesmo depois de sofrer um atentado ele perdia aquele jeito. E era isso o que Emma mais gostava nele.
— Não — ela sorriu e prendeu os cabelos num coque frouxo. — Vá descansar, William. Eu me ajeito por aqui, tá?
— Mas é claro que não! — ele exclamou. — Você vem cuidar de mim, além de me aturar todos os dias no trabalho e ainda quer se jogar na sala? — ele revirou os olhos. — Pode ficar com o quarto.
— A casa é sua e o doente é você. Vai logo pra a porra desse banho e descansa, moleque — ela disse fingindo ser mãe e ele não segurou a gargalhada, e ela o acompanhou depois de uns segundos.
— Tudo bem — ele deu alguns passos e parou de repente, virando-se para ela. — Obrigado. Por tudo.
— De nada — ela sorriu e ele foi fazer o que ela mandara.

•Continuo ou paro?•

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