Capítulo 30

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William sentiu seu corpo doer após se mexer naquela pequena cama onde estava deitado. Então fora tudo verdade? Prisão, flashes, evento, briga com Fátima, porradaria com Jack, decepção de Charlie...? Fora tudo verdade? Ah, como ele desejava que aquilo tivesse sido só um sonho e que as dores que sentia pelo corpo fossem por causa de uma má posição enquanto dormia e tudo não passara de um maldito pesadelo...
William soltou um suspiro e, por fim, abriu os olhos. Continuou ali, deitado, ignorando as dores que sentia — interna e externamente — e fitando a parede suja da cela onde estava. O que fizera com sua vida, afinal?
Ficara totalmente mudado desde que perdera o pai. Não sabia ao certo o porquê, mas mudara. Talvez fosse uma forma de esconder-se do mundo e manter-se em sua pose de durão de sempre, talvez fosse por simplesmente sentir dor demais e não saber como agir, por não ter ninguém ao sei lado de verdade. Talvez se tivesse uma mãe... O carinho de Kennedy substituiu o de uma irmã, na época. O de Emma fora aquele típico carinho de amigo que todo mundo sempre precisa, mesmo que carregado de dor assim como ele. Mas... Ele precisava de uma coisa... Maternal. Sempre se questionara por que não tivera uma mãe, por que seu pai nunca contara nada sobre ela... Sentia-se mal por isso, assim como Ernesto sentia-se mal por não ter um pai. Esse, talvez, fora o maior motivo para aquela amizade deles crescer tanto. E, oras, agora estavam completamente afastados porque William mudara totalmente.
William tivera os pensamentos cortados ao ouvir uma voz já conhecida chamá-lo. Contra sua vontade, virou o corpo para o outro lado e encarou Charlie que estava do outro lado das grades.
— Preciso que venha comigo — Charlie tentou ser firme, mas a verdade estava explícita em sua voz; não queria fazer nada daquilo com William, mas se não fizesse perderia o emprego.
William soltou uma risada fraca e se levantou de uma vez, esticando o corpo para ver se, assim, a dor passava. — Até quando vou ficar aqui? — William perguntou baixo, enquanto caminhava até Charlie que já destrancara a cela.
— Você conhece as leis tanto quanto eu, William — Charlie respondeu calmamente enquanto o puxava pelo braço devagar.
— Realmente acredita que eu quem fiz isso tudo? — William perguntou baixo e fitou o chão.
Charlie não respondeu, apenas soltou um suspiro pesado e o guiou até a maldita sala de interrogatório novamente. Um arrepio passou por sua espinha ao adentrar o local novamente. Não abrira a boca para nada na noite passada... Será que... Não! Charlie não seria louco de autorizar que usassem o mesmo métodos que usavam com bandidos para ele falar!
— O que... O que vocês vão fazer, Charlie? — William perguntou baixo, enquanto engolia a seco.
Charlie soltou uma risada fraca e o encarou por alguns segundos.
— Agora sabe como os bandidos que torturou se sentiam, né? Não vamos fazer nada. Emma quer conversar com você — Charlie deu de ombros. — Ela não está olhando na minha cara por sua causa, então trate de explicar a ela que não estou fazendo mais que o meu trabalho e...
— Cale a boca, Charlie. Você não sabe o que está dizendo. Agora nos dê licença — Emma adentrou o local com o nariz empinado e tentando não olhar para Charlie.
William soltou uma risada e mordeu o lábio inferior.
— Não ria — Charlie arqueou uma das sobrancelhas e se virou para Emma, que fitava as unhas longas pintadas de preto. — E você deveria parar com isso. Agora.
— Não fale grosso comigo quando não tem moral — Emma rebateu e encarou Charlie nos olhos. — Sabe mais do que ninguém que isso é errado.
— Se estivesse no meu lugar faria pior se estivesse recebendo as ordens que recebo — Charlie rebateu firme. — Conversem logo. Preciso que faça algumas coisas e o William não tem que ficar recebendo visitinhas o tempo inteiro.
— Ficarei o tempo que eu achar necessário — Emma deu de ombros e William não segurou mais uma risada, fazendo com que Charlie bufasse e saísse da sala em seguida.
— Não faça isso com ele, Emma — William murmurou dando um sorriso de canto e abrindo os braços para Emma, que logo se jogou neles.
— Ele merece, não tem que te manter aqui — ela suspirou, enquanto apertava mais seus braços em volta de William. — Está tudo bem?
— Tirando o fato de eu estar com o corpo dolorido por causa da cama e o rosto provavelmente bem fodido por causa das porradas do Jack, está sim — William soltou mais uma risada e Emma se afastou, puxando-o pela mão até a mesa que ficava no centro da sala.
— Fiquei sabendo da briga de vocês. Isso te fez perder totalmente a razão, William. Ele contou as coisas que você disse — a mulher suspirou e se jogou em uma das cadeiras. — Por que você não se ajuda?
— O Jack merecia ouvir tudo o que ouviu. Ele precisava saber com quem estava lidando, Emma. Não ligo se eu ficar aqui a vida inteira e ele se foder daqui a pouco — William tricou os dentes e suspirou em seguida, sentando-se de frente para Emma. — Como a Fátima está?
— Não falei com ela ainda. Deixei para falar aqui — Emma sorriu e olhou para o lado, observando o vidro e não encontrando ninguém do outro lado.
— Não se arrisque assim, Emma — William pediu. — Não quero falar com ela. Só queria saber se ela e o bebê estavam bem.
— Pare com isso, William — Emma suspirou. — Você sabe que a ama!
— Ela me jogou aqui, Emma — ele suspirou e fitou a mesa. — Ontem... Droga, Emma — William mordeu o lábio inferior ao sentir seus olhos arderem. — Eu engoli meu orgulho e me arrisquei para ir atrás dela... Chegamos até dançar naquela porra! — William revirou os olhos. — E ela não fez nada para me ajudar a não chegar aqui. Dói, entende?
— Jesse e Eric me procuraram — Emma murmurou e William arqueou uma das sobrancelhas. — Desculpe não acreditar em você sobre Eric. Vamos te tirar daqui e você irá se resolver com a Fátima. Ela é inocente nisso tudo, já me explicaram.
— Inocente... — William riu fracamente — Por favor, Emma.
— Você é um idiota! — a mulher exclamou revirando os olhos. — Mas tudo bem, não importa. Só saiba que irá sair daqui logo.
— Charlie está voltando — William apontou para o vidro e Emma se calou automaticamente. — Não se arrisque, Emma. Deixe que eles façam tudo.
— Nem pensar — Emma respondeu firme e William suspirou, mas não falou nada.
Charlie adentrou a sala tenso.
— Preciso de você, Emma — ele disse tentando mostrar calma.
— O que aconteceu? — William perguntou automaticamente e se arrependeu logo em seguida.
— Diga, Charlie. Meu tempo com o William ainda não acabou — ela pediu, encarando o mais velho.
— Pode vir aqui fora um instante? — Charlie insistiu e Emma bufou, levantando-se em seguida.
Encarou William por alguns segundos e saiu da sala junto à Charlie.
— O que houve? — Emma perguntou, cruzando os braços.
— A Fátima sumiu, simplesmente sumiu — Charlie foi direto. — Mas deixaram isso na minha sala — ele entregou o papel para Emma. — Não sei quem nem como, apenas deixaram. Estão com a Fátima, Emma.
Emma sentiu seu estômago afundar e sua cabeça latejar.
— O William precisa saber — Emma disse tentando passar por Charlie que a segurou pelo braço com força.
— Está louca?! — peruntou tentando não gritar. — Se ele souber irá surtar!
— Foda-se! — Emma rebateu e se soltou. — Fátima está grávida, Charlie! Grávida!
— Isso não vai fazer com que ele saia daqui para trabalhar nisso conosco — Charlie foi firme e Emma sentiu seus olhos marejarem automaticamente.
— Por que está fazendo isso? — perguntou baixo e Charlie suspirou.
— Porque disseram que se eu não fizesse eu sairia daqui — ele respondeu no mesmo tom de voz. — Eu não posso fazer nada se tudo está contra ele, Emma.
Você não podia ficar contra ele, Charlie — Emma suspirou. — Ele te vê como um pai!
— Se ele realmente me vê dessa forma, não será com isso que deixará de ver — Charlie suspirou. — O que posso fazer? Arriscar meu emprego quando o William assume para um dos policiais que matou o Crowley?
Emma não respondeu, apenas piscou os olhos para não chorar e deu as costas para Charlie, adentrando a sala onde William a esperava em seguida.
William não perguntou nada, apenas a olhou. Sabia que havia algo errado, sabia que Emma e Charlie não estavam bem e sabia que ela continuava em seu apartamento depois que fora preso.
— Certo, tudo bem — Emma murmurou e suspirou. — Assume pra mim que ama a Fátima e eu te tiro daqui em no máximo dois dias.
William arregalou os olhos e soltou uma risada depois.
— Está louca? — ele perguntou. — Tenho certeza que Jesse e Eric não falaram nada disso para você. Agora me conte o que está acontecendo por aqui. Estou preso mas não quero ficar por fora.
— Eu já tenho certeza que se aceitar minha proposta eles me ajudam a te tirar daqui essa noite. — Ela rebateu firme e William engoliu a seco.
Era verdade. Bastava ele dizer que queria sair de lá que Jesse, Eric e Emma mexeriam seus pauzinhos e o colocava fora daquele maldito lugar.
— Sei que Charlie pensa em me transferir para ficar com outros presos, Emma. Como vocês me tirariam daqui? — William murmurou, pensando nas possibilidades.
— Daremos um jeito. Charlie te jogará no meio de todos os outros bandidos, brigue com um e eu faço ele tirar você de lá — Emma deu de ombros e William sorriu fracamente, lembrando-se da influência que Emma tinha por ali. Ela faria o que quisesse e quando quisesse naquele naquele prédio e ninguém falaria ou faria nada... Pelo simples fato dela ser Emma Cobain.
William suspirou novamente e encarou a amiga.
— Certo, você vai ouvir o que quer — ele mordeu o lábio inferior e soltou uma risada fraca, fitando a mesa em seguida. — Eu... Eu a amo tanto que chega doer, Emma — ele levantou os olhos para a amiga novamente. — Eu não sei o que faria se acontecesse algo a ela por minha causa, de verdade. E eu sei que Crowley só foi atrás dela por ela estar envolvida comigo, eu sei que ela só está metida nisso tudo por minha culpa — ele suspirou novamente. — Não precisa me tirar daqui, Emma. Apenas tire-a dessa confusão toda antes que seja tarde.
— Talvez já seja tarde — Emma murmurou e William estreitou os olhos. — Estão com a Fátima, William.
— Como é? — William perguntou arqueando uma das sobrancelhas e soltando uma risada nervosa. — Não vem com essa só para eu aceitar a fugir, Emma! Pelo amor de Deus!
— Não é isso. Olhe — ela estendeu o papel que Charlie lhe dera e nem sequer lera para William —, deixaram isso para o Charlie e ele disse que estão com ela. Não li o bilhete, apenas o trouxe.
Sentindo a raiva lhe dominar, William pegou o papel com rapidez e o abriu, quase rasgando-o.

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