Capítulo 14

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William largou as chaves em cima da mesa e não esperou por Emma e Nicholas, se jogou no sofá e fechou os olhos com força. A sua pequena falta de controle de mais cedo não saía de sua cabeça. Para falar a verdade, Fátima não saía de sua cabeça; o gosto doce de seus lábios, a forma que sua língua massageou a dele, a forma desesperada que ela segurava sua nuca...
— Vai para o banho, Nicholas. — Emma disse e trancou a porta do apartamento do amigo. — E você, William, pode começar a falar.
— O quê? — ele abriu os olhos devagar e encarou os olhos azuis de Emma.
— Você ficou estranho o resto do dia. — ela deu de ombros. — Foi pelo que aconteceu na minha casa? Porque se for, não se preocupa. — ela sorriu. — Você acabou com um dos caras. Logo a gente pega o resto.
— Eu não fiquei estranho. — ele revirou os olhos. — Eu só... Tô cansado desses joguinhos idiotas desses caras. Só quis parar para pensar um pouco.
— Claro, William Bonner. Claro. Como se eu não te conhecesse. — ela disse bufando.
William não gostava de mentir para Emma. Mas também não queria contar que beijara Fátima enquanto um homem morria. E também não queria confessar que gostara mais daquele beijo do que o de qualquer outra mulher.
— Não esquenta comigo. — ele disse se levantando rápido e dando um beijo no rosto da mulher.
Emma apenas suspirou. Não iria perturbá-lo. Ele não contaria enquanto não se sentisse sufocado com aquilo tudo. William era mais complicado do que parecia.

****

— Quem invadiu a porra da casa da Emma? — Lucy perguntou alto ao entrar na casa que sempre se encontravam.
— Ninguém. — Jesse respondeu mordendo o lábio inferior.
— Como assim ninguém, Jesse? — a mulher jogou a bolsa em cima do sofá e botou as mãos na cintura.
— Ninguém, oras! Você sabe muito bem que não recebemos ordens há dias. — o rapaz revirou os olhos.
— Mas que caralho... — a mulher murmurou entre os dentes.
Uma gargalhada ecoou pelo lugar.
— Não está sabendo quem está de volta à cidade, Lucy? — o velho – que não aparecia ali há dias – perguntou num tom debochado e a mulher se virou para ele estreitando os olhos.
— Quem voltou? — ela perguntou.
— É melhor você nem querer saber. — Jesse murmurou. — Não foi ninguém daqui que mandou invadir a casa da Emma, Lucy. E se não foi ninguém daqui, quem mais quer a cabeça de todos vocês? — o rapaz continuou e a mulher arregalou levemente os olhos.
— Todos... Nós? — ela perguntou, mordendo o lábio.
— É. Todos vocês. Isso quer dizer que além do Bonner e da Cobain, você também está no meio. Assim como o Charlie ou qualquer outra pessoa da polícia. — Ele finalizou, fazendo a mulher engolir seco. E, como num estalo, veio a imagem de alguém em sua cabeça.
— Não vai me dizer que ele voltou para pegar todos nós? — Lucy perguntou, engolindo seco mais uma vez, e sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Pois é, Lucy. — o mais velho dali se levantou. — Crowley está de volta. E, consequentemente, o pesadelo de todos nós também. — o velho finalizou com um sorriso torto nos lábios.

****

William abriu os olhos devagar e desligou o celular ao seu lado. Já estava na hora de levantar e ele nem sequer dormira direito. Iria trabalhar totalmente cansado e com cara de merda, só para completar. Seus dias já não estavam sendo bons e nem normais, ele sentia que esse, principalmente, seria pior. Ele teria que encarar Fátima. Teria que encarar Emma, sendo que não contara nada a ela... Teria que encontrar Charlie, encarar seus olhos e confessar para si mesmo que ele sempre teve razão quando dizia que ele sempre fora a fim de Fátima e nunca tivera coragem de assumir, por isso a odiava. O dia seria uma completa bosta.
Levantou-se e caminhou calmamente até o banheiro, tentando tirar de sua cabeça que veria Fátima horas mais tarde. Ele tinha medo — sim, medo — de encará-la novamente. Ele ficara totalmente fora de controle na tarde anterior. Por mais que ele soubesse que seu controle iria para o caralho a qualquer momento que ficasse próximo a ela, ele ainda sentia um bocado de medo do que tudo isso causaria. Não que ele nunca tenha se envolvido com mulheres no trabalho, porque era o que ele mais fazia — Emma é um grande exemplo disso —, mas... Com Fátima tudo era diferente pelo simples fato deles se detestarem desde sempre e por ela ser o tipo de mulher que encara todo mundo e não abaixa a cabeça para ninguém.
Em poucos minutos, William já estava arrumado e Emma preparava o café. Levaria Nicholas para a casa da mãe com William e depois iriam trabalhar.
— Bom dia! — Ela sorriu. — Já acabei aqui. — ela murmurou coçando os olhos. — Vou me arrumar. Não demoro.
— Bom dia. — William retribuiu o sorriso e se sentou à mesa. — Sem pressa. — ele disse pegando o café.
— Ei, você tá bem? — ela perguntou mordendo o lábio.
— Tô sim. — ele respondeu tomando um gole do seu café. Emma suspirou e revirou os olhos. Ele não a contaria nada mesmo dessa vez.

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