Capítulo 14

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— Vocês dois podem nos dar licença? — O cara lançou um olhar enciumado para Oliver enquanto se dirigia para a porta, e Louane saía apressada atrás dele, fechando a porta em seguida.
— Então está namorando? — Indagou Oliver com as mãos para trás.
— Eu tenho alguém.
— Ele não é seu namorado?
— Ele é o tal alguém que eu tenho.
— Não é nada oficial? — Levantou uma sobrancelha.
— Só porque não mudamos nossos status no SocialBook não significa que não seja oficial. — Dei dois passos para trás.
— Interessante.
— O que você quer? — Cruzei os braços e olhei de forma intimidadora em seus olhos.
— Falar sobre negócios. Agora sou o responsável pelo marketing da Ever Cosméticos.
— Fazer o que, né?
— E sempre terá que negociar diretamente comigo.
— E daí?
— Lembra-se o porquê de ter terminado comigo, Rose? — Ele foi se aproximando de mim, enquanto eu dava passos para trás, até que me encostei à parede.
— Hum... Bom...
Não, não me lembrava.
— Você... Mas é claro que sim, claro que eu saberia. — Vamos lá, cabecinha, funcione. — Eu terminei com você porque não gostava da cor do seu carro?
— Não, porque alguém terminaria um namoro por isso?
Eu terminaria.
— Não faço ideia.
— Não se lembra, não é?
Neguei com a cabeça, em silêncio, apertando os lábios e sentindo meu coração disparar com a sua proximidade incômoda.
— Terminou comigo porque não gostava do meu antigo trabalho.
— Sério, que idiota. — Soltei um suspiro misturado a uma risadinha.
— Muito idiota, mas olhe pra mim, troquei de emprego. — É eu percebi. — Vamos lá, Rose, esse emprego é demais. Sempre poderei falar com você...
— O que quer dizer com isso, Oliver?
— Não é óbvio? — Fiz uma careta, perdida. — Quero voltar com você.
— Você tá chapado? Bebeu algo? — Aproximei meu rosto, tentando sentir cheiro de bebida ou qualquer coisa que pudesse ter deixado Oliver doidão.
— Rose, nós éramos incríveis juntos. Foram três semanas incríveis, estávamos apaixonados, não se lembra de como era bom? Nós dois, debaixo dos lençóis...
— Hei, hei, hei, pode ir parando por aí... Se fosse especial, eu não teria terminado com você, mas três minutos de sexo não é suficiente pra mim, ou memorável.
— Como se atreve? — Exclamou, irritado.
— Como você se atreve? — Desencostei-me da porta e andei em sua direção. — Vem ao meu trabalho pedir pra voltar a namorar com você, ignorando completamente o fato de que estou com alguém, e realmente gosto muito deste alguém. Nem sei por que, mas gosto e é isso que importa. — Esbravejei, apontando o dedo indicador para ele o tempo todo.
— Eu amava você...
— Não amava nada...
— Amava sim.
— Só me deixe em paz.
— Se não voltar comigo, eu corto toda a publicidade da Ever da sua revistinha.
— Eu tenho Marchesa, Dolce & Gabbana, Gucci e outras marcas incríveis na minha revista. Acha mesmo que sentiríamos falta de vocês?
— Posso convencê-los a ir para a concorrência.
— Eu sei coisas sobre você, Oliver, e sobre a empresa que te paga, e acredite em mim, não vai querer que essas informações vazem por aí.
— Que tipo de coisas? — Engoliu em seco.
— Ruins. Muito ruins.
— Talvez possamos negociar futuramente. A minha oferta de reconciliação sempre estará de pé para você. — Caminhou até a porta, afrouxando a gravata.
— Isso nunca vai acontecer.
— Nunca diga nunca, é uma coisa que o senhor Bieber diz.
— Eu sei. Não gosto dele.
Oliver fez que sim com a cabeça e colocou-se para fora da sala, cabisbaixo, e eu suspirei aliviada.
O meu maior problema não era o fato de ter mais de cinquenta ex-namorados, e sim como lidar com todos eles. E para cada um, havia uma forma diferente de se fazer isso.
Voltei para a minha mesa e me ajeitei em minha cadeira, esquecendo-me completamente do cara. Continuei a babar em todos os vestidos que eu deveria estar escolhendo para a próxima sessão fotográfica, quando Louane entrou na sala sem bater ou avisar, fazendo com que eu pulasse da cadeira. Senti meu coração na boca e bati na mesa com a mão, que estava no peito sentindo as palpitações.
— Você ainda me mata, Louane, ainda me mata. — Frisei, arfante.
— Me desculpe, senhorita, mas notei que o senhor Lefebvre já saiu.
— É o que parece. — Comentei ainda ofegando.
— Seu namorado teve que sair, senhorita.
— Pra onde?
— Ele disse que a irmã ligou e que era urgente.
— Claro, obrigada. E a reunião foi cancelada, entrei em um acordo com Oliver, ele não irá incomodar novamente.
— Sim, senhorita.
— Está dispensada, qualquer coisa eu te chamo.
Louane sorriu, tímida, e voltou para o seu trabalho. Peguei meu celular com capinha de cristais prateados e encontrei o número dele na discagem rápida. Eu estava um tanto preocupada e ligar não arranca pedaço. Não é?
— Alô?
— Ei, Rose?
— Sou eu. — Brinquei, mas minha voz soou retardada.
— Você está bem? Aquele idiota fez algo com você?
— Eu estou ótima, sei lidar com ele. — E com todos os outros cinquenta e dois. — Eu fiquei sabendo que aconteceu uma emergência.
— Minha irmã. Ela está grávida e levou um tombo...
— Ela está bem?
— Sim, por pouco não perdeu os bebês.
— Diga a ela que desejo melhoras.
— Eu digo. Rose, tem uma coisa que está me incomodando.
— O quê?
— Eu disse que sou seu namorado para o tal Oliver Febeferebeve...
— Lefebvre.
— Isso aí, e você nunca disse que somos namorados. Nunca foi nada oficial, até porque começamos a sair há pouco tempo, mas confesso que me senti ameaçado quando vi aquele cara de quase dois metros, que parece um galã de cinema, dizendo que é seu ex. Você sabe, estou mais para girafa anêmica.
— Não é uma girafa anêmica, eu não o vejo assim. — Cruzei minhas pernas sobre a mesa enquanto mexia numa caneta. — Você é bonito do seu jeito e adoro isso em você, é magrinho, mas tudo bem... E o sexo não dura três minutos com você.
— Três minutos? Não está falando sério?
— Do que adianta ter pinta de galã, quando não sabe atuar?
— Me sinto mais tranquilo agora.
— Espero que aprenda a confiar em mim.
— Me desculpe.
— Preciso falar com você, mas tem que ser pessoalmente. Pode ir à minha casa essa noite?
— Posso, com certeza, posso.
— Combinado, vou esperar por você.
Vocês devem estar pensando que o chamei para o meu apartamento para transarmos e não estão errados. Não completamente.
Na verdade, eu queria mesmo conversar com ele. Sobre coisas sérias e principalmente sobre a Semana de Moda de Milão, que aconteceria na próxima semana. Semana de Moda, a qual eu deveria participar ativamente e estar presente em todos os desfiles, minha parte favorita. Milão é o grande epicentro do mundo da moda. O que os deuses da moda lançam em Milão, nós, meros mortais, aceitamos de bom grado e espalhamos para todo o mundo. E na próxima semana seria o paraíso de todos nós, os apaixonados por moda. Acredito que o céu do deus Euísta, o qual fora inventado por mim, deva ser assim, repleto de roupas de alta costura à minha disposição.
Como eu passaria três dias na Itália, poderia estender minha estadia por mais um ou dois dias, caso meu quase namorado me acompanhasse. Claro que eu teria que convencê-lo a ir comigo e assistir aos longos desfiles que, para pessoas desinteressadas a respeito de moda, poderiam parecer intermináveis e monótonos, ou simplesmente estranhos e bizarros. Outro ponto seria um desafio passarmos quatro ou cinco dias juntos em outro país, o que de certa forma seria bom para nos conhecermos melhor.
Vamos lá, eu não podia saber o nome dele, então precisava conhecê-lo de outras formas menos convencionais. E Milão era o lugar perfeito para isso.
***
Eu assistia à televisão, jogada em meu sofá, num raro momento onde vestia um cardigã verde musgo, short jeans curto rasgado e meias brancas, quando ouvi minha campainha tocando algumas vezes.
— Eu já disse que estou indo. — Bufei e abri a porta. — Ah... Oi. — Sorri abestalhada e tentei fazer uma pose, colocando a mão na cabeça e apoiando o cotovelo no batente da porta, o que não deu muito certo e quase me levou ao chão, quando meu cotovelo não se encostou ao batente e tentei me apoiar no ar.
— Você está bem?
— Estou ótima. — Eu me recompus e o convidei para entrar, ajeitando meu cabelo bagunçado.
— O que está assistindo? — Ele apontou para a televisão.
— Meu Vestido de Noiva. — Eu me joguei no sofá tranquilamente e ele apenas arregalou os olhos.
Meu. Vestido. Noiva.
Estas palavras podem soar assustadoras no início de qualquer relacionamento.
— Não vou pedir para se casar comigo.
— É bom ouvir isso. — Seu rosto pareceu mais aliviado e ele se sentou ao meu lado.
— É só um programa de TV com vestidos incríveis. Está vendo essa garota?
— A loira?
— Isso. Ela vai se casar com um amigo de infância e precisa encontrar o vestido perfeito para o grande dia, que será daqui um mês. Eles estão ajudando-a com a sua procura.
— As pessoas assistem mesmo isso?
— Sim, as pessoas assistem isso. Eu assisto desde a primeira temporada e essa é a décima segunda.
— Então, já sabe o que vai usar no seu casamento? — Perguntou, vacilante.
— Não vamos falar sobre casamento. — Coloquei meu dedo indicador em seu lábio.
— Graças a Deus. — Soltou um suspiro de alívio e eu apenas ri da sua cara apavorada.
— Vamos falar sobre o nosso relacionamento.
— É algo como uma discussão? — Questionou com um olhar curioso na penumbra da sala, e eu neguei com a cabeça.
— Olha, eu gosto do que temos, mas nós somos o quê?
— Não faço ideia.
— Nem eu... Nós nos conhecemos só há alguns dias. Tivemos encontros maravilhosos e na sexta-feira foi incrível. — Ele deu um sorriso sincero. — Eu gosto de você, gosto muito, mas precisamos descobrir o que temos.
— Aonde quer chegar, Rose?
— Semana que vem teremos a Semana de Moda de Milão e passarei três dias na Itália, porém, eu pensei que você poderia vir comigo, então passaríamos um tempo juntos e nos conheceríamos mais, saber o que você gosta e você saber o que eu gosto. Nos descobrirmos um para o outro. Podemos estender por mais dois dias para curtirmos o lugar.
— Eu acho uma ótima ideia. — Sorriu radiante. — Mas eu não posso, Rose, eu tenho trabalho e não posso pagar uma viagem para a Itália. Tenho o suficiente para as minhas despesas e aluguel. Ao contrário de você, fazer o que eu amo não é tão lucrativo.
— Eu pago, sem problemas. Eu vou trabalhar e você é meu convidado.
— Não posso, Rose.
— Pode parar com esse orgulho bobo, considere um presente. E, se quiser, pode pagar o que comermos. Eu juro que vou comer só pizza e macarrão.
— Rose. — Seu olhar parecia tão perdido e confuso, que apenas o encarei com um olhar de cachorro que caiu da mudança. — Quatro dias, não é?
— Quatro dias.
— Certo, eu vou, mas será a última vez que irá pagar as minhas passagens.
— Combinado. — Sorri e o puxei para um beijo rápido. — Eu realmente gosto de você, rapaz sem nome. — Sussurrei perto dos seus lábios, com meus braços ao redor do seu pescoço.
— Eu também realmente gosto de você, Rose MacIntyre. — Beijou-me e eu me deixei levar por seus lábios, que me faziam esquecer de tudo.

Rose e o Cara (Concluída) Where stories live. Discover now