Capítulo 4

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Passava da meia-noite quando, enfim, a festa acabou. Eu quase não podia mais sentir meus pés e o arrependimento de ter usado salto agulha a noite toda atiçou a minha vontade de queimar meus sapatos quando chegasse em casa. A casa de Gabrielle parecia uma zona pós-guerra misturada com pós-apocalíptico, e eu apenas tentava entender como aqueles seres no início da puberdade poderiam fazer tanta sujeira. O chão estava grudento e asqueroso com comidas pisoteadas misturadas com refrigerantes derramados, guardanapos usados e copos descartáveis amassados.

Amelie já dormia em sua cama ainda com o vestido da festa, enquanto Gabrielle olhava para a sua casa, nauseada, pegando uma garrafa de vinho na pequena adega da cozinha e duas taças. Nos sentamos à mesa no jardim sob a opaca luz da lua quase toda coberta por nuvens.

- Eu provavelmente já paguei por todos os meus pecados esta noite. - Murmurou ao me entregar uma taça com vinho tinto e colocando os pés descalços sobre a mesa de madeira. - E olha que não foram poucos.

- Posso dizer o mesmo. - Estiquei meus pés na cadeira ao lado, jogando meus sapatos para longe. - E sim, o inferno deve ser exatamente assim, Gabrielle.

- É a primeira e última festa dela. Espero que Amelie tenha tirado proveito dessa. - Assinalou ao acender um cigarro e oferecendo outro para mim.

Peguei o cigarro e o acendi, sentindo-me zonza.

- Espero que não precise de ajuda pra limpar tudo isso. - Soltei fumaça pela boca.

- Posso garantir a você que nem mesmo eu vou limpar toda essa merda. Amelie e François que limpem, eu não fiz a nossa filha sozinha. - Rimos juntas num raro momento apenas nosso.

- E o cara que você conheceu? Irão se ver novamente? Pegou o telefone dele?

- Não, eu não peguei. Mas acredito que nos veremos de novo. - Minha irmã me lançou um olhar perdido. - Irei buscar Amelie no colégio na segunda-feira e...

- Você vai o quê?

- Eu vou buscar a minha querida sobrinha no colégio.

- E por que você, Rose MacIntyre, faria isso? - Encheu novamente a sua taça.

- Como eu ia dizendo, esse cara me contou que costuma buscar a sobrinha no colégio e eu disse que também faço isso sempre. Mas eu juro que vai ser só na segunda, depois eu invento uma desculpa pra não precisar mais fazer isso.

- Pretende começar um relacionamento com mentiras?

- Não é uma mentira importante, só uma mentirinha boba. Sem contar que não estou entrando em relacionamento algum, eu só o vi uma vez.

- Provavelmente vocês irão namorar, ele vai ser ótimo, a senhorita vai encontrar algum defeito estupidamente idiota nele e vai terminar tudo. E assim continua o seu ciclo vicioso.

- Você é uma pessoa muito má. - Murmurei enquanto apagava meu cigarro.

- Não me julgue depois de três taças de vinho. - Sorriu e esvaziou sua terceira taça.

***

Eu deveria buscar minha sobrinha no colégio, mas havia me esquecido completamente do horário em que as aulas acabavam, apesar de Amelie ter me dito no sábado. Com tanto trabalho na revista e mamãe fazendo pressão à distância, a última coisa que eu me lembrava era aquele maldito horário.

- Louane, preciso de você! - Chamei a garota para a minha sala e alcancei a minha bolsa que estava em uma das duas cadeiras listradas de preto e branco que ficavam em frente à minha mesa.

Rose e o Cara (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora