27 de Dezembro - Mas, você quer?

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Não havia luz. Nem chão. Nem céu. Era apenas um grande vazio negro. Não tinha nada, além da escuridão que rodeava o ambiente assustador e o seu silêncio perturbador... Ela estava perdida, com frio e confusa. Os pés descalços pareciam andar, correr, caminhar.. Mas, na realidade não estava indo a lugar algum. Não havia uma direção, já que não existia um caminho a seguir. Ela se ajoelhou sobre o nada que a envolvia e tentou tatear a escuridão em busca de sentir algo. Procurava por uma brecha, uma porta que a levasse a saída. Entretanto, o breu daquela noite sem fim, não a deixou apenas cega, também lhe tirou as suas capacidades sensoriais das mãos. Ela morreria ali. Abandonada em volto as trevas. A única coisa lhe restava, era chorar. O medo já não te servia, o desespero era seu único companheiro... E assim, ela fez. Chorou. Chorou tanto que os soluços causavam ecos e ecos só retornavam como forma de punição para lhe dizer o quanto estava sozinha. Começou a sufocar lentamente em sua própria angústia. E quando finalmente, ia se entregar, se dar por vencida, atirando-se na negritude do manto que a rodeava e desistir de vez de lutar; ouviu uma voz..

- 'Mamãe? ' - Pensou estar louca. Perdeu a visão, os sentidos e agora, perdera a sanidade.

- 'Mamãe' - repetia a voz que lhe parecia ser de uma criança. Então, tentou se concentrar, limpou as lágrimas que há tempos não paravam de descer e acalmou sua respiração. Engoliu seu choro; precisava de todo o silêncio para ter certeza do que ouvia.

- 'Mamãe' - pela terceira vez, alguém chamou e ela respondeu..

- Tem alguém aí? - Mas, a resposta não veio e a fraca luz de esperança que se acendeu dentro dela, pareceu se extinguir.

- 'Você sabe quem você é. Você sabe onde está. Você sabe o que fazer. Você sabe a quem procurar.' - Diz a voz docemente infantil. - Ao ouvir isso, se levantou e tentou a todo custo procurar por alguém...

- Eu já não sei de mais nada - respondeu

- 'Se desistir desta vez, tudo o que vai te restar é isso: O vazio' - alertou a criança

- Eu tentei, eu tentei. Mas, não consigo achar uma saída

- 'Sempre há uma saída. Mas, saídas; são como escolhas. No final, sempre haverá uma consequência e só caberá a você, fazer delas, escolhas boas ou ruins'

- E como vou saber se são boas ou ruins?

- 'É tão simples... Do que mais precisa agora?' Perguntou a voz

- Eu preciso de luz - Respondeu

- 'NÃO... O que seu coração deseja? O que lá no fundo você mais precisa?' - A criança lhe questionou mais uma vez; o que a fez parar e por longos segundos, pensar. Ela sabia a resposta. A quanto tempo todo o seu ser gritava e pedia apenas uma coisa...

- Estar perto dela.. - sussurrou

- 'Já pensou, que talvez ela traga a luz que precisa?'

- É Claro que já... Mas, o quão egoísta eu seria de levar a minha escuridão e lhe roubar um pouco de sua luz?

- 'O amor não é assim? Dar e receber. Compartilhar Felicidades e tristezas. Medos e certezas? Talvez, ela também precise disso. É tudo questão de equilíbrio.'

- Eu não sei...

- 'Você sabe. Sempre soube. Mas, desta vez, não haverá mais chances. Procure a saída. Ela lhe trará a escolha e escolha só dependerá de você.' - Aconselhou a doce voz se afastando aos poucos. Ela percebeu que novamente ficaria sozinha. Um desespero tomou conta de si. Como sairia de lá? Ainda estava perdida.

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