Capítulo um

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- Não vou casar com um cara que nem conheço, pai! - exclamei segundos depois dele me propor a coisa mais absurda que eu já tinha ouvido na vida.

- Zoe, vai ser pura marketing. No máximo um ano. Eu preciso que você case, os Wado não fecham negócios com quem não tem os mesmos costumes que eles e você sabe que ter uma Smell Corporation na Ásia nos deixaria bilionários!

Costume? Quem ligava para costume no século vinte e um?

- Então seu plano é me dar de bandeja para algum idiota?

- O meu plano é um casamento simples e rápido. Você poderia se divorciar sem alarde e depois ir morar na África como sempre quis. Eu inventaria alguma coisa para a mídia, e estaria sempre presente na sua casa. Você não estaria sozinha.

Meu pai falou como se fosse a coisa mais simples do mundo, minhas sobrancelhas se arquearam quando aquele absurdo saiu de sua boca, ele não poderia estar falando sério. Meu pai não estava mesmo propondo me vender.

- Eu estou sempre sozinha.

As palavras saíram da minha boca com facilidade. O homem sentado a minha frente abaixou a cabeça ligeiramente culpado, eu sabia que meu pai se sentia responsável pela traição do meu ex noivo e de certa forma, ele também havia me traído. Ele e Helena sabiam de tudo meses antes de eu pegar os dois na minha cama. Senti um aperto no coração ao lembrar daquele dia, e sabia que provavelmente sempre iria sentir.

- Você tem a chance de ir embora, querida. Você pode recomeçar do zero, Zoe. Não teria que viver se escondendo, não teria que viver bebendo e trancada no seu quarto como se nada mais importasse.

Helena nunca me deixaria ir embora, ela nunca iria permitir que o status de família perfeita desmoronasse. Quando tentei ir embora para Las Vegas depois de descobrir toda a história do caso de Riley e Brian, ela me obrigou a ficar, alegando que a imprensa saberia de todo o escândalo. Convenceu meu pai de mandar eu ficar, ficar em LA e ver a desgraça que minha vida tinha se tornado, só para não falarem mal da sua filhinha de ouro.

- Como esse casamento iria ser? E com quem eu iria casar? - Perguntei em um impulso.

- Com o filho dos Wado.

- Então isso é um casamento arranjado? - Arqueei uma sobrancelha olhando incrédula para o meu pai.

- Tecnicamente, vai ser pura marketing como eu disse antes. Eu conversei com ele no dia da minha festa de aniversário, é o homem mais sério que eu conheci. Com certeza não vai ter nenhum problema com ele.

Ótimo. Homem asiático velho e rabugento. Bufei passando as mãos no rosto procurando calma, eu sabia que essa seria a única opção de ir embora daquela casa e depois, daquele país. Eu precisava comprar a minha liberdade e aquela era a única forma de ir embora do lugar que não me cabia mais. Eu não precisaria mais olhar na cara da mulher que transformou minha vida em um completo inferno desde os 12 anos, nem da filha dela e isso era o que eu mais queria. Sacrifícios tinham que serem feitos, já tinha passado da hora de ir embora. Tudo já tinha acabado para mim aqui, e eu tinha uma vida inteira para começar na África.

Mas o preço era alto, e eu sabia disso. Dizer sim para a proposta absurda do meu pai era estar presa em um contrato, um contrato que eu não poderia simplesmente quebrar quando quisesse, algo que não estaria no meu controle. Tudo na minha vida estava fora do controle naquele momento, eu não queria ter mais uma coisa que não pudesse saber exatamente o que era. Casar com um estranho era frio de mais, calculista de mais, e mesmo assim, eu estava cogitando fazer, pela minha liberdade.

Eu era patética, incrivelmente patética.

- Se eu aceitar, posso participar da leitura do contrato? - Me arrisquei a perguntar.

Contrato EscarlateWhere stories live. Discover now