CAPÍTULO: 10 ✓

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"Essa criança foi concebida enquanto ainda estavam casadas."

"Mas não por mim." Demi lembrou-a com um sorriso amargo. "Ela podia pegar esse bebê e ir criá-lo no Ártico por tudo que me interessava. O problema é que a criança nasceu com um problema de saúde que acabou se convertendo em leucemia posteriormente. Eu sei disso porque ela insiste em seu queixar que minha pensão não é o suficiente para pagar os médicos. Eu tenho uma geladeira de 20 anos em casa porque ela fica com tudo o que sobra do meu salário, então eu não presto muita atenção nas coisas que ela diz. Alguns meses atrás ela apareceu no meu escritório e me pediu que localiza-se Troy Ogletree. Eu sabia que não deveria mexer com fantasmas do passado e que nada bom viria disso. Conheci seu marido, ele apareceu na minha porta depois que você foi embora. Não é um sujeito muito simpático."

Foi a primeira menção do que aconteceu com elas desde o primeiro dia que se reencontraram. Até então, apenas a traição de Troy fora mencionada, mas lá estava ela, lembrando do fato que ambas havia dormido juntas como forma de vingança às traições de seus parceiros.

"Sabia que ele ia querer essa criança tanto quanto eu." Demi completou. "Mas Maite queria que eu o achasse e eu fiz isso em nome de Robert."

"A criança que você não tem nenhum tipo de sentimento." Allyson comentou com a voz recheada de 'eu sabia que estava mentindo'.

"O ponto é que o menino está morrendo. Qualquer pessoa com um pouco de coração iria tentar deixá-lo mais confortável nessa situação. Maite só quer que ele conheça o pai."

Allyson mordeu o lábio inferior e Demi aproveitou o momento para comer. Já estava meio frio, mas ela não se importava. Sobrevivia de sobras a maior parte da semana, o fato de ter comida fresca na sua frente era algo admirável.

"É verdade?"

Demi se questionou por um momento se havia cara de quem brinca com os sentimentos alheios, mas já tinha essa resposta. Detetives particulares não são bem vistos na praça. "Posso te levar ao hospital. Já está na UTI a três meses."

A mulher loira mordeu o lábio mais uma vez e balançou a cabeça em descrença. "Troy me disse que fez o teste de DNA e que havia dado positivo. Disse que iria dar o dinheiro que ela queria para que parasse de se meter em nossa vida." Ela fungou. "Nem sequer pediu desculpas."

"Se ele não pediu a dois anos, é provável que nunca mais peça. Esse é o problema dos homens. Acham que tem o direito de dormir com quem quiserem só por serem mais fortes por causa da evolução."

"Há uma explicação. Dizem que remota dos tempos de Adão e Eva.
A mulher seria considerada frágil por ter caído na tentação de comer a fruta e traidora por dar-lhe a Adão, que é considerado forte e mais merecedor por ter aguentado a tentação por mais tempo e que acreditam ter sido enganado por Eva com seu charme feminino."

Demi deixou seu garfo parado no ar por alguns segundos enquanto lançava um olhar admirado e curioso para sua companheira. "Adão é considerado puro e Eva a grande traidora, por isso os homens sempre foram considerados seres melhores." Ela concluiu. Podia parecer bobagem, mas ela sempre imaginou Allyson trancada em casa com nada para fazer enquanto seu marido trabalhava e dormia com mulheres aleatórias. "Impressionante."

"Bom, senhora Espinosa, eu fiz faculdade também." Allyson se defendeu, parecendo ofendida com sua surpresa.

"Eu não fiz faculdade." Demi deu de ombros enquanto comia o último pedaço de frango.

"Não?" Agora era a outra mulher que parecia curiosa. "Mas não é preciso fazer para ser detetive?"

"Não necessariamente." Ela sorriu. "Você só tem que ser uma boa observadora e saber reunir provas o mais rápido que puder. Ouvir também é uma característica importante."

"Ouvir?"

Demi se inclinou sobre a mesa e ficou momentaneamente feliz ao ver Allyson fazendo o mesmo. "Mesa dez. Ele está discutindo com seu colega de trabalho sobre um caso. São médicos. Alguém errou na hora da cirurgia e o paciente morreu, estão se acusando. Na minha opinião, os dois são culpados."

Allyson olhou por cima do ombro, então de volta para a mulher. "Por que? Um erro médico é perfeitamente normal."

"É por isso que você fez faculdade." Demi brincou. "O homem sentado de costas está com a roupa amassada e a barba não está bem feita, seu cabelo está maior que o normal, segundo marcas anteriores de cortes, e seus ombros estão caídos. Ele está exausto e, mesmo assim, foi fazer uma cirurgia ao invés de tirar férias. O outro está segurando o copo com dificuldade e já o vi derrubar o arroz algumas vezes, sua respiração está pesada e sua voz está esganiçada, seus dedos não estão tão firmes e sua gravata está manchada com algo que eu imagino ser geleia. Ele está doente."

Allyson parecia impressionada. "Como você..."

"Prática." Demi ajeitou o corpo na cadeira e terminou sua água.

"A quanto tempo é detetive?"

"Tempo suficiente para saber que o dinheiro não entra no banco como as contas entram pela porta. Como detetive particular tenho 4 anos, mas são mais 3 na corporação."

"Wow."

Demi sorriu. "Espero ter respondido suas questões, senhora Ogletree. Maite não quer o dinheiro, só quer que o filho tenha o apoio do pai. Infelizmente para ela, seu marido não tem coração."

"Como é?"

"A verdade dita por outra pessoa é sempre mais cruel e verdadeira." Demi comentou com conhecimento enquanto tirava uma quantia de dinheiro do bolso. Allyson, não havia pedido nada, ela teria que pagar sua conta. "Sinto muito por você ter um marido como ele. Você merece muito mais. Tente convencê-lo a ir ao hospital. O garoto não tem muito mais tempo segundo o que ouvi."

•Demally• √ E͟y͟e͟  F͟o͟r͟  A͟n͟  E͟y͟e͟Where stories live. Discover now