a matéria prima do sono e da morte

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Seokjin não se surpreenderia se sua cabeça explodisse em um milhão de pedaços. Ou implodisse e desaparecesse, simplesmente deixasse a existência nesse plano do mundo. Sua consciência dançava alvoroçada, pulando contra os limites de seu crânio dolorido e ardente. Na escuridão instalada atrás de suas pálpebras, havia pouco mais do que dor e cansaço. Um ponto específico atrás de sua orelha esquerda parecia estar tentando voar para longe do resto do cérebro.

Ser mortal em um mundo de deuses ele pensou É sentir dores de cabeça além dos limites da existência.

A dor lhe lembrava da luz cegante da casa de Apolo. Aquela praia eterna estava milhares de mundos além da cama em que deitava. Um peso confortável e morno o pressionava contra a cama. Ele tentou abrir os olhos, mas uma única piscada foi suficiente para fazer seu coração parar seu ritmo por um segundo. A dor daquele mundo, um mundo de imortais e mortos, era demais para seu corpo vivo.

Teve que se limitar aos outros sentidos. Um forte cheiro de metal e leite. Ao seu lado, uma voz cantarolava. A melodia era longa e repetitiva, quase uma canção de ninar. O mundo dos sonhos parecia lhe chamar, como uma mão quente contra seu pulso.

Durma — disse uma voz desconhecida— Durma, mortal. É o sono ou a morte.

— Quieto, Hypnos. Pare de falar besteiras. — disse uma voz familiar. Mesmo com dores além do possível, Seokjin sabia que aquelas palavras eram de Apolo. Saberia diferenciar a voz dele entre os gritos de uma multidão. Reconheceria seu canto entre os lamentos infindáveis dos Campos Asfódelos.

— É melhor que ele durma, Apolo. É melhor que esteja dormindo quando meu irmão chegar.

Silêncio. Deveria estar havendo algum tipo de comunicação não verbal.

Passos se aproximaram de seu leito macio e uma mão quente tocou sua testa. Próxima a seu ouvido, uma voz doce começou a cantarolar uma canção. Estranhamente, aquela voz não era de Apolo. Não, aquele som não lhe parecia nem humanoide. As palavras se misturavam, uma melodia como leite escorrendo para fora de uma jarra.

E enquanto o leite lentamente caia, Jin sentiu um outro mundo, completamente novo, o envolver. Um mundo de paz tão absoluta que não poderia ser verdade.

Então, todos os seus sentidos derreteram para dentro de um lago quente.

É o sono ou a morte. Afirmou a voz macia de Hypnos.

É o sono... ou a morte?

xxx

Yoongi caminhou até o palácio de Tânatos em um ritmo lento e constante. Ele poderia ter se teletransportado, ou corrido até lá rápido como uma flecha. Mas naquele momento, ele só queria sentir a quietude da noite contra sua pele e repassar em sua cabeça tudo que tinha lhe acontecido. Parecia ter sido ontem, o dia que foi apresentado ao Olimpo.

Esteve extremamente consciente da espada em suas costas por todo o caminho, o que, por sua vez, o tornava extremamente consciente do que carregava em sua mochila. Quanto peso para carregar em suas costas. Parecia quase carma, outra piada de mal gosto por parte de Nêmesis. Se preocupara com tudo, toda hora, desde o inicio de sua vida imortal, e agora tinha finalmente peso real para lhe afligir.

Fiques livre de suas preocupações, pois são privilégio de vocês deuses, que tem tempo de se preocupar.

A voz soou em seus ouvidos como uma sino de igreja. A verdade era que, naquele momento, Yoongi era como um mortal: sem tempo de se preocupar. E mesmo assim, por sua cabeça corriam todo o tipo de preocupação tola. A voz de Jimin o lembrou do quão pouco ele tinha realmente a ouvido. De quão curto fora o tempo que passaram juntos. O amor divino, veja, é uma coisa muito mais complexa e muito mais simples do que o amor mortal. O amor divino sempre tem certeza. E o amor divino pinga com tragédia. Mesmo que tentasse, Yoongi nunca saberia explicar a máquina intrincada dos sentimentos deificos para um mortal. Mal conseguia explicar para si mesmo.

NARCISO | MYG + PJMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora