Capítulo V - no meio dos sonhos distantes e pesadelos constantes

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Wu Yifan odiava sangue.

Odiava o cheiro ferroso que entrava por entre as suas narinas e o enjoava. Odiava a textura líquida que escorria por entre os dedos de sua mão.

Porém, odiava mais ainda o que tudo isso significava. Oras, se estava com as mãos sujas de sangue e se o seu estômago revirava pelo odor que este emanava, era por que havia sucumbido mais uma vez ao poder que o próprio sangue impunha a si.

Naquele galpão escuro, apenas com a risada de Zitao a ecoar de forma oca no meio do mais profundo silêncio, Yifan tinha a certeza que era um Wu.

E talvez por isso odiava o seu sangue ainda mais.

Queria fugir dali. Fugir de si mesmo, mas alguém ainda precisava de sua presença. E era por esse alguém que prosseguiu com a frieza que havia sido ensinado a ter desde criança.

— Quem mais estava lá? — Questionou olhando firme para a face daquele que já havia praticamente destroçado aos socos.

— E.. E... Eu não sei! — O homem ajoelhado depois de levar um chute nos joelhos bradou sem conseguir abrir os olhos direito, já que estes encontravam-se machucados demais depois da surra que havia levado.

— Mas veja só, Zitao — Yifan chamou o irmão que estava observando e sorrindo ao longe. — Ele diz que não sabe! — Falou um pouco mais alto pela raiva. — Que não sabe! Que não faz ideia de quem mais estava lá com ele enquanto estupravam aquela pobre moça!

O homem ainda de joelhos — sem perceber — deixou que um sorriso irônico nascesse em sua face maltratada.

— Você pode fazê-lo lembrar, Gu — Zitao provocou. Era fato que queria que a raiva subisse na mente do irmão. — Olha só, o desgraçado está sorrindo!

Yifan segurou o homem pela gola da camisa, aproximando os rostos de forma que quase cuspiu no outro, então prosseguiu: — Fale! Diga quem mais estava com você e quem os mandou! — Continuou com o olhar frio, encarando aquele que tentava virar a face para longe do chinês. — Nós vamos descobrir de todo modo, mas essa é a sua chance de continuar vivo.

Zitao carregou a arma e o som grave fez-se ouvir por todo galpão. Yifan sentiu o homem tremer de medo em suas mãos. Havia acabado, soube ali, que aquele era o fim.

— Foi o Henri! Ele que me chamou! — Yifan afrouxou o aperto do colarinho alheio — Eu não sei quem foi o mandante! Eu não sei de nada! — Yifan finalmente o soltou e deixou que ele continuasse aos poucos — Só fui convidado para uma noite, sabe? Henri me disse que sabia de uma "aberração" que merecia um castigo! — O homem juntou as mãos em um pedido pela vida. — Eu só fui para me divertir...

Yifan se contorceu por dentro ao ouvir aquilo. Alguém havia feito mal a Suho apenas por diversão. O chinês não conseguia pensar direito, porém deu outro soco no homem para descontar a sua raiva, soco esse que o desacordou. Saiu do galpão desconcentrado com Zitao em seu encalço, viu os homens do dragão do lado de fora, esperando alguma ordem, mas não daria nenhuma até que encontrasse Henri.

Yifan estava longe o suficiente dos homens, e Zitao aproveitou para ordenar o maior medo do mais velho dos Wu:

— Mate-o sem vestígios.

Após a ordem aproximou-se do irmão, caminhando de volta a concentração dos Wu.

Yifan nem imaginava, mas suas mãos estavam ainda mais sujas. Era agora tão sujo quanto aquele que perdeu a vida pela ordem de seu irmão.

— X —

Suho estava cansada daquelas paredes brancas e do perfume de álcool que rondava aquele lugar. Estava cansada de ficar sozinha e de ouvir os cochichos das enfermeiras quando passavam pela porta do seu quarto. Cansada daqueles tecidos que não eram seus, cansada de fingir que estava bem.

Valsa comigoWhere stories live. Discover now