34 - Visitas Surpresas, Namorados e Expressões Indecifráveis

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Durante aquela semana eu mal vi o Christopher. Ele estava indo para o prédio do ministério todos os dias e chegando tarde, enquanto eu estava mais ocupada que nunca graças à proximidade do final do ano. Eu tinha um milhão de coisas para fazer, sendo a mais difícil delas, sem dúvida, arrumar a decoração de Natal. Mas nada se comparava a quando a Cecília me pediu para ajudá-la a montar a árvore — e eu nem precisava dizer que era uma árvore gigante que chegava quase até o teto —, não que eu não tenha me divertido, mas foi demorado à beça.

E, embora eu soubesse que era um processo bem trabalhoso para decorar a minha casa no fim do ano, nunca me dei conta de que precisava de uma equipe de eletricistas para instalar as luzinhas externas.

Com toda essa agitação, eu só posso dizer que andava cansada pra valer e não estava tendo disposição para fazer qualquer coisa no meu tempo livre, exceto ler e assistir a filmes na tevê. Porém, para minha surpresa, na quinta-feira à noite, quando eu estava jogada na cama, assistindo a um episódio de Cake Boss, o meu celular tocou. Sem mudar de posição, estiquei o braço e peguei o aparelho sobre o criado mudo, certa de que era a Sayuri. Mas quando olhei o visor, estranhamente senti um certo peso no estômago: Léo.

Eu tinha passado toda a última semana com uma culpa pesando no fundo da minha mente. Não que eu estivesse arrependida de ter beijado o Christopher. Eu não estava. Mas me sentia completamente culpada por ter traído o Léo. Eu me sentia uma sacana. Cheguei mesmo a ligar para o Léo uma vez, disposta a contar tudo e provavelmente ter o meu relacionamento chegando ao fim. Porém a ligação tinha chamado até cair na caixa postal.

E, no entanto, ali estava ele me ligando. Pela primeira vez, à propósito. Será que ele tinha sentido algo diferente ou sei lá o quê? Enquanto cogitava os possíveis poderes paranormais do Léo para detectar traições, eu atendi o celular:

— Oi — eu disse, um tanto apática.

— Oi! — Pela primeira vez também, ele parecia empolgado.

— Eu precisava mesmo falar com você. Preciso te contar uma coisa...

Ele me interrompeu com sua animação:

— Eu primeiro! Tenho novidades. Eu vou para Nova Germânia te ver! — Ele não podia me ver, claro, mas eu estava absolutamente paralisada. Ele prosseguiu, aparentemente sem estranhar o meu silêncio: — Já comprei a passagem. A gente vai se ver pessoalmente no final de semana!

Senti meu sangue gelar e sentei de súbito. Talvez minha voz tenha soado mais estridente do que eu gostaria:

— No final de semana? No final desta semana?

— Sim!

Parecia que eu estava prestes a entrar em colapso, hiperventilar ou sei lá o quê. Só pude ficar em silêncio outra vez, enquanto um bilhão de coisas passava pela minha cabeça ao mesmo tempo. Ok, eu sei que fiquei insistindo para que ele viesse me visitar e, inclusive ficado aborrecida porque ele se recusara e tudo mais. Mas isso foi antes. Antes de quê? Antes que eu beijasse outro cara e percebesse que estava com uma montanha de dúvidas sobre o meu namoro com o Léo. O que eu quero dizer é: a última coisa que eu desejava era vê-lo agora.

— Ah... — murmurei, tentando não deixar tão imensamente óbvio o quão pouco empolgada eu estava. — Que legal! — Falei, mas não era preciso ser nenhum gênio observador para perceber que eu não estava achando tão legal assim. — Eu preciso desligar... tenho algumas coisas para fazer.

— A esta hora?

Bem, é claro que eu estava mentindo sobre ter coisas para fazer naquele momento. Mas ele me dispensava o tempo todo quando eu ligava para ele e eu nunca disse nada.

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