2º Capítulo

42K 1.8K 228
                                    

Estava deitada no quarto do hospital a ver televisão quando os meus pais entram no quarto e forçam sorrisos. Não percebo porque é que eles os forçam quando é claro nos seus olhos vermelhos que têm andado a chorar...

Mãe: Olá filhota, como estás? - perguntou dando-me um beijo na testa

Eu: Mãe- reclamei

Uma coisa que não gosto é que os meus pais me vejam como a criança que era. É como se, para eles, eu ainda tivesse uns dois ou três anos e precisa-se de estar sempre debaixo da asa deles!

Pai: Não vês que ela já tem 90 anos? - perguntou a gozar comigo

Eu: Também é bom ver-te- resmunguei

Mãe: Olha estivemos a tentar falar com o agente da banda- disse quando se sentou

Eu: E então? - perguntei ansiosa

Mãe: Não conseguimos que eles viessem até cá, mas pode ser que os médicos te dêem alta e vás até um dos concertos deles- tentou ser otimista

Pai: Mas para isso terias de ficar melhor, não me parece que eles te vão deixar sair assim

Eu: Então acho que nunca os vou ver- disse calmamente

Mãe: Rose podias

Eu: Nem penses, mãe- interrompi-a- Já falamos sobre o assunto e a minha decisão está tomada, sabes disso

Pai: Não vais mesmo mudar de opinião, pois não? - suspirou

Eu: Desculpem, mas não

Eles ficaram a fazer-me companhia mais um bocadinho, mas depois acabaram por ter de voltar aos trabalhos porque apesar de eu estar aqui presa, a vida continua. Eles só vieram porque estavam na hora de almoço, então como ainda tinham de ir comer alguma coisa prontos.

A enfermeira de à pouco veio trazer-me o almoço e eu pedi-lhe desculpa por ter sido bruta mas expliquei que estava farta que todos tentassem fazer-me mudar de opinião e aceitar os tratamentos.

Por mim eu nem estava fechada neste hospital, quanto mais fazer os tratamentos...

Não quero que os meus pais se sacrifiquem assim tanto por mim!

Almocei a sopa horrível do hospital e depois comi o puré que sabia mal para tomar os comprimidos. Comi uma peça de fruta e acabei por me levantar da cama e caminhar pelos corredores dos hospitais.

Isto aqui é um pouco deprimente... Nunca há silêncio, pois existe sempre alguém a gritar num dos quartos e é como se as paredes fossem de papel. As noites são as mais complicadas porque segundo o que já percebi, é quando mais mulheres entram em trabalho de parto.

Adorava um dia passar por essa experiência, mas realmente parece que não vou chegar lá, mesmo que seja por decisão minha, é um pouco triste.

Acho que todas, ou grande parte das mulheres e adolescentes, em crianças imaginam como será um dia o seu casamento, quantos filhos terão, como serão... Bem eu não sou exceção! Eu imaginei tudo isso, mas acabou tudo por cair por terra com esta doença.

Aquele ditado "quem tudo quer, tudo perde" enquadra-se perfeitamente na minha vida neste momento. Tudo aquilo que eu um dia quis, está agora completamente fora do meu alcance...

Acabei por ir novamente parar em frente à maternidade e para não correr o risco de a enfermeira aparecer mais uma vez, acabei por entrar lá para dentro. Caminhei por entre aqueles "berços" cheios de bebés e fiquei a observar aqueles que dormiam calmamente.

Um dos bebés começou a chorar de repente e eu apressei-me a ir até ele para ver o que se passava. Não é como se eu fosse especialista no assunto, mas tenho esperanças de o conseguir acalmar sem que tenha de vir uma enfermeira ou mais bebés comecem a chorar.

Younger ➵ h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora