5 • Colega De Apartamento

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— Espera... quer dizer que você se perdeu em Toronto e um príncipe encantado apareceu em um cavalo branco pra te ajudar?

— Não tem nada de príncipe encantado e cavalo branco, Marina!

— Só estou brincando, fica fria! — minha amiga fez uma pausa e cerrou os olhos me encarando pela tela do computador. Um sorriso malicioso surgiu no canto da boca dela. — Me conte mais sobre esse tal Peter que te ajudou.

— Não tem nada de mais nele, ele me ajudou e foi muito educado. Só isso! Eu te contei sobre ter ficado perdida nessa cidade imensa e você só focou na parte do cara que me ajudou.

— Ele pode ser o amor da sua vida, Ana Beatriz.

— Não viaja! Minha vida não é um filme hollywoodiano.

— Ainda acho que você deveria ter pego o número dele, você precisa conhecer gente nova.

— Eu não quero me relacionar com ninguém. Você sabe que eu acabei de terminar com o Lucas... — bufei.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

— Só te peço que não conte nada pra minha mãe, você sabe como ela é. Se ela descobrir que me perdi e um estranho me ajudou é capaz de ela me mandar voltar para o Brasil!

— Não vou contar.

— Sabe o que é mais engraçado? Agora que estou lembrando do que aconteceu, tenho a impressão de que conheço esse Peter de algum lugar.

— Isso é praticamente impossível, você nunca esteve em Toronto. Só se ele fosse famoso!

— Não, definitivamente ele não é famoso. — falei e olhei as horas no celular. — Vou desligar, daqui a pouco minha colega de apartamento chega e eu preciso recebê-la.

— Já está me trocando pela colega de apartamento? — minha amiga cruzou os braços.

— Sem tempo para seus dramas, Marina! — revirei os olhos.

— Começa assim, daqui algum tempo nem vai lembrar da minha existência.

— Até mais! — acenei ignorando o comentário dela.

— Tchau, canadense! — eu ri e desliguei a chamada de vídeo.

Mais tarde, enquanto eu arrumava algumas coisas no meu novo quarto, ouvi a campainha tocar.

Por precaução, olhei pelo olho mágico da porta e pude ver uma garota de óculos escuros e com os olhos atentos ao celular. Era Daisy, minha nova colega de quarto e eu sabia porque havia visto fotos dela em uma rede social. Sim, sou curiosa.

— Olá! — eu disse sorrindo após abrir a porta. A garota tirou os óculos e me olhou dos pés a cabeça.

— Você deve ser a Ana Beatriz, certo? — ela colocou os óculos de novo.

— Eu mesma. E você deve ser a Daisy Thompson, certo?

— Eu mesma! — ela sorriu e me abraçou. — É muito bom finalmente te conhecer!

— É muito bom conhecer você também. — eu disse sem graça.

— Vamos entrando! — Daisy puxou suas duas malas e entrou no apartamento, se jogando no sofá logo em seguida. — Até que não é nada mal!

— O quê? — fechei a porta e me aproximei da garota.

— O apartamento, dã! — ela riu e eu fiquei sem graça mais uma vez. — Você chegou quando?

— Ontem pela manhã.

— Eu cheguei tem dois dias.

— E por que você não veio pra cá?

— Fiquei em um hotel. Queria conhecer um pouco da cidade e, você sabe, conhecer garotos. Não quis incomodar você!

— Ah, entendi. — forcei um sorriso.

— Os canadenses são tão lindos! — ela jogou a cabeça para trás e riu.

— Muito educados também. Conheci um garoto muito gentil ontem quando fiquei perdida.

— Oi? — ela me encarou com olhos arregalados e me puxou para o sofá. — Você o conheceu aonde? Garota, me conte tudo.

— Ei, não tem nada de mais. Só comentei que os canadenses são educados e que conheci um.

— Não enrola, só me conta o que aconteceu e eu vou te dizer se isso é algo ou não. — a americana pegou em minhas mãos como se fossemos amigas de longa data. Ela parecia eufórica.

— Eu precisava ir até a universidade, mas acabei me perdendo no meio do caminho. Fiquei em pânico e o garoto apareceu, seu nome era Peter. Ele me levou até uma padaria para que eu me acalmasse, e depois me acompanhou até a universidade por segurança.

— E ele tinha cara de tarado? — ela cerrou os olhos.

— Não, parecia bem normal e eu vi que ele queria realmente me ajudar.

— Ele era bonito?

— Acho que sim.

— Ele é ou não é? — senti a garota apertar minha mão.

— Sim, ele era bonito. Mas era normal.

— Me diga que vocês trocaram os números.

— Não.

— Ai, Ana Beatriz! Mal te conheço e já percebi que você é bem lerda! — Daisy se levantou. — Não é todos os dias que se encontra um garoto tão gentil assim.

— Eu não tenho interesse, não quero me prender a ninguém.

— Torço pra que eu encontre esse Peter por ai antes de você, porque ai eu vou pegar o número dele e ele vai ser meu. — ela deu de ombros e jogou os cabelos para trás.

— Fique à vontade. — eu ri.

— Agora chega de papo furado. Você pode me mostrar meu quarto e o banheiro? Preciso urgentemente de um banho.

— Mostro sim! — fiquei de pé e a guiei até o quarto dela.

O restante do dia seguiu com Daisy tagarelando sobre várias coisas e eu rindo de quase tudo o que ela dizia. Ela falava bastante, e em poucas horas eu já sabia muito sobre a vida dela.

Daisy morava em Los Angeles com a mãe, que era empresária, e o pai ela nunca havia conhecido. Ela tinha um cachorro, um gato e uma tartaruga, e lamentou não ter conseguido trazer nenhum deles para Toronto.

A garota de cabelos escuros e pele bronzeada parecia ser legal e eu achei incrível o jeito extrovertido dela.

Fiquei feliz por estar me dando bem com dela. Agora mais do que nunca eu precisava conhecer novas pessoas e me divertir com elas.

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Lost In Canada Onde as histórias ganham vida. Descobre agora