RECONHECER; [REVISÃO]

FRAQUEZAS;

Tudo era tão estranho, sua cabeça rodava como se estivesse a horas dentro de um carrossel em velocidade máxima. Se quer conseguia manter sua cabeça em ordem, não conseguia pensar em uma coisa de cada vez.

Parecia que iria enlouquecer, ou talvez já estava louca.

Seu corpo se manteve sentado naquela cama de hospital, porém, não conseguia ter controle sobre ele, parecia que essa função já não funcionava mais. E com toda certeza, ela sentia o desespero de não ter mais esse controle, além de tudo a garganta apertava, por não poder soltar a imensidão de coisas que estava sentindo.

Conseguia dar breves, porém curtas respostas para a enfermeira que cuidava de si, Milena. Podia ver o quão preocupada ela parecia estar e se sentia decepcionada por não ter as reações que ela esperava que tivesse.

Em alguns momentos de solidão, em que não estava acompanhada por Milena, ela lembrava sobre as palavras de seu amigo.

Lembrou-se que ele disse que sempre a ouviria, então passou a falar da forma que conseguia com ele. Já que não tinha forças para colocar para fora as muitas coisas que queria dizer.

Uma das primeiras conversas foram bastante difíceis para ela, não conseguia entender o porquê de estar passando por aquelas coisas, não conseguia entender o porquê daquilo.

Então por mais que tudo o que ela quisesse fazer era indagar, teve forças o bastante para soltar tudo o que sentia sobre as coisas que aconteceram e sobre si mesma.

''Então era sobre isso que estava falando quando mencionou que eu precisaria lutar pelas coisas que eu preciso mudar dentro de mim? Foi sobre isso que estava dizendo quando falou que algo iria me matar por dentro? É, eu acho que sim. E como em todas as vezes que conversamos sobre algo, você estava certo no que disse.

Eu sei que disse que estaria comigo em todos os momentos, então provavelmente deve estar aqui comigo. Mas sinceramente, eu não acredito que mereça, não agora.

Quando disse que se casaria comigo todos os dias você sabia que eu passaria por isso, então por que? Por que quer casar com alguém suja como eu? Eu não compreendo. Não sou digna disto, e eu sei que preciso ser alguém nova e limpa para que queira pelo menos chegar perto de mim. Será que você mudou de ideia sobre o que disse? Eu não tenho certeza.

Me desculpe por isso, mas me sinto imunda demais para que esteja se quer perto de mim agora, eu não mereço e não quero que me sinta assim. É puro demais para isso.''

Seu corpo gritava de dor, assim como o seu coração a cada palavra que era pronunciada. Se sentia a mais impura dentre as pessoas a qual ele amava e gostava de se manter perto.

Sabia que estava fazendo mal para si mesma, mas não conseguia se quer gostar de seu corpo agora. O nojo que sentia a consumia.

E também sabia que doeria ainda mais depois, que não só ela, como todos ao seu redor sofreriam ao vê-la cada vez mais fundo de si mesma.

— Boa tarde meu bem, como está se sentindo hoje? – como sempre, a resposta não veio. Apenas um sorriso falso que lhe era direcionado na tentativa de mostrar uma certa força. Que Milena sabia bem que era difícil ter nesses momentos — Tudo bem, olha só. Não é uma vergonha mostrar que está doendo, muito menos mostrar que você está quebrada por dentro. Eu não vou julgar você por isso. – ela sorriu e tocou em uma de suas mãos, tentando passar conforto — Sei que não é fácil, são muitas coisas para assimilar e nós muitas vezes nos culpamos e nos sentimos inferiores, coisas que não somos e você precisa acreditar nisso. – entendia completamente a forma que Hollyn se olhava e provavelmente se sentia, mas não poderia deixar que alguém se afundasse tanto assim para dentro de si, ela sabia o quão sombrio era viver assim. — Olha, eu só tenho 26 anos, mas acredite eu já passei por coisas que me fizeram quebrar completamente. Muitas pessoas desistiram de mim por eu ter me fechado, mas eu não vou desistir de você, eu vou te ajudar a superar essas coisas e não vou deixar que você fique presa dentro de si mesma por conta de uma culpa que você não tem, entendeu? - Hollyn concordou com a cabeça, se sentia bem sabendo que alguém se importava com ela — A propósito, o seu amigo Bradley está muito preocupado com você.

Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar aquele garoto de olhos profundos, e sabia que não poderia fugir.

— Tá tudo bem, ele te entende e sabe que você não quer ele tão perto agora. Não precisa se preocupar, ele não vai te fazer mal. Se ele te esperou por dias a fio enquanto se quer dormia de tão nervoso, não acho que é agora que ele vai te desapontar ou desistir de você.

Se sentia mais aliviada com isso, apesar de ficar preocupada depois e saber que ele passou os dias em que ela estava aqui sem dormir. Não sabia que ele se importava tanto a esse ponto.

A tarde se passou devagar, e logo começou a se distrair com seus próprios pensamentos.  

— Oi – ele a tirou dos seus pensamentos enquanto entrava no quarto.

Seus olhos estavam um pouco inchados, o que denunciava para Hollyn que ele havia chorando durante a noite, o que a deixou mal por saber que a causa do choro foi ela.

— Não se preocupe com nada, eu sei que não vai me responder ou algo parecido, antes de entrar aqui eu conversei com a Milena. – soltou o ar que nem mesmo ela sabia que havia segurado em seus pulmões. — Eu só quero ficar aqui para te fazer companhia, eu sei que deve ser chato ficar aqui o dia todo sem fazer nada.

Por mais que ele não quisesse, um clima completamente desagradável se instalou ali, e ele sentiu que seria a hora de tentar conversar com ela.

— Posso te contar uma coisa que ninguém daquela nossa roda de amigos sabe? – ela assentiu, e ele se sentiu feliz por pelo menos receber essa afirmação — Eu já tive uma irmã, e ela era a única que eu tive já que a minha mãe sempre planejou ter apenas dois filhos. E nossa, além de ser a melhor pessoa que eu já tive perto de mim, ela era também a minha melhor amiga. Ela era 1 ano mais velha do que eu, mas agia como se fosse o bebê da casa, era engraçado já que geralmente os irmãos mais velhos se gabam por conquistar as coisas primeiro, mas com ela não era desse jeito, era diferente – ele sorriu e Hollyn se sentiu mal por ver que algumas lágrimas começaram a descer de seus olhos e ela não podia fazer nada — A gente fazia tudo junto, lembro que até as amigas dela tinham ciúmes de nós dois, o que era estranho já que eu é quem era o irmão dela e deveria sentir algum tipo de ciúme dela com as amigas, mas enfim. Teve uma noite que uma amiga pediu para ela passar o fim de semana com ela na sua casa, e minha mãe deixou. Foi um pouco solitário ficar sem ela durante 3 dias mas eu me consolava pensando que logo depois ela estaria em casa para nos divertimos juntos de novo. Só que isso não aconteceu – Hollyn sentiu seu coração ficar pequeno quando percebeu que ele estava chorando com mais intensidade — Ela nem conseguia olhar pra mim, me evitou durante 2 dias inteiros e eu me perguntava o que tinha feito para ela não querer mais ficar comigo. Quando eu tentei falar com ela para perguntar o porquê daquilo ela surtou, começou a gritar e sem querer arranhou o meu rosto com alguma coisa que ela estava segurando. Quando minha mãe se aproximou perguntando o que tinha acontecido ela começou a chorar e se machucar, dizendo que estava suja e que não conseguia limpar as marcas. Nós não entendemos de primeira, mas então ela mostrou os hematomas que estavam espalhados pelo seu corpo. Disse que durante a noite o pai da amiga dela invadiu o quarto e levou ela para um quarto da casa onde ninguém conseguiria ouvi-la, agarrou ela a força e disse que se ela contasse para alguém, ele matava todos nós. Quando meu pai soube disso foi atrás dele feito um louco, disse que jamais perdoaria esse cara e que o mataria com as próprias mãos se fosse possível, mas ele acabou esquecendo que a mais afetada de todos nós,e quando ela ficou apenas 1 minuto sozinha, foi tempo suficiente para ela se enforcar no banheiro.

Ouvir aquilo foi horrível, ela sentia como se estivesse na pele da irmã dele e sentia vontade de vomitar por conta do nó em sua garganta.

— Eu não quero que pense que te contei isso pra sentir pena dela ou de mim, não quero que pense que te contando isso eu penso em ter algum tipo de crédito com você, porque eu não é nada disso. Eu só quero que você saiba que apesar de não ter sido comigo, eu entendo e sinto sua dor mesmo que pareça impossível. Eu posso e quero te ajudar, basta você me deixar fazer isso – ele olhou nos olhos de Hollyn de uma forma tão intensa que ela sentiu como se ele podesse ler tudo o que ela estava pensando — Eu não quero te perder como eu perdi ela Hollyn, não quero.

Mesmo que fosse algo tão trágico, ela conseguiu ter forças para confiar nele naquele momento, pois mesmo que ele não tivesse passado pelo ato, ele conhecia essa dor e entendia as fraquezas que ela tinha.