Quando Faltam as Palavras

15. Eu Amo Você

Assim que a ligação foi cortada, Wade abriu a porta do carro com pressa. O detetive o esperava do lado de fora do bordel, Wade nem parou para ouvi-lo, passou por ele pegando o embrulho em sua mão.
Ele desembrulhou a glock automática com agilidade, tinha feito aulas de tiro quando era mais novo, fazia tempo que ele não segurava uma daquela nas mãos, mas sentiu que ainda era capaz de manusea-la com precisão.
Entrou no lugar com a arma apontada, colocou um dedo sobre a boca pedindo silêncio assim que seus olhos cruzaram com os de uma bela garota atrás de um balcão. Wade perguntou baixo sobre o cara, e ela indicou a porta vermelha do outro lado do salão. Wade seguiu em direção a ela, pedindo que a garota chamasse a polícia.
Tocou na porta e tentou abri-la mas ela estava trancada.
A porta era de uma madeira forte, maciça com uma maçaneta de ótima qualidade, Wade gastaria um tempo ali. Forçando seu corpo contra porta repetidamente tentando arrebenta-lá enquanto chamava Peter aos berros.

Assim que Peter entendeu que estavam sozinhos, após Norman trancar a porta ele sorriu, Norman continuava calmo.

- Petey, você não sabe nem usar uma arma, o que pensa que está fazendo, me entregue ela e eu serei benevolente.

- Foda-se a sua benevolência, eu posso não saber usar uma arma, mas vou atirar até aprender.

A porta deu solavanco pra dentro e ambos desviaram os olhos segundos para entender o que havia acontecido.

A voz de Wade gritando o nome de Peter do lado de fora com desespero se sobressaiu

Quando aquela voz, tocou seu ouvido, o sorriso no rosto de Peter morreu. Norman aproveitou o momento.

- Abaixa a arma, e eu deixo você ir embora com ele. Vivo e bem.

Lágrimas começaram a brotar nos olhos de Peter, a realidade do que ele estava perdendo, parecia se esfregar na cara dele. No fim, talvez Peter tenha entendido, que mesmo que pouco, ou cheio da névoa que o confundia constantemente, Peter ainda se importava. Se importava o suficiente pra algo dentro dele gritar que se ele tivesse a chance, ele poderia tentar ser feliz, ele queria ser feliz, por mais difícil que fosse.
Ele suspirou profundamente.

- Já fiz minha escolha babaca.

- Meus seguranças vão chegar, e seu amiguinho vai se machucar.

Peter riu.

- Eu estou aqui a meses, seus seguranças não vem hoje, eles tratam seus negócios.

Qualquer pessoa que conhecesse Peter se assustaria com a quantidade de veneno que escorria de suas palavras.

Do lado de fora, Wade gritava pra Peter se afastar da porta, e então ele ouviu um tiro na maçaneta.

Peter pulou assustado, e Norman aproveitou o momento para avançar numa briga pela arma.
Wade deu um segundo tiro na porta, e ela cedeu, dando a oportunidade dele fazer parte do caos que se instaurou no lugar.

Peter segurava arma para o teto, se esforçando com toda força que tinha para não soltá-la, enquanto Norman a segurava através das mãos dele, tentando puxa-lá para ele.
Daquela distância Wade não podia atirar, e segundos se passaram enquanto ele tentava raciocinar rápido para resolver aquilo.
Por mais que Peter usasse toda a força, ele era só um garoto de 19 anos, e Norman era um cara de quase 50, acostumado a vencer brigas, e aquela não seria diferente, numa jogada suja ele empurrou Peter sobre a mesa, fazendo ele bater a cabeça com força, ficando tonto por alguns segundos, caindo no chão enquanto sentia o sangue escorrendo pela parte de trás da cabeça.
Norman apontou a arma em direção à Peter e um tiro audível soou pela sala.

Peter fechou os olhos fortes, esperando pelo pior, se perguntando porquê não tinha atirado antes, porquê ele se deixaria morrer, sem conseguir salvar Harry, sem conseguir matar aquele infeliz.
Então ouviu um baque forte no chão. O garoto respirava alto, rápido e assustado, se deixando abrir apenas um olho encarando o corpo de Norman banhando toda a sala em sangue, sangue escorria de um tiro que ele tomara por trás, Peter queria levantar e encarar corajosamente Wade, que salvara sua vida, mas o olhar de Norman vidrado invadiu a mente sua mente tão rápido, que involuntariamente ele tentou se arrastar pra trás, deixando as pernas deslizarem pelo sangue sem conseguir sair do lugar.
Wade avançou na sala agarrando Peter e o puxando para seus braços. Peter ouviu a arma de Wade caindo sobre o sangue, como quando alguém pisa sobre uma poça, respingando vermelho nos dois.
Ele colocou Peter no seu peito, tentando tirar o garoto daquela cena caótica.
O barulho de sirenes começou a tocar alto, e parecia ter despertado Peter levemente para o que estava acontecendo. Ele se desfez do abraço trêmulo de Wade, pegou sua mochila embaixo da escrivaninha e a arma de Wade no chão.

- Peter o que tá fazendo? Joga essa arma no chão agora.

Peter olhou pra ele com um sorriso triste, colocando a mochila sobre a mesinha. Ele se virou em direção ao corpo.

- Wade, aí tem tudo. Tudo que precisamos pra acabar com tudo isso aqui. Seu detetive deve saber aonde eu moro, você precisa buscar meu irmão lá. E ficar com ele.

Então ele descarregou a arma sobre o corpo no chão.

A polícia invadiu ao mesmo tempo que Wade forçava sua cabeça a raciocinar, e quando os policiais entraram pedindo que todo mundo colocasse a mão sobre a cabeça, as peças se encaixaram perfeitamente, era como se o tempo tivesse adquirido a consistência de câmera lenta, ouvindo sílaba a sílaba Peter gritar, enquanto jogava a arma longe.

- Fui eu! Eu matei Norman Osborn!

Os policiais avançaram sobre o garoto, colando seu rosto sobre o chão cheio de sangue, e ele se sentiu capaz de se afogar nele, enquanto sentia as mãos serem presas nas algemas. Wade gritava ensandecido tentando sair dos braços dos policiais que tentavam acalma-lo.
Peter não deixaria Wade levar a culpa por toda aquela merda. Ser pego com a arma na mão, atirando sobre o corpo morto de Norman, era a sentença que ele precisava para evitar qualquer dúvida, ele sorriu para Wade, sentindo seu sangue e o sangue de Norman escorrerem unidos por sua cabeça.
Aquilo parecia dizer muito, mesmo morto, ele continuava impregnado em Peter.

- Cuida do meu irmão, eu amo você.