13. Despedida

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Wade não gritou, ou berrou, ao ver aquela cena, ele se sentia exausto, e falho. Ele sentia a culpa, corroer suas entranhas, por não conseguir evitar, por não ser capaz de fazer nada, enquanto via Peter se desfazendo na sua frente. 

O silêncio se tornava ensurdecedor a medida que Wade encarava o corpo de Peter encolhido dentro daquela banheira.
Seu garoto tinha se ferido novamente, e ele nada pudera fazer pra impedir.
E quando eles não aguentaram mais o silêncio Peter levantou os olhos marejados encarando Wade, deixando apenas uma palavra escapar dos seus lábios.

- Desculpa.

Wade sentiu aquelas palavras entrarem por seus ouvidos, e correrem seu corpo todo, arrepiando cada pequeno centímetro, até chegar no coração, passando pela garganta deixando o gosto amargo e pelos pulmões o deixando sem ar.
Ele ignorou a vontade de chorar e gritar, questionando pq Deus permitia coisas tão cruéis acontecendo, se limitando ao gesto de pegar Peter no colo com todo cuidado e carinho, o sentando na pia, e pegando um kit de primeiros socorros disponível ali.
Peter adquirira um ar completamente aéreo, quase catatônico, enquanto Wade limpava e tratava corte por corte.
Ele tinha um imenso cuidado, e fazia isso com calma, tentando evitar qualquer desconforto, mas Peter parecia ser incapaz de sentir qualquer coisa naquele momento. Assim que terminou ele jogou os algodões e gazes usados fora, pegou uma toalha e limpou todo chão, tudo em um eterno silêncio, somente o som da toalha absorvendo o líquido do chão, tingindo-se de vermelho.
Por fim, ele pegou o garoto no colo, e o deitou na cama, usando uma manta para cobri-lo com carinho, plantando um beijo na testa. Ele desejou uma boa noite baixinho, como se não quisesse assusta-lo.
Sentindo que precisava de ar ele se virou pra partir, se sentindo impedido por mão que agarrara seu pulso.
Ali estava novamente aquele fio, que os mantinham conectados e que não permitia que eles se afastassem, não importa o quão tóxicos estavam se tornando um para o outro.
Ele olhou Peter por cima do ombro, e o garoto tinha um ar de súplica, como se alguém tivesse colado todos os pedaços do coração de Wade, só para quebrá-lo novamente naquele momento.

- Wade, por favor, não me deixa sozinho. Eu estou com medo.

Essa ultima frase fora sussurrada tão baixinho que se o silêncio não estivesse tão presente Wade a teria perdido.
Então ele deitou na cama ao lado do garoto, sentindo ele escala-lo para apoiar a cabeça no seu peito.

- Tá tudo bem Baby boy, você está seguro, eu vou protegê-lo, ninguém te alcançará aqui.

- Você não pode me proteger de mim mesmo.

Wade acariciou os cabelos sedosos de Peter, fazendo o cansaço de todo aquele dia ir tomando conta do garoto aos poucos.

- Pensaremos em algo pela manhã Petey.

Alguns minutos se passaram e Wade começava a pensar que talvez Peter tivesse dormido, quando ouviu sua voz tímida.

- Você gosta da Vanessa?

Wade queria gritar um monte de caralhos de palavrões, porque aquele momento estava tão problemático, e tinha ultrapassado todos os limites por uma situação que lhe parecia ser tempestade em copo d'água. Mas ele ponderou a situação de Peter e o quanto o garoto deveria se sentir inseguro e temeroso. E de novo ele gritou pra si mesmo, Peter era a vítima.

- Gosto, como uma ótima amiga. Ela é inteligente, eficiente e divertida. Mas eh isso que eu sinto por ela, amizade. Ela não entrou na minha vida mudando todos os meus conceitos, me colocando na rua para interagir com pessoas, coisa que eu não fazia por uns bons 10 anos, talvez até mais. A Vanessa não faz meu corpo se arrepiar só do jeito que ela me olha. Ou faz meu estômago dar cambalhotas quando sorri. Eu não estou pronto pra me relacionar com você, mas pronto ou não, você é o dono do meu coração.

Wade sentia lentamente o peito ser molhado pelos prantos de Peter, e ele não sabia mais o que fazer, ele queria ser capaz de tirar toda aquela dor. E quando Peter falou, sua voz embargada era a coisa mais triste que Wade já tinha ouvido na vida.

- Eu não posso te oferecer nada, eu sou uma mercadoria danificada. E eu só tenho servido pra te afundar cada vez mais nesse poço, que você tanto se esforça pra me tirar. Mas Wade você precisa me deixar ir, e se salvar, porque eu já estou morto, e não há mais nada que possa ser feito. Então da próxima vez que eu te perguntar, da Vanessa, da Maria, ou do José, você responde que vai pelo menos tentar ser feliz com qualquer deles.

Wade respirou fundo.

- Isso parece uma despedida Peter.

- Eu provoquei o garoto do quarto ao lado, até ele me bater, pq hoje eu fui atrás do meu padrasto, e ele me beijou, e eu senti tanto medo, que precisava sentir dor para esquecer aquilo por alguns segundos. E agora no banheiro eu percebi que independente do que aconteça, eu não vou esquecer, mas eu vou continuar escalando essas mutilações em tentativas desesperadas, até isso ser irreversível. Então Wade, sim, isso é uma despedida.

Wade puxou Peter mais pra cima, segurando ele o mais apertado que conseguia, ele sentia como se as mãos estivessem travadas em volta do corpo do garoto e ele nunca mais fosse capaz de soltar. O ar acabou, os olhos se fecharam instintivamente tentando apagar as imagens de Peter morto da sua cabeça.
Sua boca se abria, mas as palavras não saiam, a mente girava em looping a imagem do banheiro lavado em sangue, ele se sentia esmagado e pequeno, sem conseguir respirar. Alguns segundos se passaram antes que finalmente sua voz fosse capaz de sair, e seus pulmões fossem capaz de inflar com ar.

- Peter, agora é difícil de enxergar, eu sei, mas com o tempo, as coisas vão melhorar, você não eh um item pra estar danificado, e as coisas não são permanentes. Vamos procurar um terapeuta pra você, eu vou estar sempre do seu lado, você não tá me afundando em nada, você tá me ensinando a lidar com coisas que eu soquei lá no fundo de mim por muito tempo, e eu quero te ajudar a fazer o mesmo. Então não desista, olha pra mim Peter - Peter levantou o olhar, encarando Wade - Não desista de nós tão rápido!

Peter deu um leve sorriso lembrando de como estava se sentindo bem e confiante quando dissera aquelas mesmas palavras, e aquilo era tudo que Wade precisava. Ele puxou o rosto do garoto em direção ao seu e quando Peter não se afastou, ele selou os lábios, bem lentamente, beijando o garoto com todo cuidado do mundo, sua língua passeava dentro da boca de Peter, explorando com calma cada pequeno cantinho, e Peter foi se entregando aquela sensação delicada e quente que o tomava. Então na mesma proporção que ela veio, ela se foi, quando Wade interrompeu o contato.

- Tente lembrar que não é só de beijos ruins que sua vida é feita Baby boy.

Peter deixou o rosto descansar no pescoço do mais velho.

- Eu amo você, Wade.

Peter sentiu um beijo leve sobre sua cabeça.

- Eu também amo você garoto.

Uma nova onda de silêncio mais confortável que a anterior novamente tomou o lugar, e quando Wade estava quase cochilando Peter falou baixinho.

- Wade, esqueci de falar, eu preciso de dinheiro, prometi que levaria o dinheiro da noite, desculpa te envolver.

Wade queria gritar que ele nunca mais voltaria para aquele lugar, mas o dia tinha sido cansativo demais.

- Tá, amanhã nos vemos isso, fica tranquilo.

Eles adormeceram, mas nessa noite nem a presença de Wade era capaz de afastar os fantasmas de Peter, e ele acordou diversas vezes assustado com os pesadelos durante a madrugada, na maioria deles, Wade despertou também, em alguns buscou um copo de água com açúcar, esperou o garoto adormecer de novo, e então se deixou adormecer também. Mas então, Peter acordou as 5 da manhã, e saiu dos braços de Wade bem lentamente para que ele não despertasse, e ele não despertou, Peter pegou todo o dinheiro na carteira de Wade, bateu na porta do lado, e quando Flash viu o sangue na roupa de Peter ele preferiu agradecer que o cara parecia tê-lo esquecido e não dizer mais nada sobre aquela noite.
Peter foi pra casa, tomou um banho, foi até o quarto nas pontas do pé, e deixou um beijo na testa de Harry, que dormia tranquilamente, então partiu para a boate, ele queria pagar o padrasto logo cedo, e assim tentar novamente descobrir algo importante para colocá-lo atrás das grades.  

Quando Faltam as PalavrasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon