VII

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"— Não quero fingir ser invencível. Longe disso, Dr. Kim, só aprendi com o senhor mesmo que... nada se é conquistado com lágrimas."

...


Kim Namjoon tinha um problema, certo, todos ali tinham, ou não estariam em uma clínica psiquiátrica em Daegu.

Lembra-se de sua primeira consulta, quando olhava para o psicólogo e pensava o quão lindo ele era, o quão perfeito os traços de seu rosto pareciam, e então corria para o banheiro, encarar seu próprio reflexo, incomodado por não ser bonito daquela forma.

A dismorfia corporal veio primeiro, talvez desde a infância, nunca se achando encaixar nos padrões, sempre vendo seu corpo como magro ou gordo demais, branco demais, bronzeado demais, olhos irregulares, ou regulares demais, céus... ele surtava com tanta confusão.

Seus pais resolveram que era um peso demais para lidarem, ter outro filho esquisito, que apesar de arrasar o coração das filhas e filhos dos futuros sócios, não conseguia evitar se sentir daquela forma.

O transtorno de somatização veio logo após, e com isso deram um basta, decidindo que médicos seriam mais capazes de lidar com alguém que inventava dores para não ir a escola, por se sentir feio, certas vezes, até as causava.

Todo dia, em frente ao espelho, dizia a si mesmo que não podia viver a vida para agradar os outros, a escolha tinha de ser sua. Mas ele não queria agradar os outros, queria agradar a si mesmo.


Em Gohu, preferia observar borboletas, animais, frutas, paisagens, sua amiga Dahyun (que era perfeitamente nos padrões, apesar da ansiedade que habitava em seu pequeno corpo) e seu médico, que sempre lhe receitava remédios e dava um jeito para uma aceitação momentânea do mesmo.

E ele se sentia incrível ali, principalmente quando se distraia jogando cartas.

— Você roubou! — Jungkook acusou de repente — Acha que eu não vi sua mão ligeira rolando pelas cartas, Park?!

Jimin gargalhou, atirando o baralho no chão, consequentemente assustando Jinyoung, que gritou, e todos reviraram os olhos para o garoto.

— Não tenho culpa se eu deveria ser cantor de ópera. — o mesmo murmurou.

Ao lado de Namjoon, Taehyung se levantou, batendo suas calças para tirar a poeira inexistente.

— Seria bom se alguma coisa fizesse sentido, para variar.

Mesmo sabendo que aquela era uma frase aleatória de quem não entende como canastra funciona, Namjoon viu o sorriso vacilante de Jimin tremer ao olhar para Tae, uma unica vez, como se nunca estivesse presente ali.

— Onde vai?— Jeon perguntou, arrumando seu próprio bolinho de cartas, ao notar que o Kim apenas encarou o corredor confuso e deu de ombros, Jungkook suspirou — Senta aqui e joga com a gente, você nem sabe para onde ir.

Era nítido que Taehyung estava perturbado.
Alguns pacientes estavam.

Jeon preferia por a culpa na pressão do jogo, na forma como tudo afetava ultimamente, na maneira como até um abordava ao outro, principalmente Jackson, que agora pegava em seu pé. É, definitivamente Jungkook preferia culpar isso a admitir que assim como Mark e recentemente Hoseok, Taehyung estava com problemas ao lidar com seu psicológico.

Preferia pensar isso, a admitir que também estava com problemas, e sabia que Jimin ja havia percebido. Não queria se mostrar vulnerável.

— Para quem não sabe a onde vai, qualquer caminho serve, certo Tae? — Jimin sorriu fraco, dando apoio para que o garoto pudesse fugir dos olhares examinadores de alguns ali presentes.

Wonderland?Where stories live. Discover now