Prologo

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O sol se punha no horizonte, banhado em uma misteriosa coloração que combinava vários tons sombrios de verde.

Seu peito se enchia de ar com dificuldade, o sangue se acumulava em seus pulmões, respirar se tornara seu maior desafio no momento. Seus braços finos pressionavam algo com força contra si, não deveria soltar o que tinha em mãos em hipótese alguma. O vento soprava forte, balançando os galhos das arvores mortas. Aquela paisagem que já fora cheia de vida havia morrido: os rios secaram, o chão se abriu em vários pontos formando assim ravinas e penhascos, as plantações foram tomadas por um incêndio que se alastrou além de onde a vista alcança, a maior parte dos animais da região morreu em meio ao caos restando apenas seus corpos sendo sobrevoados por urubus famintos, os poucos que sobreviveram debandaram.

Seus olhos passearam pelo local, observando cuidadosamente tudo o que havia ao redor, estava tudo muito quieto, isso o incomodava além das expectativas, afinal, sabia que quando o silencio prevalecia, era previsível que algo errado viria a acontecer.

Entrou em pânico quando suas pernas se puseram a andar sem seu consentimento, o guiando para a ravina mais próxima, cuja qual possuía um rio de lava que seguia alimentando o vulcão que cuspia a fumaça mais escura já vista. Ele lutava contra suas próprias pernas, tentava mudar o destino que elas estavam lhe escrevendo ao se moverem para a ravina. O cheiro forte de enxofre queimava o interior das suas narinas, o sangue acumulado em seu pulmão reduzia cada vez mais a quantidade de ar que podia ser inspirado. A beirada estava bem a sua frente, o resto da sua vida sendo reduzida a apenas dois passos, assim se sentindo acompanhado por Mautke.

Não podia morrer, não agora que tudo estava tão perto do final, podia parar definitivamente o ataque que esta prestes a assolar toda Daechya, salvar um incontável número de vidas.

Conjurou todas as forças que lhe restaram e se obrigou a cair no chão tão seco que parecia pedra, seu corpo possuído tentava se reerguer para leva-lo a morrer derretido na lava, no entanto, sua alma não permitia.

- Você ainda insiste em resistir? É mais perseverante do que aparenta. - a voz fala em sua mente, a voz grave que perturba seus sonhos todas as noites, revelando a ele o destino assombroso que está escrito para ambos os mundos desde tempos antigos. - Para sua sorte, não serei eu a te matar.

Ele era o Zashti! Não poderia desistir naquele momento! Uma missão lhe fora passada, e iria cumpri-la. Nem mesmo Mautke poderia o impedir, afinal, sua vontade de viver era maior. Mudaria o destino ali e agora, sem se importar com o que fosse necessário fazer.

Com um grande esforço, invocou todo o poder mágico que restava em sua essência assim possuindo sucesso em quebrar a energia controladora que Khoasang exercia sobre seu corpo. Mas mesmo assim a sombra negra não deixou de segui-lo, sua morte não havia sido impedida, apenas adiada.

O sangue encheu completamente seus pulmões, sua visão de tornou turva, ele começou a agonizar enquanto buscava desesperadamente por ar.

Apesar de todo sacrifício feito, de tanto do tempo de sua jovem vida perdida para cumprir seu propósito, ele pereceria desta forma? Uma morte lenta e dolorosa, uma das mais desonrosas para os Daes. Os governantes da Vida e da Morte lhe permitiriam tal fim?

- Adeus, Zashti. - foi à última coisa que pôde escutar em sua mente antes de seus olhos fecharem-se por completo, o mergulhando em uma paz ilusória, onde o silencio e a escuridão se torna eterno.

Seu espírito se desprendeu de seu corpo, ele estava flutuando a alguns centímetros do chão. Agora era apenas mais uma alma penada olhando diretamente para o próprio corpo físico que jazia morto no chão duro. Magricelo com os olhos puxadinhos abertos e sem brilho, revelando o quão vazio se tornou sem sua essência, uma mera casca com uma mistura de sangue e saliva saindo pela boca. Roupas sujas e rasgadas pelo confronto, o cabelo liso de coloração castanho escuro espalhado ao redor de sua cabeça, molhado de sangue e suor. Em seus braços estava o Kniga, a única coisa que é capaz de ativar por tempo indeterminado de tão grandioso, o portal que liga o mundo humano a este, havia recebido o fardo de guarda-lo. Mas fora fraco e sua fraqueza resultou em mortes, guerras e destruição por todo o globo.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Where stories live. Discover now