Dia 21 de Março:

Graças a Deus eu trouxe meu diário nessas malditas ruínas! Se não pudesse escrever isso, se não pudesse colocar meus pensamentos em algum lugar para esquecê-los, eu ficaria louco! E se enlouqueci, escrever isso no papel me faz sentir mais são. Finalmente entendi Mr. Harker: Meus papéis! Rápido! Meus Papéis! Eu preciso escrever!

Acordei cerca de sete e quinze, estava nublado, e a neblina era densa. Fazia mais frio que ontem, então resolvi que desceria nas ruínas usando meu paletó. Me certifiquei, também, que o isqueiro estava funcionando bem.

Longhorn estava falando com Walsingham quando me aproximei, o professor passou o comando da missão para o outro enquanto estaria nas ruínas. Também comentaram algo sobre hieróglifos, mas eu mal conseguia ouvir e não quis me aproximar demais para parecer um enxerido.

Quando ele terminou, me mandou esperar na entrada da ruína. Já estavam ali o irlandês, que se apresentou para nós como Connor McLeon, o guarda, um inglês com um forte sotaque cockney, chamado alguma coisa Williams (nem dei importância ao nome, que mal consegui ouvir no meio daquele sotaque) e Miss. Catherine.

"Ansioso?"

"Não sei... E a senhorita?"

"Com medo."

"Não prefere ficar?"

"Eu já disse que viria. E eu quero ver isso até o fim. Vamos ficar bem."

"Vamos sim, desde que tomem cuidado.", Mr. Morris comentou, enquanto se aproximava com um charuto na boca

Jim e Longhorn chegaram em seguida.

"Como sabem", o professor começou, "essa foi a única ruína onde tivemos problemas. Quero reforçar o que disse ontem: ninguém anda separado! Não quero mais mortes aqui."

Assentimos com a cabeça, para demonstrar que entendemos.

McLeon abriu a porta do mesmo jeito que o espanhol fizera ontem. Senti um vento gélido sair dali, e mesmo ali dentro parecia ter neblina, apesar de não haver janelas ou outra entrada que não aquela porta. Tive um calafrio bem longo, de forma que involuntariamente cruzei os braços e me recurvei. Juro que no meio da escuridão e da névoa vi uma sombra (na hora, por estar cedo, pensei ser um truque da neblina, agora já nem sei em que acreditar).

Desviei meu olhar e percebi que tanto Jim quanto
Miss. Catherine sentiram o mesmo, estava tremendo como eu. Mr. Morris, prof. Longhorn, o mineiro e o guarda nada sentiram.

"Estão bem?", o professor perguntou

"Só senti um calafrio...", respondi, ao passo que os dois falaram o mesmo

"Podemos entrar?"

"Claro.", respondemos quase juntos

Entramos e descemos até a sala onde o espanhol morreu e encontramos Gisborne. Agora ela estava com um cheiro azedo nauseante, mas que em nada parecia com carne queimada. Tínhamos três lampiões dessa vez, então podíamos enxergar ainda melhor.

As paredes do lugar onde o mineiro tinha caído estavam enegrecidas pelo fogo, me aproximei dali e vi que não havia um corpo chamuscado, apenas ossos roídos nas pontas e quebrados.

"Algo comeu isso...", murmurei

"Mr. Castello, qual sala entraram ontem?"

Conduzi todos até a sala sem saída. Estava quase do mesmo jeito, mas a gosma pegajosa em que pisei não estava mais ali. Era como se tivesse dissolvido. Usei meu lampião para clarear a parede com os hieróglifos.

Terror em MaltaWhere stories live. Discover now