02 - O que é aquilo?!

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Eles já se aproximavam da clareira, os pés descalços de Derick estavam cheios de lama, ele não mais se importava com isso, se acostumara com gravetos, folhas e pedras se prendendo entre seus dedos.

Toda a floresta cheirava a cogumelos que cresciam por todos os lados, alguns se tornavam cintilantes em tons azulados e verdes logo ao cair da noite, e só eram ofuscados pela luz do sol, que se embrenhava através da peneira de folhas praticamente azuis.

Maia as vezes esperava todos se deitarem para fugir pela janela, escorregar pelo telhado e ir de encontro à escada que sempre ao entardecer deixava no lugar de sua decida ao chão apenas para observar o brilho dos cogumelos presos às árvores e as fadas dançando livres ao ar, outras duas meninas, Rine e Torv, dormiam no mesmo quarto que ela, porém Maia era tão silenciosa quanto um texugo e tão ágil como uma tâmia, assim não as acordava e nunca era descoberta.

Maia parou de repente, se interpôs para que Derick não continuasse a caminhar.

— O que foi? – o menino parou. Os dois eram ocultados pelas moitas, os cabelos castanhos da garota acabaram se prendendo nos galhos, logo a frente estava a clareira, um pequeno mar de gramíneas altas e macias. Derick lembrava-se de já terem feito um picnic ali onde a grama era mais baixa, Maia lembrava-se de roubar os biscoitos de Derick sem que ele percebesse.

Silêncio... – sussurrou — Olha!

Derick correu a clareira com os olhos até localizar ao que Maia se referia. Era de pele vermelha e escamosa, tinha braços e pernas curtos e arredondados, a coisa ficava em pé diante das pernas enquanto recolhia as dianteiras. Seus dois grandes olhos estava arregalados e ele andava de um lado para o outro se abaixando como se procurasse por algo, quando abaixou pela primeira vez, viram que possuía uma calda curta e rechonchuda. Maia sentiu vontade de ir lá e apertar as bochechas da coisa, mas se conteve, pois não sabia o que era.

O que é aquilo?! – Derick por fim sussurrou, o bicho farejou e seus pequenos e pontiagudos dentes apareceram.

Não pergunte a mim, também não sei!

Vamos lá ver de perto ou ficar aqui escondidos? – Derick perguntou.

Não sei, o que acha? – Maia espantou uma abelha que a perturbava.

— Melhor irmos ver o que é! - disse o menino.

Saíram do meio das murtas com cautela, o ser era bastante pequenino, e desatento ao que ocorria ao redor, só ligava para algo que estava em meio a grama. O pequeno começou a cavar a terra.

Ele desenterrou alguma coisa dourada que abocanhou. Levantou sua cabeça e olhou ao redor se deparando com as duas crianças. Tão rápido que era se lançou na floresta se perdendo de vista, Derick jurou ter visto fumaça sair das narinas do bicho, mas Maia se recusou a acreditar:

— Quem solta fumaça quando está com medo ou se assusta? – Maia disse olhando para a cobertura de árvores onde o bicho se enfiou.

— Talvez ele... – o menino olhou ao redor avaliando as árvores — Qual dessas é Ophal. – Maia estava desatenta e não ouviu — Ei! Qual dessas árvores é Ophal???

A menina que devia ter por volta de seus dez anos lhe chamou e o guiou até um pilar com alguns blocos de pedra ainda presos nele. Uma árvore de madeira escura o abraçava com suas grossas raízes.

— Ophal! – disse a menina quase que gritando.

— Não grite, não grite! Assim você assusta meus pássaros! – Derick pareceu tão surpreso quanto a árvore — Quem é este menino? Eu não posso falar... Isso é o vento em meus galhos... – a árvore falou em uma tentativa falha de enganar o garoto, árvores não eram boas nisso.

— Não se preocupe! Este é Derick, um amigo meu, ele conhece uma árvore falante... Tutto!

— Ahhh! – A árvore gritou espantando os pássaros que estavam em seus galhos — Menino! Arranque as folhas daquela árvore e quebre seus galhos!

— Por que fala assim de Tutto? – o menino perguntou ao ouvir a difamação de seu amigo árvore.

— Eu também não entendi! – Maia falou.

— Em muito tempo ele não veio aqui me ver! Éramos amigos ele foi o último, o último!

— O último à quê? – foi Maia quem perguntou.

— A lançar raízes, ele podia ter ficado aqui mais foi embora! – a árvore pareceu muito alterada, estremeceu seus galhos e mergulhou no silêncio.

— O que aconteceu? – Derick perguntou meio assustado — Ela está bem?

— Está sim, só que quando ela fica com raiva ela dorme, eu acho, amanhã ela estará melhor.

— Você acha que essa história de lançar raízes é verdade? Tutto estava me dizendo que andava pela floresta. – Derick falou retornando para a clareira e se embrenhando novamente na mata.

— Não sei, deve ser... – Maia falou.

— Ei vocês dois! Derick, Maia – era Rine quem falava — , vocês sumiram. – a menina estava em cima de uma árvore pendurada de cabeça pra baixo.

— Rine! – Derick gritou — Você... Ãn? – a menina descia da árvore, mas ao estar perto do chão caiu, se levantou demorada e limpou suas calças que se sujaram na queda.

— Vamos pra casa, Judith disse que era hora do almoço, então vim procurar vocês! – a menina falou rápido.

Os três retornaram, na casa da árvore Uggi o pequeno de cabelos roxos e Liam, o sapeca de cabelos castanhos brincavam de atirar nozes usando um estilingue, Esquilo que morava alí brincava com eles, o bichinho era rápido para desviar mas foi atingido.

— Ahhhhh – gritou Esquilo caindo do galho da árvore, ele iria se espatifar se Derick não corresse e se jogasse para pegar o animalzinho. — Obrigado Derick! – Esquilo esfregou a barriga, onde a noz acertou.

— Foi mal esquilo! – gritou Uggi da casa na árvore.

— Vou atirar uma noz na sua testa! – o Esquilo correu e subiu na árvore com rapidez.

Derick queria saber desde quando Esquilo estava naquela brincadeira, talvez não a muito, pensou. Judith, a mulher de pele morena surgiu na porta da casa acompanhada de Rally, que lhe ajudou a servir o almoço na grande mesa que tinham na sala redonda onde várias janelas de vidro grosso deixava a luz do sol penetrar como se por clarabóias, deixando focos de luz.

— Crianças... Hora do almoço!!! – disse alto. As crianças se reuniram na frente da casa — mostrem as mãos... Vejamos, vão já lavar as mãos! – disse a mulher vendo que a sujeira se fazia igual mas mãos de quase todos.

Derick não se demorou.

O menino e seu patoWhere stories live. Discover now