Ele se abaixou para pegar o utensílio e os olhos da mulher voltaram ao normal ao observá-lo de cima. Seus ombros relaxaram, porém sua postura permaneceu rígida.
— Hum, e porque trancou a porta? Sabe que detesto ficar esperando do lado de fora.
— Não queria que visse essa sujeira — ele se desculpou enquanto sacava um pano encardido de seu casaco e o esfregava sobre o caldo derramado. — Não é digna de você...
— Não sou digna de muitas coisas por aqui, mas você está me maltratando — disse ela, lançando-lhe um sorriso malicioso e aproximando-se dele como uma felina prestes a atacar a sua presa. — Eu estava com saudades.
Sem aviso, ela o agarrou pela gola da camisa e o puxou para cima, fazendo-o derrubar a panela novamente com um grande estrondo. Ergueu-o acima e o colocou sobre uma das mesas, dando-lhe um beijo de tirar o fôlego enquanto o pressionava com o corpo sobre o dele.
Elisa projetou o corpo para trás, constrangida por ter que assistir aquela cena de intimidade que deveria ser privada e desequilibrando-se no processo, quase caindo ao chão. Henrique foi rápido. Esticou a mão direita e segurou seu braço com firmeza, a puxando em sua direção. Elisa parou a alguns centímetros dele, sentindo a respiração quente contra a sua. Seus olhos castanhos estavam nebulosos e a mão livre tapou-lhe a boca, prevenindo um possível grito. A pele era macia contra a sua.
— Shhh... — fez ele em um sussurro quase inaudível.
A mulher chamada Sarah continuava a agarrar Thomas, alheia aos intrusos. Sua mão deslizou para a nádega do homem, arrancando-lhe um gritinho de protesto enquanto o apertava. Entrementes, Elisa fitava Henrique com raiva em seu esconderijo. Aquilo tudo era ridículo e ela sairia dali imediatamente. Deu um tapa na mão que cobria sua boca, fazendo-o se afastar. Porém, antes que pudesse dizer algo, viu que as íris escuras se desanuviavam. A testa dele franziu-se, transformando sua face em uma expressão de preocupação.
— Seus olhos estão vermelhos — disse, as palavras saindo em um fio de voz.
Elisa teve vontade de socá-lo. Aquilo lá era hora de reparar em um pequeno detalhe daqueles? A humilhação sofrida por Marília, sua dificuldade em conversar com Rafael Hansen, a triste realidade de sua vida solitária, tudo aquilo parecia ter ficado para trás no exato momento em que a porta da taverna selou em suas costas. As lágrimas derramadas não passavam de uma lembrança distante agora.
— Deve ser minha rinite — mentiu ela. — Precisamos sair daqui.
Ele lançou um olhar nervoso para os amantes que se atracavam. Às costas da mulher, Thomas gesticulava para que eles se mantivessem escondidos.
— Pode ser muito perigoso sair agora — sentenciou ele, voltando a encará-la.
Durante o impasse, o radar de Sarah captou algo de errado no ambiente a sua volta e largou Thomas abruptamente.
— Quer ir para outro lugar? — arfou ele, tentando recuperar o fôlego e recolocar as roupas no lugar. — Na sua casa é mais confortável do que aqui, podemos ir para lá.
— Não! — ela cortou, em um tom de voz que fez gelar o ar ao seu redor. — Nadine está em casa, e além disso... — Ela voltou a se aproximar de Thomas, agarrando-o pelo colarinho e lançando-lhe um olhar de ameaça real. — Você está me escondendo algo!
Thomas engoliu em seco. Henrique e Elisa prenderam a respiração, tensos demais para tomar alguma atitude naquele momento.
— Ora, que bobagem! O que eu poderia estar escondendo? — ele tentou soar o mais descontraído possível, no entanto, seu olhar nervoso o entregava.
YOU ARE READING
Libertália: Raízes Piratas
Fantasy🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...
☠ II - Conhecendo o perigo ☠
Start from the beginning