one: leave or follow

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— Oh, aonde pensa que está indo, Wang? — o homem ao meu lado sussurrou e eu entendi que não era comigo que falava. Ele mantinha os olhos presos no automóvel à nossa frente e de vez em quando olhava bem para as ruas que passávamos, como se quisesse memorizá-las. Sua ansiedade era visível não apenas no olhar, mas também na perna que balançava frenética e nos dedos que batucavam em sua coxa — não estavam no ritmo da música. 

Eu já adivinhava o porque daquilo tudo. Nos filmes, quando as pessoas pedem a um taxista para ele seguir um carro, significa duas coisas: uma perseguição policial ou uma traição, de qualquer espécie, e eu duvidava que o meu cliente fosse se envolver numa perseguição do tipo. 

O semáforo fechou e eu também pude dar uma olhada nas ruas agitadas de Hongdae. Era um bairro que nunca dormia. Enquanto uns usavam a madrugada para descansarem de um dia cheio, jovens saíam às baladas e bares buscando alguma diversão. Ah, claro, também havia aqueles desgraçados que viravam a noite do pior jeito possível: com a cara enfiada no computador e pilhas e mais pilhas de papéis em suas mesas; eles se entupiam de café e comiam salgadinhos baratos, apenas para, durante o dia, bancarem a rainha Elizabeth com seus almoços caros. É, eu estava falando desses trabalhadores viciados que viviam pelo trabalho e diziam que acabariam cheios da grana, mas que, no final de tudo, teriam apenas um grande esgotamento físico e emocional, tendo perdido tempo a vida inteira. 

Julguem meu trabalho agora, seus ferrados!

Quando fomos levados para uma rua mais vazia e estreita, estacionei o carro em frente a uma farmácia vinte e quatro horas enquanto o vermelho continuou seguindo o trajeto. O esquentadinho ficou confuso e finalmente me olhou, para reclamar, claro.

— Por que parou? Ele ainda está dirigindo, não consegue enxergar?

Revirei os olhos: — Se eu não enxergasse, não estaria nesse volante. Escute, gracinha: conheço aqui, já trouxe algumas pessoas para esse lugar, o caminho que ele está seguindo dará numa rua sem saída. Você disse para eu tomar cuidado, estou tomando. Se continuasse, seríamos vistos — ele, ao contrário de compreender e assentir, tinha os olhos fulminantes e um quase-bico nos lábios. — Você prestou atenção até o último segundo, saberá por onde ir. 

Ele me olhou por mais um tempo e respirou fundo, o que eu imaginei que fosse uma mania sua, tirando o cinto que o rodeava. Quando o falei o preço da viagem, seus olhos só faltaram sair para fora: — Pensei que tinha pego um táxi e não um voo para o ocidente.  

— Você aceitou — Dei de ombros e ele praticamento jogou as notas na minha cara antes de sair e bater a porta. Mas que mimado! Eu que fiz o favor de levá-lo até aqui enquanto já poderia estar no meu apartamento dormindo feito um gatinho e é ele quem sai irritado? 

Guardo o dinheiro na carteira e ligo o motor, pronto para dar ré e ir embora, porém sou impedido por meus próprios pensamentos ao vê-lo abraçar a si mesmo por conta do frio que estava. O observei até que sumisse numa esquina sombria. Droga. Eu não podia deixá-lo sozinho numa rua deserta e escura que ele mal conhece e ainda no frio. Não me perdoaria se visse seu rosto no noticiário sendo constado como desaparecido, ou morto. 

Saí do carro apertando o casaco contra meu corpo e segui pelo caminho que o mesmo tinha tomado. Jesus! É bom que eu seja gratificado com isso, pois estou arriscando a minha vida e o meu sono por um completo desconhecido.

Como o esperado, fui levado a uma rua sem saída, onde, de longe, pude ver a figura do meu tão recente cliente junto com mais dois caras. Ele gritava enquanto um o tentava acalmar e o outro observava parado na porta de uma casa. O homem que eu já conhecera esmurrou o peito de um dos dois, que aparentemente se deixava ser esmurrado, já que tinha o triplo dos músculos dele.

taxi driver | namjinOnde histórias criam vida. Descubra agora