Sete

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Obcecada

Tudo se perdeu, como folhas para o vento

Se sobrou algo de mim, no fundo, lá dentro

Luto pra encontrar, mas no fim eu nunca venço

Eu tento, mas é só perda de tempo

A cada dia estou mais frio, perdido em pensamentos

— Monster, Tauz

(S/N) não viu as paredes brancas do hospital por muito mais tempo. Depois do depoimento colhido, saíram o resultado dos exames, que indicavam que — apesar dos pesares — seu quadro era estável. Teria que tomar vários remédios no decorrer da semana, para evitar uma série de doenças, mas esse era um tratamento que poderia ser feito em casa. Encontrava-se no carro de SeokJin, e ambos voltavam para casa — "casa". O apartamento no prédio de época não era o que ela chamava de casa, e sim a realidade que a abatia.

Sua casa era a construção georgiana que se erguia no bairro central de Busan.

A Kim encarou as ruas pela janela, sem realmente vê-las e o silêncio era, de certa forma, reconfortante — depois de tantos gritos e lágrimas, era muito reconfortante.

A luz laranja do semáforo piscou, ficando vermelha em seguida, o carro dos Kim parou, como todo os outros.

(S/N) assustou-se brevemente com a mão de SeokJin, que ficou sobre a sua.

— Me perdoa. — ele sussurrou, encolhendo-se involuntariamente.

— Não há o que perdoar, tio Jin. — falou, a voz extremamente cansada. O corpo estava dolorido: o efeito do remédio passava.

— Juro pra você que vamos ser felizes outra vez, (S/N). — ele soou desesperado. — Juro que vamos, como antes.

— Eu sei que vamos. — mas a voz dela era vazia, como se ela estivesse oca por dentro. E de fato, era como se sentia.

— Nunca mais serei irresponsável com você. Nunca mais vou te deixar sozinha. — pela primeira vez, (S/N) prestou atenção em algo: o rosto do tio, a expressão de profunda tristeza. Ele parecia prestes a chorar; os olhos estavam repletos de lágrimas: o homem piscou, e elas despencaram livremente.

Antes que ele pudesse fazer algo, a sobrinha esticou o braço e secou seu rosto, dando-lhe um beijo casto na bochecha em seguida.

— Você nunca foi irresponsável, muito menos comigo. — ela conseguiu dar um sorriso, a custo de um esforço hercúleo. — Eu te amo, tio Jin. — a essa altura, os olhos já estavam marejados, então ela olhou para as próprias mãos, que estavam entrelaçadas. — Nós somos tudo um do outro... somos tudo o que temos, e você não falhou. Pare de se culpar, está bem?

A Kim afagou-lhe o braço e se recostou no próprio banco no exato momento em que o sinal abria. Olhou uma última vez para a repartição verde antes que o tio arrancasse, e tentou não imaginar nem perceber quais daqueles carros os seguiam — ela tinha certeza que SeokJin pedira uma escolta, descaracterizada para melhor segurança —, ou ainda se eram apenas os policiais.

Não haviam muitas certezas pela frente, mas a de que ela procuraria em cada rosto um perseguidor era garantida.

— Eu também te amo, (S/N), muito. — ele murmurou, e lhe sorriu. Dividido entre o trânsito e a sobrinha, comentou, após alguns segundos: — Não se esqueça do cinto.

O coração dela doeu com o dejá vú. Ela sempre se esquecia.

Naquele momento, quase pode ver o pai sentando ao banco do motorista, com um sorriso incrível e o ar brincalhão, ralhando com ela.

Attention - Min YoonGiWhere stories live. Discover now