Dois

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Acorde!


E eu exijo vida

Nos seus olhos negros e opacos

— Ágata Silva.

(S/N) sequer estremeceu quando a jaqueta de SeokJin foi arremessada na mesa. Continuou sentada na cadeira, abraçando as próprias pernas e ignorou o tio.

— (S/N), não vai olhar para mim? — ele questionou, sentando-se à sua frente. Sentia-se culpado, já que a menina estava dessa maneira desde que a levara à delegacia.

— Oi, tio Jin. — cumprimentou, pedindo a benção. Ele respondeu um "Deus te abençõe."

Ficaram calados.

— Kai te procurou ontem. — começou, analisando a expressão da sobrinha: não houve reação.

— Ah. — respondeu vagarosa, e esforçando-se para prestar atenção, perguntou: — Onde eu estava?

— Dormindo. — era só o que ela fazia. Se não estava na sala, olhando para o nada, estava dormindo. — Ele disse que voltaria depois.

— Okay. — foi só o que respondeu, encarando o chá-mate e se sentindo culpada. Esqueceu-se disso quando o tio recomeçou:

— (S/N)... olha... — pareceu escolher as palavras certas enquanto falava — meu amor, eu sei... eu sei que está difícil, mas você tem que voltar a fazer as coisas de antes...

— Tio, eu... — ela interrompeu, na intenção de dizer "não quero falar sobre isso", mas SeokJin continuou:

— Espera, escuta o tio. — tomou suas mãos, e virou o rosto dela para si, para que pudesse encará-lo. — Não é dessa maneira... que as coisas fluem. Se continuar assim, vai acabar perdendo a si mesma, e NamJoon não iria querer isso, iria? — ela arregala os olhos quando a dor a invade, surpresa com as palavras de Jin: era a primeira vez que ele mencionava explicitamente o pai e sua morte.

O tio ainda esperava uma resposta.

— Não. — murmurou, mortificada. Não podia olhar para baixo, de fato, mas encarava seu nariz no lugar dos olhos: era estranho, não conseguia mais pensar, nem encarar as pessoas nos olhos.

— Então! — concluiu ele. — Vamos recomeçar, devagar... uh?

— Tudo bem. — os olhos dela estavam marejados.

[...]

— Me ajuda a fazer o jantar? — ele pediu. Fazia algum tempo que Kai havia ido embora, mas pelo menos, (S/N) não tinha deixado dominar-se pelo sono antes do garoto chegar. Conversaram um pouco, e ela tinha até uma expressão melhor, mais suave.

— Tá bom. O que quer que eu faça? — fez o perímetro da cozinha com os olhos antes que Jin respondesse, apontando para os tomates na bancada:

— Corta em cubinhos, por favor?

— Uhum. — a franja dela caiu no rosto quando começou, mas (S/N) não se importou, menos ainda colocou-a no lugar. Parecia longe, pensativa, e SeokJin parou o que estava fazendo para observá-la: muito mais triste, mas pelo menos, consciente. O comportamento robótico dela começava a assustá-lo — ainda mais ele, que era acostumado a vê-la alegre e cheia de vida —, e pensou se não deveria levá-la à um psicólogo. O luto era normal, mas aquele comportamento, não. Porém, conseguiu ficar feliz, pois a sobrinha parecia um pouco mais viva agora.

Talvez tivesse jeito.

[...]

Uma semana depois da "conversa" na cozinha, (S/N) já apresentava melhoras. Não estava saltitante nem sequer sorria, mas ela tentava sair do torpor e sono que a envolviam, tarefa nada fácil.

Attention - Min YoonGiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora