CAPÍTULO 32-LUCIANA NÃO AVISA A RODRIGO QUE ARMANDO DESCEU PARA O PORÃO

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Rodrigo resolvera tirar aquele fim de semana de folga com a noiva. Ficaram dentro do quarto durante toda a sexta-feira e também no sábado, parecendo estarem antecipando a lua de mel, como fofocavam os empregados da casa.

Armando imaginou que Rodrigo o evitava e não queria mais vê-lo, com ódio do enfermeiro quase ter destruído os seus planos de se casar com uma mulher e continuar posando de heterossexual para os amigos ricos.

Rumores diziam que Luciana já anunciara que faria mudanças na casa, que os empregados deveriam ser obrigados a usar uniforme e que o noivo deveria dispensar o jardineiro inconveniente a qualquer momento.

Judith, que ouvira a conversa do casal, disse que Rodrigo só a olhava e não dizia nada.

Acreditando que "quem cala consente", a loura só continuava a fazer planos para aquela casa "entrar nos eixos", como ela dizia.

_Vou deixar aquele cara ficar apenas até o nosso casamento passar, amor. Sabe-se lá se ele inventa dar um escândalo dizendo que eu sou homofóbica bem no dia do meu casamento!? Melhor evitar. Já pensou nisso? Os jornais vão cair matando dizendo que eu sou preconceituosa! Aliás, eu estava pensando, a gente pode vir aqui uma ou duas vezes por mês só, afinal, vamos ter o nosso apartamento no centro e tia Eustáquia poderá nos visitar sempre que quiser, o que acha, amor?

Novamente, o noivo não disse nada e ela continuou com o seu monólogo, quando Judith saiu e não ouviu mais nada.

Armando, informado da fofoca, concluiu que Ricardo estava certo e que, como ele dissera, era Rodrigo e não o gêmeo do porão o vilão daquela história. O enfermeiro pensou que, realmente, era muito conveniente e covarde do empresário entregar a direção total de sua vida à futura esposa!

Ao contrário de toda a liberdade que ele conquistaria com aquele casamento, o irmão doente continuaria preso ali, naquele porão enterrado na terra, impedido de se afastar do seu "esconderijo" e, se não fosse por Armando, vivendo quase na solidão. Privado das visitas do irmão, agora somente tia Eustáquia desceria ali, se não fosse pela presença do prostituto.

O empresário estaria pra sempre delegando à tia, ao prostituto e aos empregados a função de cuidar do irmão que deveria ser responsabilidade de Rodrigo, também.

Sem a presença de Rodrigo, Armando sentiu o peso da responsabilidade pesando sobre os seus ombros, como se fosse se tornar, após a partida do exemplar pai de família, o maior responsável por Ricardo.

Pensou se o marido da loura pediria algum relatório mensal sobre o estado de Ricardo ou se deixaria também isso sob a responsabilidade da já atarefada tia Eustáquia.

Armando não conseguiu dormir facilmente naquela noite, depois de ouvir tudo o que Judith lhe contara. Estava triste, tinha que admitir, pois talvez nunca mais fosse ver Rodrigo.

Pensou que ficaria tão triste se nunca mais pudesse ver a mãe que amava e não entendia como Rodrigo conseguiria se afastar do seu único irmão daquele jeito.

O enfermeiro pensou como estaria Ricardo imaginando que também seria privado da presença do irmão gêmeo, talvez, para sempre.

No dia seguinte, o domingo amanheceu chuvoso e frio. Tendo dormido tão mal na noite anterior, Armando pensou em ficar na cama até mais tarde, mas o bipe já tocara várias vezes, avisando que Ricardo queria vê-lo com urgência.

Na véspera, assim que saíra do porão, Armando resolveu procurar tia Eustáquia para uma conversa séria.

_Tia, a senhora acha certo o que o Rodrigo vai fazer com o Ricardo?_já foi falando sem rodeios, pois viu que a idosa se preparava para entrar no banho.

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora