CAPÍTULO 2-EDGAR TRAI A CONFIANÇA DE ARMANDO

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A regra de Armando era receber, no máximo, três clientes por noite, mas, naquela noite, um cliente pagou dobrado para ser atendido por ele.

Armando até tentou protestar, mas o Gordo disse que o freguês exigira que queria ser atendido estritamente por ele e, como o enfermeiro tivesse deixado o dono do prostíbulo na mão, num final de semana em que precisara fazer plantão de última hora no hospital, o cafetão combinou que se ele pegasse aquele cliente especial, esqueceria da falta dele.

O homem era corpulento e tinha a aparência horrível. Barbado, aproximadamente quarenta anos, roupas de aparência duvidosa, dentes estragados, visivelmente sujo.

_Você tem estômago de avestruz, bicha, pois encara cada figura. Estarei no quarto ao lado, Scoth Lee. Qualquer coisa, já sabe: é só bater na minha parede que eu te socorro._disse o louro alto Tony Nelson, um dos funcionários do prostíbulo.

Tony olhou novamente para o homem que parecia comer Armando com os olhos, já parado do lado de fora do quarto.

_Tem certeza de que vai encarar este cara? Ele deve estar no cio, pois não parece ter muito dinheiro, mas pagou o dobro. Acho que sua fama anda solta, lindo. Também, com este rabo maravilhoso, acho que até eu te pegaria!_Tony deu um tapa nas nádegas de Scoth Lee.

_Fica na sua, Tony!_repreendeu o rapaz._A gente nunca deu certo na horizontal e você sabe disso. Bom, deixe eu enfrentar esta fera e Deus me ajude.

Scoth Lee se benzeu com o sinal da cruz e chamou o homem para que ele entrasse.

A visão do homem nu no meio da cama quase fez o enfermeiro dar meia-volta e sair. Mas, não podia rejeitar aquele programa e irritar o Gordo.

Scoth Lee intuiu que aquele cliente seria tudo, menos gentil e teve razão.

Quando o cliente finalmente se deu por satisfeito, Armando chegou à conclusão de que, realmente, nunca mais deveria receber um quarto cliente.

Sonhou com o dia em que poderia rejeitar clientes e fazer suas próprias escolhas. Entretanto, enquanto não conseguisse um jeito de conseguir mais dinheiro para sustentar a mãe, tinha que se sujeitar àquilo.

No outro dia, Armando sentiu como se alguém estivesse batendo um martelo em sua cabeça, quando ouviu as batidas na porta.

Que horas seriam? Só se lembrava que já se passavam das quatro da manhã quando saiu do chuveiro, no prédio do Gordo. Gostava de tomar banho em casa, mas, depois daquele último cliente, não conseguiu esperar. Mesmo assim, teve que tomar outro banho em casa para retirar o mal cheiro que ele lhe deixara na pele.

Naquela madrugada, entrou em casa sem fazer barulho, para não acordar Edgar. Percebeu que ele não estava. Sabia que ele podia ter cobrido a folga de alguém no hospital, coisa de última hora, ou mesmo que poderia ter dormido em outro lugar. Como cobrar fidelidade do namorado sendo ele mesmo um prostituto?

A certeza de que o outro o amava já era o suficiente para ele lhe dar todos os créditos, inclusive deixar toda a sua vida financeira nas mãos de Edgar, que fazia todo o serviço de banco pra ele.

Armando cobriu a pequena distância entre o seu quarto e a porta da rua, quando ouviu novamente as batidas.

_Ah! É a senhora, dona Suzana? Entre, por favor._disse se afastando para ela passar.

_Mas é claro que eu vou entrar, afinal, este apartamento é meu, se por acaso se esqueceu.

A mulher não disfarçou o mal humor. Era baixa, cerca de sessenta anos, gorda e morena. Tinha uma expressão de poucos amigos, quando voltou a falar:

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora