CAPÍTULO 10-TIA EUSTÁQUIA

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Armando espreguiçou na cama confortável. Não quis abrir os olhos de imediato, temendo descobrir que o emprego dos seus sonhos não passava justamente disso, de um sonho.

Alguém bateu na porta, fazendo-o despertar.

_Entre.

Uma mulher baixinha, morena, gordinha e sorridente entrou com seus passos curtos e rápidos já abrindo a janela.

_Bom dia, senhor Armando!_disse entusiasmada.

_Bom dia pra você também, mas retire o senhor, está bem?

_São ordens do senhor Rodrigo, me desculpe.

_Olha, lindinha, ele não está aqui agora e como seremos colegas, não tem necessidade de usarmos formalidades entre nós, ok?!

_Vim te chamar pra conhecer a casa._disse ainda entusiasmada.

Armando teve certeza de que se apaixonaria por aquela mulher.

_Bom, a casa seria exagero. Quero dizer, o pavilhão central, que é onde ficamos. O senhor Rodrigo fica lá em cima e o irmão dele lá embaixo, ou seja, um no porão e o outro no sótão.

_Interessante...um irmão no céu e o outro enterrado no fundo da terra._disse Armando pensativo._Agora, conte-me, Judite: como é o senhor Ricardo?

Armando desanimou, quando a viu perder o tom alegre e ficar séria.

_Sinto muito, mas não posso adiantar-lhe nada. São ordens.

_Mas que merda! Este voto de silêncio imposto aos empregados está me deixando cada vez mais curioso!_alterou a voz assustando a garota que parecia ter pouco mais de vinte anos.

_Meu patrão prefere ele mesmo falar do irmão.

Armando desistiu de forçá-la a falar e ficou conversando com a garota, enquanto ela arrumava o quarto: ela e os irmãos, Elaine e César, trabalhavam para os irmãos há anos. Também havia Nestor, o homem que o levara até ali e uma governanta, tia dos donos da casa, que insistia que todos tinham que chamá-la de tia Eustáquia.

Acostumado a andar totalmente nu pelo prostíbulo, Armando não percebeu quando a garota arregalou os olhos assim que ele se despiu, indo em direção ao banheiro. Quando percebeu, estava sozinho no quarto.

Quando chegou à cozinha, pode conhecer uma cópia cinco anos mais velha do que Judite: Elaine, a irmã mais velha. Logo depois, chegou César, o irmão mais novo, que o olhou com ar de desdém.

O rapaz se juntou a eles na mesa de café da manhã e fez questão de partir o pão com as mãos, sem usar a faca, encarando Armando como a querer provar que não era gay. Armando teve que se conter pra não rir diante daquela atitude infantil do rapaz que parecia muito jovem.

Armando pode perceber que o rapaz não conseguia deixar de encará-lo com uma expressão desafiadora e que, num dado momento, até foi repreendido discretamente pela irmã mais velha.

O prostituto não deixou por menos:

_E aí, rapaz? Tá a fim de se divertir? Podemos marcar uma horinha no meu quarto, isso é, se você já tiver completado dezoito anos, claro._Armando jogou um beijinho indecente pra ele.

César engasgou e teve que ser socorrido pelas irmãs. Assim que melhorou, pegou seu copo e seu pão e foi comer em outro lugar.

_Acho que não sou o primeiro funcionário contratado para satisfazer os desejos mundanos do cara do porão, não é?

As mulheres baixaram os olhos e continuaram comendo em silêncio.

_Mas o que foi que este cara prometeu fazer com vocês todos se me contassem algo? Cortar a língua?_desabafou o enfermeiro.

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaWhere stories live. Discover now