— Quem me contou sobre a morte de Helena e me alertou sobre meu filho foi Suellen. Encurtando a história, a aprendiz de piranha se deitou comigo pra depois me chantagear, ou como ela gostava de dizer, 'controlar os danos'. Enquanto Pietro criava um filho ilegítimo escondia de todos que também tinha seus bastardos, Suellen e Selena, verdadeiras herdeiras dos negócios da família. Mas o carcamano do meu irmão jamais permitiria uma mulher no poder. Suellen queria minha ajuda pra derrubar o pai e assumir tudo, senão contaria ao meu filho que além de desonrar sua mãe eu não o assumi até hoje. Eu teria feito isso de bom grado se ela não fosse uma malandrinha escorregadia que apenas traz problemas pra quem estiver à sua volta. Não sabia de Selena e me apeguei bastante a garota quando a conheci melhor, ela é minha sobrinha legítima e eu era a única proteção que ela poderia ter, mas por receio de expor tudo isso não cumpri corretamente com meu papel.

Essa parte da história me deixa verdadeiramente surpreendido, o fato de saber que suas perseguições a minha garota era realmente preocupação me deixa livre de ciúmes, não suportava toda aquela merda de encontrá-lo sempre à espreita de Selena. Sempre vi seu parentesco com meu amigo Pablo, mas, talvez, meu ciúme infundado não me deixou ver este outro detalhe. Merda!

— A culpa não foi sua chefe, eu que não a protegi direito. Você sempre disse que meu excesso de confiança ainda ia ferrar comigo, mas sou tão otário que nunca realmente escuto seus conselhos.

— Nunca subestime seus inimigos garoto, esteja sempre de olhos abertos pra todos eles, o mais inofensivo pode ser também o que mais vai te machucar.

— Isso não vai acontecer novamente, na próxima oportunidade que eu tiver de matar o Victor o farei sem pestanejar, quero ouvir seu último suspiro de vida enquanto soco a cara dele até os miolos saltarem de sua cabeça. — digo enquanto fecho meus dedos em punho para conter ao menos um terço da minha fúria.

— Ela não aprovaria nossa vingança, mas faremos mesmo assim. — seu sorriso sarcástico me afirma que realmente estaremos nessa juntos — Só não esqueça de tudo que ela te ensinou. Te espero no carro, não demore ou voltará a pé. Não sou motorista de marmanjo.

Fico admirando o nada por mais alguns instantes, relembrando tudo que vivi com minha bruxa da modernidade. Selena invadia o meu caos e me convencia a fazer tudo e qualquer coisa, desde a ler os livros de romance que ela tanto amava até me convencer a cantar em público. Lembro de como toda aquela merda me fazia ser outra pessoa, não eu, não mais o bandido sem coração, mas sim um louco apaixonado. Que porra eu estava fazendo da minha vida a deixei me levar a fazer coisas que não devia. Parece que foi ontem que eu me comportei com a merda de um adolescente vivendo a vida pela primeira vez quando...

"— Vai subir lá sim seu molenga. Não tem diferença cantar no chuveiro pra mim ou no palco de um bar, é tudo a mesma coisa grandão.

Com a mão na cintura e seu nariz empinado, eu já sabia que seria uma batalha perdida quando minha mini deusa me arrastou para um pub lotado de uma periferia de São Paulo.

— Mulher, um homem como eu tem uma imagem pra zelar, não posso me expor ao ridículo dessa forma, é vergonhoso pro meu orgulho de macho alfa.

— Macho alfa o quê, Heitor?! Canta que nem um rouxinol pra mim. Divida seu dom com o mundo, certeza que seu pau não ficará menor por isso. — zomba de mim com seu sorriso radiante nos lábios e um brilho intenso em seus olhos.

— É, não vai, e você ainda transaria comigo se isso acontecesse, não é? — não resisto a ser safado perto desse pequeno pecado em forma de mulher.

— Sim, ainda seria viciada no tesouro que você guarda entre as pernas. Então suba lá e me encha de orgulho, prometo te recompensar com um belo boquete em cima de sua moto. — seu olhar malicioso não deixou dúvidas o quanto será maravilhoso isso.

— Eu criei um monstro assim que você subiu naquela moto, mas não me arrependendo de nada. Eu escolho a música.

— Por mim tudo bem. — ela pula em meu pescoço e me dá um beijo de boa sorte, não que eu precise.

Subo no pequeno palco com meu violão em mãos, fecho os olhos e canto Unsteady. Essa canção define muito do que eu sou.

"Segure, segure, me agarre

Porque eu sou um pouco instável

Um pouco instável

Segure, segure, me agarre

Porque eu sou um pouco instável

Um pouco instável..."

Para minha surpresa, quando termino de tocar o último acorde, sou ovacionado por todos presentes. Ricardo, o dono do lugar, tenta me entregar algumas gorjetas que recebeu enquanto eu cantava, porém me recuso a receber, não cheguei a este lugar por dinheiro e sim apenas para fazer Selena feliz.

— Gostou? — me aproximo dela e dou um beijo quente como o inferno, adoro desestabilizar ela do mesmo jeito que seu sorriso faz comigo.

— Sim e não. Sua voz é linda grandão, mas você tem que parar de cantar músicas tristes.

— Sou o que sou Selena, canto o que me toca ou reflete minha escuridão, não posso mudar isso.

— Não meu homem, digo e repito: você não é aquilo que te rodeia. Navios não afundam por causa da água ao redor deles, eles afundam por causa da água dentro deles. Não deixe o que está acontecendo em torno de você invadir o seu interior e afundá-lo.

— Não vou, eu tenho você pra impedir isso.

Sem poder me conter nem mais um momento, eu a arrasto para fora e a faço cumprir o que me prometeu, e como uma boa garota ela me leva as estrelas apenas com sua boca sapeca."

Essas lembranças irão me assombrar para sempre, e a cada vez que eu me lembrar disso irei quebrar um vínculo que me mantinha lúcido.

Me perdoe minha pequena, a água vai me afundar e me levar para as profundezas do inferno, porém antes, haverá um tornado sobre a terra, nem por um caralho deixarei grão sobre grão enquanto não encontrar seu assassino. Essa promessa eu não irei quebrar, será cumprida com extrema obstinação.

*****

Atualizado em...

05/03/19.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now