Capítulo 07

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UM ANO ATRÁS...

Heitor

Eis me aqui, prostrado diante de um túmulo vendo tudo de bom que já aconteceu em minha vida passar diante de meus olhos. Nunca imaginei que um ser tão pequeno pudesse trazer tanta luz e paz para mim, mas foi exatamente isso que Selena fez em todo o tempo que passamos juntos, desde meus primeiros pensamentos confusos diante dela até todas às vezes que ela me enlouqueceu com suas ideias mirabolantes de mudar minha mente.

Jamais verei seu sorriso novamente, não terei suas mãos delicadas para cuidar de mim a cada vez que voltar de alguma missão, não faremos mais nossas loucuras sexuais e não poderia mais proporcionar prazer ao seu corpo. Sinto um pesar esmagar meus ossos, dilacerar meu coração e afogar meus órgãos, a luz se foi e agora só me resta as trevas. Eu não devia ter sido tão distraído com a segurança dela, não devia expor tanto nosso relacionamento, sempre soube que tenho inimigos aonde quer que eu vá e há qualquer momento uma merda poderia acontecer ao meu redor. Ela era frágil e inocente demais para entrar no meu mundo, e eu, egoísta demais para abrir mão de sua companhia.

— Garoto, você precisa superar. Eu entendo tudo que você sente, e sinto tanto quanto você, mas precisamos seguir adiante. — Fabriccio diz tocando em meu ombro.

Há cinco dias ele tenta, em vão, que eu me levante do fundo do poço e siga em frente. Mas seguir para onde? Continuar para quê, se era ela que sacudia meu coração para continuar batendo de forma irracional e viciante.

— Caralho nenhum. Você não sabe o que estou sentindo. Nem eu mesmo sei chefe.

— Isso se chama luto Heitor, e você não precisa passar dias ajoelhado diante do túmulo dela.

— Falar essas bostas é fácil, só que não estou conseguindo agir. Você realmente me entende? — o questiono sem ao menos olhá-lo.

— Filho, vou aproveitar que estamos só nós dois aqui cercados por vários defuntos que não podem espalhar minha história. Não deixei Selena ficar apenas pra encontrar sua irmã.

— Não?

— Você sempre foi o mais esperto garoto, de todos os soldados sempre se destacou em agilidade e inteligência. Sei que desconfia de pelo menos metade da verdade.

— Não sei se estou entendo aonde quer chegar Fabriccio.

Em um movimento cansado e derrotado ele se senta ao meu lado, e com um olhar fixo para a lápide em nossa frente começa a falar.

— Foi há muito tempo, quando eu era mais inconsequente do que sou hoje. — ele sorri de forma evasiva, como se fosse um espasmo involuntário de seus lábios — Havia uma garota que eu sabia que jamais seria minha, mas eu tinha a ambição de ter o mundo jogado aos meus pés e que todos aceitariam minhas escolhas. Ganhei uma surra por minhas tolices e mesmo assim não aprendi cazzo algum, além de tirar o lacre dela ainda deixei minha semente pra contar história. Ela se casou, deu a luz ao meu filho e deixou que outro homem assumisse a coisa mais importante pra mim, depois dela é claro. E sabe como eu descobri garoto? — eu nego com a cabeça, mas tenho certeza que ele apenas interpretou meu silêncio — Quando meu irmão ia expulsar e deserdar Pablo por não ser o herdeiro homem legítimo que ele tanto queria. Antes que você me julgue como um perfeito figlio di puttana ressalto que meu irmão já sabia o quanto eu era apaixonado por Helena e mesmo assim ele a obrigou a se casar. E eu, fugi como um covarde e voltei tarde demais pra tirá-la daquele inferno.

— Que você é o pai do Pablo eu já desconfiava, não tem como alguém infernizar tanto a vida de um homem se não fossem pai e filho ou amantes, nunca comprei a balela de que você é o tio dele. Mas o que isso tem a ver com minha dor?

Destinos CruzadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora