Capítulo 04

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"Mais virgindades já se perderam pela curiosidade do que pelo amor."

— Autor Desconhecido.


Vanessa

Mais de uma semana se passou desde o encontro pesaroso que eu tive. E, no fundo, devo confessar que não achei de todo mal ter ido, no fim, foi uma experiência válida, me ensinou como a internet pode ser perigosa. Eu jamais teria conhecido aquele homem se não por intermédio daquele aplicativo, se bem que o que mais me moveu foi a curiosidade. Esta sim, é a grande vilã na minha vida. Não sei se pelo fato de tantas histórias e personagens que desde cedo vagueavam pela minha mente depois de tantos livros que já li. Tenho curiosidades gigantes em todos os sentidos. Como é a vida dos outros? O que fazem quando vão para casa e se encontram plenamente sozinhos? O que todos fazem quando não tem ninguém olhando? Isso sempre me despertou interesse.

Todavia, a maior de todas foi perder minha virgindade. Eu tinha por volta dos meus dezesseis anos quando li meu primeiro exemplar de um romance adulto da editora Harlequin. Inocentemente fiz uma troca de livro com uma colega do colegial, era assim que eu alimentava minha biblioteca, pois, o pouco que tia Berta me dava as escondidas do esposo não supria todo meu vício pela leitura, então eu comprava os mais baratos que davam e depois trocava entre minhas colegas da escola, e muitas vezes com a ajuda de Lunna e Larissa. Foi um passo sem volta quando depois de me encantar com a escrita rica em detalhes de Diana Palmer, enfim cheguei em uma cena erótica. Era uma leitura tão envolvente que quase me sentia dentro da situação frente a frente com os homens de cada livro, cada cawboy delícia que fico arrepiada do pulso a virilha apenas em recordar. "Ao aproximar-se finalmente o viu: estava ajoelhado, examinando a pata de uma de suas preciosas vacas, seu rosto estava oculto pela sombra do chapéu. À primeira vista parecia mais um peão, vestido com um par de calças jeans desbotadas, camisa de cambraia e botas, mas quando ficou em pé acabaram as semelhanças. Tinha um físico fascinante, tão alto, esbelto e proporcionado", um dos meus trechos predileto do livro 'Sob o seu Feitiço'.

Muitas vezes virei a madrugada lendo com o auxílio de uma lanterna embaixo das cobertas para meu tio não perceber minhas traquinagens. Funcionou bem durante um bom tempo, até o dia que houve um encontro de casais na igreja que minha família frequentava, restando aos filhos se reunirem todos em única casa enquanto isso. Na época eu não imaginei que haveria algum problema se levasse alguns livros para compartilhar com minhas primas um pouco do meu feliz universo. Ledo engano o meu, minhas primas rechaçaram meus livros, inclusive rasgando alguns exemplares e me crucificando ainda mais como ovelha negra da família. Esse título sempre foi meu, sempre tive consciência sobre isso, porém, quando meus primos e primas se mostraram tão agressivos apenas pelo meu gosto diferente em relação à leitura, isso me abalou de uma forma considerável.

Naquela noite achei que seria expulsa da família e teria que viver na rua de esmolas, mas para minha surpresa um dos meus primos mais velhos exigiu que ninguém tocasse naquele assunto com nenhum adulto. Imaginei que estava me defendo e automaticamente criei um afeto profundo por ele.

Dias após esse incidente, o mesmo primo que me defendeu foi se tornando uma visita constante onde eu morava. E para ser mais específica, ele se tornou um frequentador assíduo do meu quarto e dos meus momentos de leitura. No início eu supus que Miguel compartilhava a mesma paixão pela leitura que eu adquiri desde muito nova, e só descobri tarde demais suas verdadeiras intenções.

XXXXX

Doze anos atrás

Em um uma madrugada qualquer...

— Vanessa, o que passa na sua cabecinha depois que lê esses romances? — meu primo questionou bastante interessado.

— Me sinto quente, envolvida, e deveras apaixonada. — parafraseei meus sentimentos.

— E já pensou em viver tudo o que lê, por exemplo, as cenas mais íntimas?

— Pra te falar a verdade, já sim... — confessei envergonhada — diversas vezes. Até tentei ouvir atrás da porta do tio Ge e a tia Berta na intimidade deles para saber como é, mas por mais de duas noites eu não escutei nadinha.

— Depois que conheci esses livros com você eu também fiz isso com meus pais, mas fui flagrado. — porém, diferente de mim, ele não pareceu envergonhado ou arrependido — Depois, papai me explicou que essa é a obrigação do homem: se deitar com a mulher para gerar filhos ou apenas para seu próprio prazer. Ele me disse que mulheres foram feitas apenas para procriarem ou satisfazer os maridos, então deduzi que os livros que lemos é tudo mentira.

— Como assim mentira?

— Oras prima, você nunca vai sentir o que as mocinhas desses livros sentem, é tudo fruto da imaginação fértil de quem escreveu. É por isso e outras coisas que mulheres não precisam aprender a ler ou escrever, foram feitas apenas para dentro do lar.

— Pois, eu acho que você está totalmente errado primo, pode até haver um pouco de excesso de imaginação, mas de resto, eu acredito em cada linha escrita e em cada palavra narrada.

— Então vamos tirar isso a prova. — ele rapidamente se levantou da minha cama — Tire suas roupas.

Ainda um pouco confusa o obedeci. Me sentei e retirei meu vestido.

— Tudo prima, como veio ao mundo.

Mesmo me sentindo totalmente exposta, foi exatamente o que fiz. Ao final de tudo eu iria provar a ele que nenhuma das minhas escritoras favoritas eram mentirosas. Então, tirei meu sutiã e calcinha e mantive de pé em frente a ele. Ele me olhou da cabeça aos pés, se aproximou do meu corpo e lentamente me empurrou para que eu me deitasse.

— Você não se parece muito com as mocinhas dos livros, já prova que tudo é mentira.

— Isso não prova nada Miguel, — fervorosamente defendi meu ponto de vista — cada pessoa é diferente da outra. E você não vai tirar suas roupas também?

— Não vejo necessidade, não sou eu que preciso descobrir a verdade por aqui, e sim você.

Então, optei por não discutir, pois, com certeza seria ele a descobrir que estava errado.

Desconcertadamente meu primo se colocou por cima de mim, não da forma que eu esperava como acontecia quando o mocinho se aproximava de sua escolhida. Miguel apenas abaixou um pouco de suas calças com uma mão ao mesmo tempo, em que se apoiava no colchão com a outra bem próximo de minha cabeça, puxando um pouco de forma dolorosa meus cabelos. Enquanto eu me distraia tentando puxar todos os fios presos por debaixo da mão dele, Miguel simplesmente entrou em mim, sem nenhum preparo, nenhum beijo quente, nenhuma carícia que me preparasse para minha primeira vez. Apenas a ardência e o incômodo de ser invadida de forma tão seca e repentina.

Sem ao menos me perguntar se eu estava bem após sua entrada em minha intimidade, ele apenas continuou com seus movimentos de entra e sai, e em poucos minutos que para mim, pareceram incontáveis e infinitos, ele gemeu ao pé do meu ouvido e se afastou, pondo-se de pé ao lado da cama. Me olhou de forma satisfeita, recolocou seu short no lugar e saiu do meu quarto. Deixando para trás uma adolescente atônita, com uma virgindade quebrada e sonhos derramados em um lençol levemente manchado de sangue. Não consegui esboçar nenhuma reação, nem de prazer e nem de ódio, apenas uma dor vazia e latente.

Destinos CruzadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora