Capítulo 1 - Huting.

220 9 16
                                    

"FUGINDO"

12 DE DEZEMBRO DE 2023.

LOS ANGELES, CALIFÓRNIA.

6H43MIN PM.

Ouvia-se o bater das portas da vizinhança, o aviso da mãe ao filho que jogava a bola laranja numa cesta improvisada no quintal verde. Ela pedia ferozmente que ele se abrigasse. Espiei para o lado contrário, lá estava Lis, minha colega de colégio, colocando um cadeado em sua janela. Do lado de dentro. O pai de família da casa ao lado estacionava o carro. Desceu com a arma em punho. Puxei ar com força, torcendo para que tal objeto na mão do homem fosse apenas para defesa pessoal, e não para purificar-se. Meus olhos voam acima das árvores, vejo a avenida principal que costuma estar movimentada, no dia de hoje, vazia.

De repente, soando como uma grande maldição, a voz grave atravessa o pequeno rádio o qual deixei ligado, dando-nos o aviso:

15 minutos para purificação anual.

Fechei os olhos, novamente, despreparada para viver as 12 horas de terror que são as da purificação anual.

Com o objetivo de diminuir o alto indice de violência no país, no dia 12 de dezembro, a partir das sete da noite, o ilegal é permitido. Absolutamente todo tipo de violação da lei, incluíndo homicídio. É isso mesmo. Durante doze horas, você tem todo e total direito de machucar, torturar, ou matar quem você quiser. E embora tal ideia soe absurda, ela realmente funciona. A taxa criminal caiu demais. Mas nós não ficamos a mercê do crime. Junto com a tal lei, surgirá também aquela que obriga os cidadões americanos a instalarem em suas casas, alarmes de segurança. Este é o escudo daqueles que não irão a caça no dia da purificação.

Porém, como eu costumo dizer, nem tudo são flores. Com a lei da purificação assinada, os mais atingidos foram os menos afortunados. Aqueles que não tem a menores condições de se manter realmente seguros no dia mais perigoso do ano. Já se fez ouvir histórias em que estes foram brutalmente arrancados de suas famílias para que um alguém mais poderoso pudesse purificar-se em cima de sua vida. E aí está. Este é o motivo pelo qual eu não apoio tal lei. Afinal, se ela não cobre a todos da mesma forma, não é justa. E se não é justa, não vale a pena.

— Ei, Lena — a voz fina fez-se ouvir, e antes mesmo que eu pudesse me virar, Beverly já estava puxando-me pelo braço. — Largue desta janela e desça. Não viemos passar a noite do expurgo contigo para que você nos deixe para bancar a vadia antissocial!

Eu ri. Beverly e eu éramos melhores amigas deste que nos entendiamos por gente, e eu nunca havia visto-a tão empolgada como para a noite daquele dia. Não só ela, como também todos os amigos o quais convidei para sobreviver a esta noite comigo, uma vez que meus pais e meu irmão mais novo decidiram apreciar este feriado de longe, especificamente em outro país.

— Achei que tínhamos conversado sobre você me chamar de vadia — Arqueei as sobrancelhas numa expressão divertida, porém ela revirou os olhos.

— Ah, cale a boca e venha se empanturrar de doces enquanto assistimos o noticiário — seus dedos finos de unhas perfeitamente pintadas puxaram-me quarto a fora — Eu amo assistir ao vivo a caça. É como um filme de ação em tempo real.

Soltei o ar dentre os lábios com força. A forma como os adolescentes referiam-se ao dia da purificação como "dia de caça" causava-me repúdio.

— Não sei como você consegue dormir depois de ver milhares de pessoas que provavelmente tinham familía, morrerem brutalmente — eu lhe disse em tom grosseiro, embora soubesse que ela não dava a miníma.

12 HOURS - JELENA.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora