Cap. XIII: LEMBRANÇAS, PERGUNTAS, SURPRESAS

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Apesar daquela nossa adorável amizade... Com exceção de August, que ainda me visitava na loja da minha avó e também se deu bem com Robert, eu perdi todos os meus amigos, e somente os professores falavam comigo.

No entanto minhas recentes descobertas já não me deixavam ter tempo para meras intrigas adolescentes. Portanto, na companhia de August e Robert dei aos meus colegas todo o espaço de que precisavam para viverem suas vidas pacatas.

Éramos um trio inseparável desde que Tomiko desapareceu, porém quanto às descobertas no laboratório e no apartamento do professor Newton, ninguém mais sabia além de Robert, e eu.
Bom... Era o que nós dois achávamos!

Duma forma que eu jamais previria, o destino me mostrou o quanto eu estava certa sobre os versos que escrevi, logo no início deste meu diário.
Aquelas perguntas que tanto frequentavam minha mente quase todos os dias, agora pareciam encontrar um caminho que embora tortuoso, começava a fazer algum sentido.

A parte boa daquilo tudo, naquele presente momento, era ausência de Kirsten. Como não estava na cidade, ela não precisaria fingir para o irmão dela, preocupando-se talvez, com ao fato de que sequer simpatizava comigo, apesar daquele ultimato que ele deu nela.

Na verdade, me lembro que mesmo com todas as provocações ela jamais encostou em mim. Até ficamos cara a cara uma vez, mas algo pareceu intimidá-la e ela recuou com a gangue das amiguinhas dela.

Eu não fiquei muitos dias na mansão dos Bullen, pois precisei ir para minha casa, ver como estavam as coisas.

Na tarde do mesmo dia em que retornei, a diarista contratada por minha avó acabara de sair. Caminhando pela cozinha fui até o balcão onde encontrei várias correspondências. Contas, faturas de cartões de crédito, todas pagas inclusive, mas nada da minha avó, nem mesmo um bilhete, um SMS, um hangout, nenhuma mensagem sequer no Whatsapp, Skype, Facebook, Instagram... Nada!

Também chequei meus e-mails. Sem sucesso! Minha avó literalmente havia desaparecido.

Tomei um café da manhã, com cereais e uma vitamina de frutas vermelhas, ali mesmo, de frente para uma janela panorâmica que dava para a frente da casa, curiosamente voltada para o rio e para a floresta, onde havia uma piscina com piso verde.

Algum tempo depois, saí da casa um pouco, e tentando refrescar minha mente agora repleta de informações me sentei ao sol, bem na beira da piscina. O dia, apesar de ensolarado estava frio, então não arrisquei pular na água, como costumava fazer quando era mais nova.

Naquela manhã, pude perceber como o ativismo cotidiano me impedia de enxergar a beleza do lugar onde eu morava, e ali mesmo, permiti que minha mente divagasse um pouco, me fazendo lembrar de como me divertia em meio a todas as árvores, roseiras multicoloridas e sempre floridas, e até de como me pendurava para pegar maçãs, bem no meio do quintal.

Numa noite fria e distante, ainda criança, me lembro de ter sonhado que caía do alto da macieira, porém, algo amorteceu minha queda. Parecia pêlo negro, macio, e era quente. Só que fui acordada pela minha avó, já que estava atrasada para ir a escola. Por alguma razão jamais contei esse sonho a ela, apesar da riqueza de detalhes e realismo absurdos.

Passei dias perturbada com tudo que vi:

Uma casa idêntica ao chalé onde morávamos minha avó e eu, porém tudo parecia antigo demais, quase... Medieval ao redor. Da macieira eu me lembro que pude ver um vilarejo distante. Lá não parecia haver nem mesmo luz elétrica.

Na verdade, eu parecia estar bem no quintal de casa, porém no século quinze!

Me dava medo lembrar daquilo tudo... Bem ali; na minha casa, estando sozinha e confusa.

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADOWhere stories live. Discover now