Cap. I: DESPERTAR

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À minha volta, meus colegas e outros alunos conhecidos e desconhecidos conversavam sobre tantos assuntos que decidi não prestar atenção em nenhum deles.

Confesso que naquele dia me lembro de ter esbarrando em uma garota pálida, um tanto confusa e de pouquíssimas expressões faciais.
O mais estranho é que senti que deveria dizer algo a ela, talvez algo importante, ou não, um... Pedido de desculpas é claro já que acabei fazendo com que derrubasse um refresco no qual escorregou e caiu sentada vestindo nada menos que uma calça branca.
No entanto... Ela sequer levantou a cabeça e apenas gesticulou rispidamente para que eu me afastasse, enquanto tentava ajudá-la e todos apenas riam da situação.

Não sei, simplesmente não me lembro com exatidão do que eu fiz, ou do que houve depois, porém apenas me lembro de que seu nome no crachá era Stephenie.
Cheguei a perguntar para as pessoas sobre ela no dia seguinte, mas era como se nem tivesse existido. Talvez ela até tenha se mudado de escola.
Ela parecia tão introvertida e deslocada, como se não quisesse interagir com as pessoas à sua volta, ou simplesmente não gostasse de falar com ninguém.

Mas... com o passar dos dias, o que não me saiu da cabeça foi aquele mesmo Volvo preto que por uma estranha coincidência... De repente ultrapassou o ônibus pela direita e entrou velozmente numa bifurcação à esquerda.

Irritado, o condutor ainda falou alguns palavrões por causa da ultrapassagem arriscada que o motorista do esportivo fizera, mas eu estava estranhamente encantada.

Fiquei imaginando para onde aquele automóvel luxuoso teria ido.

Havia mais carros esportivos na escola. Alguns de meus professores e colegas tinham Porshes, picapes e outros carros de marcas famosas, mas por alguma razão aquele Volvo prendeu totalmente a minha atenção. Precisava saber quem o dirigia, ou se talvez levava alguém, com quem num futuro próximo eu possivelmente teria uma ligação mais que especial.

Ao longe então, vi minha casa, ou melhor, parte dela que já surgia enquanto o ônibus fazia uma curva acentuada na estrada serpentiforme e subia por um pequeno declive.

Vi surgir uma muralha de arbustos, e depois um portão médio e enferrujado, mas o ônibus logo virou em outra curva e as árvores tomaram toda a vista.

No entanto minha casa; uma mistura bastante excêntrica de chalé com sobrado, não era próxima da estrada e num dado momento, quando todos já tinham descido do ônibus em suas respectivas paradas, eu vi que finalmente havia chegado no meu ponto.

- Muito obrigada, senhor Jacob! - agradeci descendo do ônibus já parado à frente de uma trilha pela qual eu ainda precisava caminhar para chegar em casa.

- Até amanhã, Srta. Redine. - o motorista respondeu fechando as portas do ônibus que logo ganhou a estrada, desaparecendo numa neblina que já se formava.

- Enfim... Sozinha! - Suspirei caminhando pela trilha tranquila, iluminada e colorida por um agradável crepúsculo que poderia ser eterno, de tão agradável.

Eu gostava de ficar sozinha, sem todas aquelas pessoas conectadas à internet ao meu redor.

Me lembrei da cidade onde eu e minha avó morávamos antes de nos mudarmos para aquele lugar. Não se via tantos eletrônicos, e tanta tecnologia, na verdade as mulheres ainda usavam saias rodadas naquele vilarejo, mas agora tudo estava diferente:

Celulares, tablets e outros dispositivos eram maiores que algumas peças de roupa que minhas colegas usavam.

Interrompendo minhas reflexões interiores sobre os tempos modernos, voltei minha atenção à floresta que me ladrilhava.

O sol perdia o brilho, e o calor agradável diminuía na paisagem azulada que já ganhava forma ao meu derredor.

Um pequeno e ainda não extinto vagalume passou voando por mim, quando cheguei à frente de um pequeno poste muito antigo, e aceso.

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADOWhere stories live. Discover now